terça-feira, 30 de novembro de 2010

A fé do ateísmo

Hitchens, sem surpresas, foi o grande vencedor da noite que acabou com 32% da audiência a favor da bondade da religião e 68% contra.

A Palmira, sem surpresas, fala do que não sabe (ou então é apenas desonesta). À entrada para o debate, a plateia estava assim distribuída:

A favor: 22%
Contra: 57%
Indecisos: 21%

À saída, depois do debate, surgem os números apontados pela Palmira:

A favor: 32%
Contra: 68%

Ou seja, o que aqui temos é um distribuição absolutamente cristã dos indecisos: dos 21% de indecisos iniciais, 10% foram a favor da moção e 11% contra (como há um arredondamento à unidade, podemos estar perante uma distribuição 10,5 / 10,5). Isto, para a Palmira F. Silva, representa uma grande vitória de Hitchens.

Por amor de Deus.

Portanto, calem-se

Desemprego na Alemanha cai para nível mais baixo em 18 anos

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Lourenço Viegas

O que é isto? O que é isto? Vou ali matar-me, pronto, está decidido.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

As contas fabulosas de Carvalho da Silva

Vamos lá então. Carvalho da Silva diz que «aderiram à greve mais de três milhões de trabalhadores». Carvalho da Silva diz o que quer, mas é nossa obrigação fazer algumas contas básicas. Primeiro, os dados:

População de Portugal: 10.645.383
População Activa: 5.582.700
Desempregados: 608.514 (831.822 real)
Número de empresas em Portugal: 348.994
Independentes: 424.285

Partindo do princípio de que as 348.994 empresas portuguesas têm um patrão cada uma, o número de pessoas passíveis de fazerem greve em Portugal é o seguinte:

5.582.700 - 831.822 -348.994 - 424.285 = 3.977.599

Ora, destes três milhões, novecentos e setenta e sete mil, quinhentos e noventa e nove trabalhadores, há que estimar uma percentagem de pessoas que, não aderindo à greve, não foi trabalhar devido à greve dos trabalhadores do sector dos transportes. Para efeitos desta nossa conversa aqui, digamos que essa percentagem é de, hum, 24,577% (ou seja, 1 em cada 4 trabalhadores tentou ir trabalhar mas não conseguiu). Não parece descabido. Assim, temos mais este dado:

Estimativa do número de trabalhadores que não foram trabalhar devido à greve dos trabalhadores do sector dos transportes e não porque «aderiram à greve»: 24,577% x 3.977.599 = 977.574

Estamos então em condições de apresentar o número de trabalhadores (empregados por conta de outrem) que trabalharam efectivamente em Portugal no dia 24 de Novembro de 2010 segundo Carvalho da Silva:

3.977.599 - 977.574 - 3.000.000 = 4.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A cimeira

Na rádio, há três assuntos que concentram todas as atenções dos jornalistas:

1. Saber quem vem, quantos vêm, onde ficam, o que comem, como se deslocam, a quem deram beijinhos, se gostam de croissants ao pequeno-almoço;

2. O trânsito.

3. As contra-manifestações: os malucos anti-NATO têm tanto tempo de antena como a cimeira em si (ainda agora no noticiário das 14h00 a reportagem de maior duração foi sobre umas conferências quaisquer quer iriam juntar 200 pessoas anti-NATO, «inclusivamente estrangeiros»; o porta-voz elaborou demoradamente sobre a «forte possibilidade» de desarmamento nuclear dos EUA.)

Tanto? Tanto, não: menos. Ainda não consegui saber o que está em causa nesta cimeira. Mas já sei, claro, que Durão vai «chegar de carro eléctrico».

