quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?*

O post do maradona intitulado «Era» é mais ou menos o artigo que o mesmo maradona fez publicar ontem no jornal Metro e que eu tive o prazer de ler. Não sei se é a primeira vez que o maradona fez isto, mas foi a primeira vez que notei. Não é o primeiro blogger a fazê-lo e não será o último. Contudo, o maradona inverteu a lógica dominante neste tipo de promiscuidade auto-plagiadora: em vez de aproveitar material previamente escrito no blogue, reescreve um artigo de jornal no blogue. Porquê? Porque o maradona sente-se numa camisa de forças sempre que escreve para a imprensa. O post é muito melhor do que artigo impresso, e isso devido apenas a uma frase: «Quem diz que é o futebol que "gera violência" ou é parvo ou é paneleiro.» É por causa disto que o maradona é um grande blogger e nunca será um grande cronista. Felizmente.

*Das mini-entrevistas do Luís Carmelo.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Gb (ou F#)

Apesar de tudo, e agradecendo o facto de perceberes que a ambição de guitar hero está apaziguada (digamos antes frustrada), acho que até podes ter razão: é uma boa ideia forçar a queda do palco daqui em diante. Mas ao contrário da personagem de Woody Allen, fá-lo-ei com a cumplicidade da assistência, numa partilha de uma cultura do falhanço e da fífia que procura a simbiose total entre artista e espectador.

P.S: Como é que 3 guitarristas trocam uma lâmpada? Enquanto um a troca, os outros dois assistem silenciosos, pensando «eu faria melhor».

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

You think I'm funny?



Ontem foi dia de acerto de contas no Kodak Theatre.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Um prego para a eternidade


Sou o gajo que começa o solo (semi-improvisado, decorar solos está francamente fora do espectro da minha habilidade técnica) na nota ao lado. O resto da banda, como se vê, actua na perfeição.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Live Gore

Al Gore, o modelo do político moderno, certamente impressionado com os resultados avassaladores do Live Eight, decidiu organizar uma iniciativa semelhante, mudando-lhe o nome e a causa: desta feita é o Live Earth, e a «pobreza» dá lugar ao «aquecimento global». O buraco do ozono tem finalmente os dias contados. A novidade é que desta vez (por enquanto) não há U2. Ou seja, tudo boas notícias.

Uma carreira perdida na poesia

Da edição de hoje do jornal A Bola:

O feixe de luz ainda queima os olhos de Petr Cech, a Europa merecia que aquela nave espacial revestida a couro não esbarrasse numa trave insensível, mas os poderes sobrenaturais do mustang mágico e mutante não podem continuar escondidos, o FC Porto vai ter de convencer um sindicato bancário para o segurar. Indecente a forma como os árbitros permitem que se vá às suas pernas como quem abate árvores, lamentável jogo sujo de Diarra e Essien, mas o que sobra ainda são os números surrealistas de Quaresma.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Enfim, já me subsidiavam o blogue

O Vasco sabe que eu tenho uma esquerda fraca e vai daí joga quase todas as bolas para aí. Reconheço que a minha amostra de teatro e cinema luso é quase tão má como as das sondagens daquele tipo do Sporting que disse em directo na Sic-Notícias que «com 90% de certeza, John Kerry será o novo presidente dos EUA». E, ainda mais grave, é óbvio que não «tenho competência» para os avaliar, aliás, não tenho competência para quase nada, o que não me impede de ir fazendo algumas coisas. Impede-me, sim, e com muita pena minha, de escrever alguma coisa que se veja sobre a política de subsídios às artes. Por isso fico-me na questão das vanguardas. Vasco, quando a vanguarda é apenas uma atitude que não chega a deixar pegada histórica a questão da «qualidade» terá de surgir mais tarde ou mais cedo. E as pessoas como VPV ganham o direito de questionar a política dos subsídios. E quanto à poesia, à música e às artes plásticas, acho que o caso não é o mesmo. Primeiro, porque a quantia dos respectivos subsídios é bastante menor (penso não estar a dizer um disparate); segundo, porque felizmente apesar (ou por causa?) disso, a penetração social de cada uma delas é significativamente superior à do cinema e do teatro (exceptuando os exemplos comerciais, bastante vergastados pela crítica). A questão não é fácil, e reconheço que artisticamente há coisas boas que não são financeiramente viáveis a curto prazo, e aí o Estado pode e deve intervir. Mas num país tão pequeno como o nosso em que toda a gente é cunhada ou vizinha do outro, as coisas tendem facilmente para o livre arbítrio e para os amiguismos. Enfim, já me subsidiavam o blogue.

