terça-feira, 26 de abril de 2011
O 25 de Abril
As recentes declarações de Otelo («não fazia o 25 de Abril se soubesse como o país ia ficar») tiveram o mérito de me esclarecer sobre aquilo que faz com que eu não adira de alma e coração às comemorações anuais: a imensa nostalgia que a multidão carrega só pode ser explicada através de um sentimento de perda ou falhanço semelhante à de Otelo. Não digo que todos os que celebram «Abril» são saudosistas do PREC e da grande revolução socialista que não chegou a acontecer, mas reparo que o grau de entusiasmo pelo 25 de Abril vai aumentando à medida que aumenta também esse sentimento de «aqueles foram os melhores dias das nossas vidas (depois veio a realidade e lixou tudo)». O que quer dizer que o grau de entusiasmo pelo «25 de Abril» não é totalmente coincidente com o grau de entusiasmo pela liberdade. Eu celebro o 25 de Abril como data essencial para a liberdade do povo português ao mesmo tempo que condeno as celebrações do 25 de Abril como promessa de uma utopia que não chegou a ser. E na rua há demasiada gente com Otelo.