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

«Olá»

A primeira palavra (enfim, a consoante não está lá mas adivinha-se) do meu filho. E repete-a, «óoá», «óoá», «óoá», como que a lembrar que ele chegou ao mundo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Paulo Bento

Forever.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

E se isto não é de ir às lágrimas então o que é

Isto ao vivo é tão bom como imaginámos

The Walkmen

Se eu mandasse todas as bandas seriam como os Walkmen, todos os álbuns se chamariam Lisbon, e todas as primeiras partes seriam feitas pel'Os Golpes.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Os mercados

Our very own Rogério Casanova está agora no Ípsilon, uma transferência que, desde já, fez baixar os juros da dívida portuguesa, convenceu um jogador do Barcelona a vir para o Benfica, e juntou uma pequena multidão no Saldanha em ovação (mesmo estando a temperatura nuns gélidos 16º):

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O sapato de Ezra Koenig



Ah pois é.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A funcionária da EMEL

Às vezes deixo o meu filho em casa dos meus pais. É frequente não haver lugares para estacionar perto da porta do prédio («perto da porta do prédio», isto saiu-me assim sem esforço, atenção), pelo que sou forçado a um comportamento que não me orgulha: deixar o carro em cima da passagem de peões com os quatro piscas. Não demoro mais de cinco minutos, mas ainda assim sei que ao fazê-lo estou a ser um selvagem. Mas hoje, gloriosamente, havia um lugar que prontamente aproveitei. Demorei os mesmos cinco minutos e, quando voltei, tinha uma funcionária da EMEL à minha espera com uma multa. Moral da história? Não, não é esse que vocês estão a pensar. Acontece que esta funcionária da EMEL era uma cidadã de leste que apresentava um desempenho estético muito pouco consentâneo com aquilo que esperamos de um funcionário da EMEL. Além de impossivelmente bonita, foi absurdamente simpática: quando me viu chegar ao carro sorriu, mostrou-me o papel com a multa já passada e explicou «deixei o seu carro para último, mas já não pude esperar mais». Ainda respondi qualquer coisa antes de cair em mim. Não é todos os dias que acontecem pessoas assim. Eu deveria estar agradecido por haver pessoas assim a passar multas da EMEL. Porque, e era aqui que eu gostaria de chegar, esta funcionária da EMEL não era apenas alguém abençoado pela mãe natureza (obrigado mãe natureza), isso foi apenas uma coisa que lhe aconteceu, mas era alguém que não dormia à sombra da bananeira: ela estava pintada como se fosse à ópera (eu ouvi distintamente a orquestra). Não sei se perceberam: isto é uma pessoa que se levanta todos os dias para passar multas de estacionamento e perde tempo de manhã para se pôr bonita (algo que, imagino, não lhe requer muito esforço). Cavaco, está aqui uma condecoração por dar.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Manuel Cintra Ferreira (1942-2010)

Obrigado ao Futebol Clube do Porto

O meu filho deitou-se nos 2-0 e só acordou às 7:00. Isso mesmo: pela primeira vez na vida dormiu 11 horas seguidas. Ou seja, pela primeira vez em sete meses eu dormi oito horas seguidas. Cabeça limpa é o que se precisa.

(Parece que Villas Boas veio dizer que esta vitória foi um «grito de revolta contra o que se passou no ano passado». Acho isto profundamente deselegante para Jesualdo, que acabou de ser despedido do Málaga. Há que saber ganhar, André.)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Bom dia

- Depois da exibição do Casillas ontem nunca mais digo nada do Roberto.

- Alguém deveria explicar ao meu filho que a hora mudou.

- Não sei se vos disse, mas no outro dia vi dois deputados do CDS no Continente (cada um com a sua família, nas compras).

- Foi no Continente de Telheiras; não sei se vos disse, mas não gosto mesmo nada de Telheiras. Telheiras - e aqui não distingo entre a «parte velha» e a «parte nova» - é o exemplo de como nós não sabemos planear subúrbios como deve ser. Aquilo é uma plantação de edifícios altos e feios sobre uma malha urbana absurda (é só rotundas e pracetas) com passeios de 2,5 metros de largura, passeios esses, ou não estivéssemos em Portugal, já cheios de carros e pilaretes verdes para impedir os carros de estarem onde as pessoas querem que eles estejam. Porque é que aquilo não é um bairro simpático, com jardins e edifícios baixinhos, hã?