O Último Rei da Escócia



Forest Whitaker (um personal favorite) numa África descontrolada e violenta. Obikwelu dizia numa entrevista há semanas que em África a violência tem um grau de intensidade que não é sequer entendível na Europa, uma violência quase sub-humana e sempre absurda. É essa violência que nos assalta n'O Último Rei da Escócia. Não é um grande filme, mas tinha um objectivo a cumprir e fê-lo decentemente. É mais um objecto para nos fazer lembrar como decidimos (porque só pode ser uma decisão) ir esquecendo África aos poucos, abandonando-a a essa violência cuja distância é suficiente para não nos incomodar.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Movimentos de vanguarda há muitos

Quando VPV diz que uma orquestra tem de saber tocar uma sinfonia e um pianista tem de saber tocar piano, esquece os movimentos de vanguarda, que usam - na música, nas artes plásticas, na poesia - códigos incompreensíveis para o cidadão comum.

E não é vanguarda quem quer. Isso tem muito que se lhe diga, e não é bem assim. Entre o que diz VPV e o que diz Vasco Barreto não pode viver um vazio. A vanguarda só deve ser apelidada de «vanguarda» a posteriori, depois do juízo do tempo. Quem o fizer ao vivo e a cores está a cometer uma farsa, ou a expressar um desejo. É como aquela pergunta que um dia fizeram a Louis Kahn, se ele poderia explicar como iria ser a arquitectura do futuro. Ao que ele respondeu que se soubesse fá-la-ia nesse momento. Uma pescadinha de rabo da boca, um paradoxo. Temos de aguardar com serenidade, mas por enquanto estou com VPV: a generalidade do cinema e do teatro luso é uma merda.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

A Igreja e o resultado do referendo

Pacheco Pereira, numa nota muito acertada:

Há alturas em que se percebe muito bem por que razão a Igreja sobrevive no tempo. A análise que a Conferência Episcopal portuguesa faz dos resultados do referendo é um excelente exemplo de ponderação e de atenção à realidade e à mudança. Contrariamente ao que toda uma escola de ressentidos do "não", muito representada nos blogues "de direita", faz, a Igreja afirma haver significativas mudanças de mentalidade na sociedade portuguesa, identifica essas mudanças pela maior importância dada à autonomia individual (não usa este termo, mas quase), dá importância ao resultado, tenta compreender o "sim" sem anátemas, nem minimizações. É por isso que vai continuar a ter um papel decisivo, diferente do passado, mas fundamental.


Eu acrescentaria que neste caso não se trata da «Igreja», mas sim da Conferência Episcopal, que reúne homens como D. José Policarpo e D. Carlos Azevedo, de onde pode muito bem vir o tom «ponderado» do comunicado. Digo isto não como crítica à Igreja, mas sim como elogio à Conferência Episcopal.

O princípio da incerteza



The first point to make is that the word «banal» is difficult to use because it always defeats itself. It is an impossible word. If you want to condemn or praise something for being banal, that thing is no longer banal.
(...)
If «banal» is a label applied to a building, a painting, a person, a situation, a conversation, or a conference, it is a unique kind of label that actively transforms whatever it is applied to. It is precisely the word for a quality that is there before you before you point, before you look too directly. The banal is exactly that which you do not face. So, a conference panel devoted do «facing the banal» will necessarilly destroy its own subject.

