sexta-feira, 29 de junho de 2007

Lombada

A Laura quer saber os últimos 5 livros que li, curiosidade que me lisonjeia. No entanto, esbarro numa technicality: não está claro se se deve incluir os títulos cuja leitura não se levou até ao fim. Como não consigo lembrar-me dos últimos 5 livros que acabei (seria necessário regredir no tempo até aos meus tempos de solteiro, algo a que já me desabituei de fazer), ignoro esta falha no programa de concurso e deixo aqui a minha lista, acompanhada por breves comentários de influência marcelista:

- O Pequeno Livro do Grande Terramoto, Rui Tavares (um belo levantamento histórico salpicado por parágrafos de boa análise política)
- Our Gang, Philip Roth (tem conseguido arrancar-me gargalhadas no metro)
- The Plot Against America, Philip Roth (vergonhosamente abandonado sem motivo aparente, provavelmente voltarei à carga)
- A Long Way Down, Nick Hornby (não é o melhor Hornby, longe disso, mas vai dar o melhor filme desde High Fidelity)
- A Baía dos Tigres, Pedro Rosa Mendes (corrente)

E assim cumpro a formalidade e passo a outro e não ao mesmo (espero). Pedro Lomba, Filipe Nunes Vicente, Vasco Barreto, jMAC, Bruno Vieira do Amaral: indulge me.

Nós e a Europa

Nunca saberemos

Viveríamos melhor num mundo sem religião? Poderíamos viver num mundo sem religião? Não sei, mas duvido. Sei é que nunca vivemos e nunca viveremos.

Pedro Lomba

Filmes



The Dead Girl, um filme anglo-saxónico e logo a «antítese do pensamento».



Transformers, um filme-pipoca cheio de efeitos especiais, entre eles, como notou a minha mulher, Megan Fox.

Pedro Mexia sobre John Mclane.

O Casamento

O Eduardo Nogueira Pinto faz perguntas pertinentes sobre o alargamento do reconhecimento civil a casamentos religiosos para além da Igreja Católica. Apesar de eu concordar com a lei, acho esta decisão não se pode basear apenas num bem intencionado ecumenismo tolerante. Como nota o Eduardo, o modelo civil do casamento em Portugal é um decalque do modelo católico e, portanto, quando esse modelo civil começar a entrar em confronto com os vários modelos religiosos, o que fazer? A questão não é fácil, e não se trata apenas de «liberdade religiosa».

quinta-feira, 28 de junho de 2007

É experimentar viver 10 anos seguidos em Lisboa

(...) Sempre que afirmo preferir Lisboa a Nova Iorque, toda a gente acredita, excepto os lisboetas. O problema dos lisboetas é nunca terem vivido fora de Lisboa. Não me refiro a 10 dias de férias em Nova Iorque ou em Paris, essa outra mítica metrópole. Passem 10 anos fora e depois conversamos. (...)

Vasco vou ali de férias até Dezembro acabar um romance olha ups estou de volta Barreto

P.S: Aqui há génio: Friday evening: weather forecast is good and it will only rain on Monday. I assign a summer student an insane amount of work to be accomplished during the weekend. In the evening I go to Central Park and I run the big loop; I see fireflies in courtship rituals, extenuated runners doing essentially the same and other fine specimens. Finishing in less than 42 minutes—a personal best—I’m still in time to come home, change and catch a performance of Bach’s Brandenburg concertos at Lincoln Center, my favorite concert hall here. Then I meet some friends for drinks in the East Village; the taxi driver that takes me there is from Senegal and we discuss music and French politics on our way downtown. None of my friends gets excessively drunk and I meet an old one from elementary school who made it here and now owns a two star restaurant; he tells me I have to try his tasting menu for free and gives me his phone number. Saturday: I wake up at sunrise and I go sailing on a friend’s boat with a bunch of people. No one gets seasick and I even manage to save one of the girls from drowning; she is a heiress of a great fortune and gives me an open invitation to spend the summer in her Hamptons’ house, but I politely decline because that would interfere with my future humanitarian work in Africa—I get the feeling she is impressed. A huge brunch follows, in Brooklyn. Later we go to the theater, it’s a Off Off Broadway show but none of the actors is fully naked, they don’t throw water at us, and the plot follows the laws of logic; we leave slightly disappointed and decide to go for dinner in Greenwich Village. Sunday: there is an important soccer match in Europe, which I follow while having breakfast in a pub on the Upper East Side. The New York Film Festival is still going on so and I get to see the latest Almodovar and in the Q&A session that follows I ask Pedro if “dinero,” a lizard from one of his early movies, was molested during the shooting; I can feel the tension in the room while he answers, I had clearly touched a nerve of our collective consciousness that not even a New Yorker journalist had come upon. In the evening I go to one of the shows from the Flamenco festival and I get home broke and exhausted, but before falling asleep the phone rings. It is my student. He speaks broken English and the connection isn’t good, but I get the impression we’ve done something remarkable. I go to sleep thinking that a cure for cancer is just a few cloning steps ahead. My student had actually destroyed some important stocks and that’s why he was so agitated, but I would only find out this in the morning and by then the weekend would be over.