- Há uma ruralidade latente em todo o português. Ando a pensar muito nisto há algum tempo e bate certo. Explica a falta de amor que temos pela cidade e pela vida urbana, e a falta de civismo que daí nasce. O civismo é uma coisa urbana, não é rural. O civismo é sermos bem-educados com qualquer pessoa com quem nos cruzemos na rua, sobretudo quando são anónimos, pessoas que não sabemos quem são. O civismo é percebermos que há outras pessoas ao nosso lado que também estão a tentar viver as suas vidas, e que devemos contribuir para facilitar essas vidas. No campo, no meio rural, não há civismo porque toda a gente sabe quem toda a gente é, isto é, a familiaridade destrói o anonimato, que é o mais bonito do civismo. O português não é cívico; é mesmo anti-cívico. Quem tem carta de condução sabe o que digo. Foder os outros parece ser o que motiva o português a sair da cama, porque está convencido de que o andam a foder a ele (este é um ciclo vicioso fácil de entender). Isto acontece porque o português, no fundo, não gosta da cidade. Despreza a cidade, acha-a um mal menor, é apenas o sítio onde arranjou emprego mas mal possa volta para a terra, para a casa com a horta, para o campo de onde a sua família veio mas que entretanto também já está todo fodido. Isto entristece-me. A cidade é a invenção mais bonita da humanidade, e custa-me vê-la tão mal tratada. Custam-me, doem-me, os passeios de Lisboa, as caleiras das árvores de Lisboa, os carros por todo o lado, a Rua Castilho e a Av. Álvares Cabral só com uma faixa por causa do estacionamento em segunda fila. Espero que seja uma questão de geração, isto, e que com o passar do tempo se vá perdendo de vez este apelo pelo campo e que as pessoas decidam de vez ser urbanas e deixar o campo para as empresas agrícolas e seus funcionários, e que se acabe com este novo-riquismo da segunda casa, do casebre para onde as pessoas fogem ao fim-de-semana porque ficar aqui é que não, isto é mau demais. Espero, mas não estou a ver isso a acontecer.

- Fui cortar o cabelo. Reparo que começam a ser menos frequentes os comentários sobre os meus cabelos brancos. Isto significa que começo a ter uma idade mais compatível com cabelos brancos. Eles já não surpreendem. Foda-se.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Márcia



Isto é muito bom.

Lourenças

A Máxima deste mês (qual é o problema?) ensinou-me que a Agustina tem uma neta chamada Lourença que também é escritora, deu-me a oportunidade de lembrar a minha mulher que Lourença era o nome de uma das avós da Agustina e não só uma das suas personagens, e revelou-me que Lourença, a neta, «não sente a pressão de ser neta da Agustina». Mas isso é lá com ela, cada um sabe de si.

(Cruzando algumas fontes, chega-se à conclusão de que os avós maternos de Agustina eram Lourenço (Guedes Ferreira) e Lourença (Agostinha Jurado). Acho isto muito bonito.)

A academia portuguesa sobre o Tea Party

Na TSF oiço um professor de teoria política descrever o movimento Tea Party como «populista» e «profundamente demagógico» porque «se opõe a todas as medidas do governo democrata de Obama». Não gosto do Tea Party (por causa dos malucos de pistola em punho e bandeira dos EUA na testa) apesar de ter simpatia ideológica por algumas das suas posições, mas não deixo de ficar perplexo pela facilidade com que alguém arrisca a sua reputação académica com apreciações deste género, sobretudo porque em Portugal há um partido populista que se opõe a todas as medidas do partido do governo (seja ele qual for) e que não é tão rápido a ser apelidado de «profundamente demagógico» por professores de teoria política. Faz lembrar um pouco a crítica de cinema: quando a obra é portuguesa, há sempre nuances que atenuam o seu falhanço; quando a obra é norte-americana, é sempre o reflexo de uma sociedade primária, inculta e estranha, cujo sucesso comercial é um atestado à sua própria estupidez. Noutro plano, é também um exemplo em como o esforço para se perceber as «especificidades culturais» fica à porta dos países mais ricos que Portugal. Não deixa de ser uma atitude muito provinciana, mas é o que temos.

Adenda: Parece que o Filipe ouviu o mesmo que eu.