Mark Wigley, no Porto, a 02.06.2001, numa conferência dedicada ao tema «Facing the Ordinary», originalmente intitulada durante a troca prévia de emails como «Facing the Banal»

Papéis de diferentes tamanhos

Há uma série de assuntos que tenho aqui anotados em papéis de diferentes tamanhos que merecem atenção: Carmona e a CML; o bom artigo no ipsilon de hoje sobre a arquitectura de baixo custo; a demissão da direcção do DN (o 24 Horas não interessa); e a entrevista a Ana Tostões e a uma italiana de cabelo curto que agora não me ocorre sobre o Do.Co.Mo.Mo na Arquitectura e Vida; e o álbum dos Oioai. Fica tudo a boiar, menos a entrevista da Ana Tostões que, apesar de ser a responsável por quase tudo o que sei sobre a arquitectura moderna, tem de ser comentada, vergastada, parodiada, assinalada, marcada a preto. Me aguardem.

E agora, Mark Wigley.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

I do have a few thoughts jotted down on different sized pieces of paper



I am happy to be here - in this astonishing city and this enjoyable event - but I am not sure that I can offer much here at the very end. (...) What could be added? I do have a few thoughts jotted down on different sized pieces of paper.

Mark Wigley, no Porto, a 02.06.2001

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Mark Wigley on tour

A Trienal de Lisboa é uma iniciativa da Ordem dos Arquitectos que visa criar em Portugal um evento arquitectónico (trienal) de escala internacional. Não sei muito da coisa, e não tenho nenhuma opinião relevante a dar (acho bem). O que me leva a escrever um post sobre isto é o programa das conferências (pdf). Naquilo que se poderá interpretar como uma espécie de reedição das conferências de 2001 da Prototypo, vão por cá passar Luis Fernández-Galiano, Jean Nouvel, Steven Holl, Françoise Choay, Zaha Hadid, Emílio Tuñon e Jacques Herzog, só para citar os mais badalados. Mas aquilo que me deixou extasiado e com vontade de ir a correr imediatamente para a bilheteira garantir o lugar é a presença de Kenneth Frampton e Mark Wigley, os dois homens de Columbia. Mas sobretudo Mark Wigley. Dia 31 de Maio. Ide e vereis como tenho razão.

Nos próximos dias postarei uns trechos da conferência de Mark Wigley no Porto, em 2001. Só para aguçar o apetite.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

A velha e boa Lisboa

O DN de ontem publicou os resultados do referendo relativos às várias freguesias de Lisboa (coisa que não vi no Público). Mais do que simples contabilidade eleitoral, e mais fortemente do que numa eleição partidária, esses números são um interessante reflexo urbano-sociológico. Cruzados com outras tabelas (PIB per capita, resultados das legislativas, dimensão média dos fogos, número médio de filhos, etc, etc) poderiam ser um acutilante retrato de quem votou «não» e de quem votou «sim». Gostava de ter tempo (falta-me o tempo, o cabrão) para me debruçar sobre isso. Infelizmente vou ter de me contentar com uma leitura superficial. E essa leitura superficial só acentua (e prova?) os vários estereótipos mais comuns. Por exemplo, adivinhem em que freguesia obteve o «não» uma votação mais expressiva?

Barack?

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Mafalda Miranda Barbosa

11 de Setembro, 11 de Março, 11 de Fevereiro. Datas manchadas pela morte!

Mafalda Miranda Barbosa, no blogue do não

É urgente saber quem é Mafalda Miranda Barbosa. Já a googlei, ó se a googlei, mas só encontrei referências ao aborto. Mafalda Miranda Barbosa, MMB, a Mafalda, a Barbosa. Quem é? De onde vem? Que idade tem? Gosta de peixe cozido?

A Mafalda Miranda Barbosa, agora mais a sério, restabeleceu alguma paz dentro de mim. Depois das Marias Teresas Hortas, dos Franciscos Louçãs, dos Jerónimos de Sousas, das Odetes Santos e, sobretudo, da Edite Estrela, uma pessoa vacila. Vacila, interroga-se, reflecte, abana-se (mas se calhar foi só do tremor de terra que ocorreu agora mesmo, deve ser Deus a manifestar-se contra o resultado do referendo, pensará neste preciso momento Mafalda Miranda Barbosa). Indefinidamente? Não. Há sempre uma Mafalda Miranda Barbosa para nos ajudar.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

«A grande maioria dos católicos votou sim»

Francisco Louçã, reconhecendo que Portugal é um país de maioria católica.

Venci, mas não me convenci

Ganhou o grupo em quem votei, mas não sinto que haja alguma coisa para festejar. Como diz JPP, gritar vitória é um absurdo. Fechemos a página. O país recomeça.

Direito ao contraditório

Cumprindo o direito ao contraditório, a pluralidade de opiniões, a isenção ideológica exigida ao bloguista, aqui está.



Veneer, do sueco José Gonzalez, um óptimo álbum com uma capa de merda.

Dia de opinião

Então, vamos lá votar.



Na imagem, a capa do mais recente álbum dos Bloc Party. O álbum é uma bela merda, as coisas têm de se dizer, mas a capa é um acontecimento por si só. E não, ó comichosos da CNE, não tem conotação política.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

A Coluna Infame foi modificada

Quando o Pedro Mexia e o Pedro Lomba remavam para o mesmo lado, o resultado era frequentemente inspirador. Agora, devido a uma questão pontual, estão momentaneamente de lados opostos e desataram a falar um com o outro. Meus amigos: é agarrar as cadeiras da primeira fila.

Como já devem ter reparado, estou particularmente orgulhoso com o título deste meu post.

Bandeira

mais do que um fumador me perguntou (nervosamente) qual a maior diferença entre o antes e o depois. Não sou capaz de lhes mentir. A vida de fumador seria talvez mais curta, mas sempre tinha intervalos.

José Bandeira é dono e senhor de um dos mais subtilmente sublimes blogues portugueses.

Perdido por um, perdido por mil

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Qual é o mal em ter heróis?

FLW



«In his undiminishing power he resembles a giant tree in a wide landscape which year after year attains a more noble crown.»

Mies van der Rohe, após saber da morte de FLW

Fazer rir

Já agora, e porque aqui estou, o assunto que pôs o Ricardo Araújo Pereira de novo na blogosfera: a polémica com Paulo Pinto Mascarenhas. Pondo de parte os exageros estilísticos próprios e desejáveis em qualquer polémica que se preze, devo dizer que o Ricardo tem toda a razão. Não tanto pelas razões que invoca (julgo que não precisava de provar nada), mas pela génese da questão. Não faz qualquer tipo de sentido dizer que o Gato Fedorento não pode fazer humor com um assunto que esteja na ordem do dia e que tenha uma conotação política sem executar o devido e famigerado contraditório, que foi o que insinuou o Paulo Pinto Mascarenhas (entre outros). Exigir imparcialidade política ou ideológica ao humor é um absurdo e, como se isso não bastasse por si só, há que reconhecer que o Ricardo, ao dar publicamente a cara nalgumas iniciativas de um determinado partido (que me repele totalmente, já agora) assume com honestidade essa parcialidade, se quisermos. Mais: pela (ainda curta) carreira do Ricardo e do Gato Fedorento, já toda a gente percebeu que eles põem, sem hesitar, a piada à frente da causa. O lema parece ser (e bem) tudo por uma boa piada. Sobretudo (arrisco) se a piada nos puser a rir de nós próprios.

Errata

Acabo de reparar que o comentário que fiz entre parêntesis no post anterior pode ter uma interpretação errada. Isto é, pode sugerir que o Gato Fedorento a que me refiro é um dos membros do quarteto e que o mesmo é o Ricardo Araújo Pereira, insinuando que o único dos quatro rapazes «que interessa» é o Ricardo. Não foi isso que quis dizer (nabice). O que quis dizer é que o «Gato Fedorento» que interessa é o blogue, e não tanto o Gato Fedorento da televisão e dos anúncios. Foi isto que eu quis dizer.

Oh happy days

O Gato Fedorento (aquele que interessa) está a dar uns ares da sua graça.

Agrada-me se eles aqui voltem. Agrada-me também que mantenham o blogue amador e descuidado (graficamente) como sempre: faz-me lembrar o tempo em que eu era olhado com suspeita por falar com tanto entusiasmo desse tal de «Ricardo Araújo Pereira», e que perdia amigos cada vez que tentava explicar o que era um «blog» (era assim que se escrevia, até o Pacheco Pereira ter inventado a palavra «blogue».)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Retrato

A minha manhã

Concorda com a despenalização da interrrupção voluntária da vida do funcionário público, quando realizada, por opção do cidadão, a partir das 2 horas de permanência em estabelecimento de finanças devidamente indentificado, desde que cumpridos os mínimos sádicos exigidos para deleite dos demais utentes da repartição?

Sim. Há que acabar com este flagelo.

A blogosfera é isto, meus amigos

Andava à procura das entrevistas de Frank Lloyd Wright a Mike Wallace, mas parece que as ditas estão no circuito comercial e à venda na Amazon e fora do YouTube. Mas não se perdeu tudo, porque me deparei com esta entrevista a Nikos Salingaros, no 2Blowhards. Faço notar que só tive tempo para ler estas duas primeiras respostas, mas hão-de concordar que a coisa promete:

2Blowhards: How do you react to contemporary architecture?
Nikos Salingaros: Contemporary architecture is all wrong. Since the 1920s, all they have been saying is based on myth and superstition -- there has been not a single verifiable and testable idea. When you try to verify or test them they all break down and are shown to be false. The field for 80 years has been based on falsehoods.

2B: But for 80 years these people have been flourishing. That's a kind of Darwinian triumph, no?
NS: They're doing well because from the 1920s architects caught on to how to propagate ideas without the ideas necessarily being true. Le Corbusier was a self-made propagandist who worked in advertising more than in architecture. He published an advertising magazine, and was a pioneer in advertising and propaganda more so than in architecture. He was one of the original people who developed methods of propagating ideas mainly by visual means. And these things catch on. We have the whole advertising industry which promotes things that are either useless or harmful to our health. But we buy them because there is a science of advertising, of brainwashing people to create a demand for a product that's not needed or to promote a product that's damaging by encapsulating it with something that is attractive.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

A arquitectura sopa de letras

Portugal precisava de mais gente como Nuno Portas, e a arquitectura de hoje precisa certamente de mais gente como Nuno Portas (ver abaixo). Há que bater mais nisto em que se transformou a arquitectura e o urbanismo, neste fenómeno tão volátil como a moda (pegar na roupa em gesto de desprezo, sff), numa sucessão de acontecimentos pifiamente vanguardistas. E o urbanismo, transformado em panfletos pós-aldeia global, manifestos que anunciam a transformação das «vias» e dos «espaços canais» devido à internet e aos telemóveis. É preciso mais Nunos Portas para nos falar das «ruas» e das «praças», dos valores que permanecem imutáveis na arquitectura (sim, porque, inacreditavelmente para alguns, também os há) e nas cidades, daquilo que tem força suficiente para ser passado de geração em geração e que, como diz Portas, constitui a linguagem e a gramática sobre a qual construímos frases para nos entendermos. Porque isto, estes «blocos» fotogénicos plantados nos verdes prados e publicados nas croquis desta vida, é uma sopa de letras que não fazem sentido, e que já começa a saber a azedo.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

O Portugal De

Só para dizerem que eu não faço «serviço público»:

Nuno Portas
D. Manuel Clemente
Miguel Esteves Cardoso

(Foram os que consegui pescar. A RTP não deveria disponibilizar isto facilmente?)

«Se quiseres, depois eu explico»

Via Tiago Galvão: Vasco Pulido Valente.

(E caro Tiago: a minha mulher não só me deixa ler o Diário, como lê e incentiva a leitura do E Deus Criou a Mulher. Estamos conversados?)

Sociedade

Chegámos a um estado maior da maturidade. O assunto era o aborto e o ambiente hostil, mas resistimos estoicamente: nada dissemos.

Gostava de conhecer quem é que inventou a regra que nos impede de discutir política e religião à mesa: preciso de umas sugestões de alternativas.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Edit

Ontem, no Descubra as Diferenças na Rádio Europa, João Pereira Coutinho elaborava sobre a «delicadeza» do aborto, dizendo que era um assunto que devia ser pegado «com pinças». Logo pinças, JPC?

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Perspectivas



«Well, this is what you get for leaving a work of art out in the rain.»

Frank Lloyd Wright, respondendo a um cliente que se queixava das várias infiltrações que a sua casa apresentava quando chovia.

«Voto sim»

Uma crónica de Vasco Pulido Valente sobre o referendo, perfeita, um exercício quase poético onde cada palavra está no sítio certo, cada argumento na sua justa medida:

A actual lei portuguesa sobre o aborto não respeita aquilo a que os partidários do "não" costumam chamar "o valor absoluto da vida": admite o aborto em caso de violação, malformação fetal e grave perigo para a vida ou a saúde física ou psíquica da mãe. A lei que resultará de uma vitória do "sim" também não vai "liberalizar" o aborto ou estabelecer o "aborto a pedido", como por aí se pretende, visto que não o permite a partir das dez semanas de gravidez. Fora isso, e para levar as coisas um pouco mais longe, podemos dizer que a pílula contraceptiva (que, na essência, é uma pílula abortiva) e a "pílula do dia seguinte", que manifestamente o é, deviam ser incluídas na campanha do "não" (como, de resto, acontece na doutrina católica); e que as "dez semanas", um prazo de uma certa arbitrariedade, deviam ser alargadas para, por exemplo, 12 ou 14 ou que fosse. O mal do referendo está, e sempre esteve, no facto de que as pessoas nunca, ou quase nunca, discutem, informada e razoavelmente, os méritos da questão a voto e que depois nunca, ou quase nunca, votam sobre ela. Votam em nome de um princípio religioso, de uma ideologia ou de um sentimento. Se têm "razões", têm "razões" fabricadas para a circunstância, que não se aplicam, ou só com muito boa vontade se aplicam, ao problema em causa. Pior ainda: o motivo mais comum para votar "sim" ou "não" é da relutância (ou o medo) de não seguir o grupo a que imaginariamente se pertence: a Igreja, a direita, a esquerda, a profissão ou a família. A "consciência" de que todos falam, e muita gente exibe, não passa disso. Ou, pelo menos, muitas vezes, não passa disso. De qualquer maneira, e apesar do alarido geral, a pergunta do referendo é limitada e concreta: quer, ou não quer, o eleitorado acabar com o aborto clandestino até às dez semanas de gravidez? Nada mais. O "não", sem defender o regime presente, alega que esta medida irá aumentar e "normalizar" o aborto. E, para evitar esse perigo, aceita que milhares de mulheres paguem um preço de sofrimento e de humilhação (a maioria infelizmente por ignorância e miséria). O "sim" prefere acabar com o mal que vê e pensar depois no mal que vier, se de facto vier. O referendo é um acto político, que se destina a mudar a sociedade (idealmente, para melhor) e não resolver um debate. Claro que, se o "sim" ganhar, o Estado, na prática, "oficializa" o aborto. Mas triste de quem espera do Estado uma fonte de legitimidade moral. Por mim, não espero. E voto "sim".

Via Bomba Inteligente.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Finíssimo gosto

Entretanto, a Carla Hilário de Almeida Quevedo escreveu lá na sua coluna da Atlântico que o melhor blogue português é o -censurado-*, mas quem está em destaque no blogue da Charlotte é aqui o burgo. E em belíssima companhia. É uma honra.

*Se a Charlotte não o quer divulgar no seu blogue, eu também não o faço aqui, respeitando a lógica comercial da coisa, até porque gosto de ler a Atlântico e não me vem nada a calhar que a revista acabe por falta de leitores.

Silêncio procura-se

Como seria de esperar, infelizmente o debate sobre o referendo implodiu. Já ninguém se entende, já quase todos deitaram o bom-senso pela janela. Agora já só interessa tentar gritar mais alto do que o adversário. O debate de ontem entre César das Neves e Daniel Oliveira foi a gota de água para mim (César das Neves disse o que já se esperava; Daniel Oliveira só se interessou em atacar a posição de César das Neves, numa lógica puramente destrutiva e falsamente indignada, própria do Bloco de Esquerda). A minha decisão está tomada há muito mas não pretendo convencer ninguém. Retiro-me, portanto, modestamente do assunto. A lei eleitoral diz que a véspera é dia de reflexão. Sobre o aborto a «véspera» devia ser extendida ao mês anterior. Voto em consciência? Para isso seria necessário conseguir ouvir a dita.