O cinema anglo-saxónico

Acabei de ouvir no Rádio Clube Português um entendido em cinema a falar sobre o mais recente filme de Manoel de Oliveira. Isto depois de ter recomendado o Die Hard 4, «um filme que não é intelectualmente estimulante», mas que se vê. Sobre o filme de Oliveira, claro, ficámos sem perceber nada. Já sobre o público português, ouvimos a ladaínha do costume: falta de cultura, não percebem o grande génio, as gerações futuras irão dar razão ao mestre, enquanto que esses filmes que hoje são êxitos de bilheteira rapidamente são esquecidos. Pergunta João Adelino Faria: como se explica que os filmes de Manoel de Oliveira sejam sempre um êxito em França? O crítico explica. O cinema de Oliveira é muito dado ao «pensamento» e a outras coisas que não me recordo agora, mas que são comuns ao cinema francês e que «são a antítese» (sic) do «cinema anglo-saxónico». Mas, como vimos, são o pão nosso de cada dia em casa do nosso crítico, sobretudo aquela parte do, como era, pensamento.

Ainda melhor do que aquela manchete sobre o Totti



Eu não sei se vossas excelências repararam na subtil subtileza que é esta manchete: não sei quê no plantel principal. Plantel principal? Principal do quê? É claro que o sério seria noticiar: Benfica quer Ricardinho no plantel de futebol de onze. Pois, assim já não parece tão boa ideia, era capaz de não vender tantos jornais. Tirando o Sporting, que já teve no seu plantel um velocista dos 100 metros (Ouattara) e um jogador de futebol de praia (Dominguez), acho que este tipo de promiscuidade inter-modalidades não tem história em Portugal, e não lhe auguro grande sucesso. Mas pelo menos não podemos acusar o Record de não ser honesto: está lá bem em cima, História Record (produção, argumento original, banda sonora.)

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Commons

Tony Blair despede-se, emocionado, perante um parlamento de pé. Se eu lá estivesse também me levantaria de bom grado. Que nos sirva de exemplo.

Novas oportunidades

Circula pelas rádios um anúncio do DN que começa do seguinte modo:

«Se tens até 30 anos e estás à procura do primeiro emprego, (...)»

Isto é democracia mas só para alguns

E a mim, ninguém me convida para um programazito de rádio sobre a blogosfera?

Gostos não se discutem

As 7 maravilhas do mundo vão ser anunciadas no Estádio da Luz, mas o Sporting não se pode queixar: o seu estádio consta nesta curiosa lista do Público, os 7 horrores de Portugal. Gracejos à parte (porque o facto de se ter escolhido o Estádio da Luz como palco da cerimónia e não como candidato a maior maravilha do mundo só pode mesmo ser uma piada de mau gosto), esta lista do Público deixou-me um bocado perplexo. Se há ali coisas mais ou menos consensualmente horrorosas (Praça do Martim Moniz, Centro Comercial Colombo, Shopping Cidade do Porto, Igreja do Santo Condestável, Feira Nova em Chelas, Sede da Caixa Geral de Depósitos, ou o Cristo Rei, por exemplo), outras só lá estão pelo carácter humorístico da sua nomeação. Bem, uma coisa é certa: todas as maravilhas são históricas, e todos estes horrores são obras do século XX (tirando a Capela dos Ossos). Ou seja, não vivemos tempos interessantes.

terça-feira, 26 de junho de 2007

O canudo

Anoto, com curiosidade, que a informação relativa às jornadas parlamentares no site do CDS-PP apresenta como orador do dia de hoje o «Dr. Pedro Mexia».

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Prós e Contras - dizem que no Dubai também

Ora bem: Fátima Campos Ferreira está a simular uma pronúncia do Porto; Rui Rio tem toda a razão em tudo o que diz, menos se disser alguma coisa que contrarie o que disser Belmiro: nesse caso quem tem razão é Belmiro; e o Filipe Nunes Vicente já disse o que eu tinha a dizer sobre o Carlos Magno (não estou só a retribuir o link, a minha mulher está aqui ao meu lado e é testemunha.) De resto, houve um professor não sei de onde que disse que o único cluster (parece que é um cereal) que o Porto tem digno de investimento é a «Universidade». Isto, disse-o, com Belmiro a observar, note-se. Ah, e o Carlos Magno, a propósito da Casa da Música, disse que quando o Porto não olha a «economicismos» faz coisas bonitas. Dizem que no Dubai também.

O Arraial Pride

Sou a pessoa mais indicada para falar do Arrail Pride: aquilo passou-se praticamente à porta de minha casa (mas julgaram que era porquê?) O facto de não ter estado em casa durante o evento foi apenas obra do acaso, garanto. Mas quando voltei, duas e tal da manhã, ainda a festa de fazia sentir. Ora bem: eu também não gosto do modelo. Acho, numa opinião que não deseja ser doutrina, que aquilo não faz muito sentido e que, mais importante, não é positivo para os «direitos dos homossexuais», na medida em que só acentua alguns atritos. No entanto acho que não há razão para negarmos o direito à comunidade homossexual de se manifestar com aquela exuberância, até porque são evidentes os motivos que os levam a fazê-lo. O homossexual é discriminado socialmente e tem uma vida que não é fácil. Negar este facto é uma loucura. Perante esta diferença (que é mais agressiva do que, por exemplo, a diferença racial) é normal que se queira lutar pela sobrevivência, em vez de se ficar em casa recatado, envergonhadamente. Ou seja, os arrais homossexuais são um pouco como as investidas dos mísseis israelitas: não concordamos muito com o modus operandi, mas compreendemos bem as angústias que lhes dão origem.

Claro que sim

Acabo de ouvir o Dr Fernando Negrão a afirmar no RCP que a EPUL é a empresa abastecedora de água da cidade de Lisboa e que o IPPAR deve ser extinto. Esteve 5 minutos a falar do tema. Foi-lhe perguntado duas vezes se estava, de facto, a falar do IPPAR ao que ele respondeu: “claro que sim”.

Pedro Marques Lopes

Confundir EPAL com EPUL não é assim tão mau, sejamos compreensivos. E quanto ao IPPAR, ele já foi extinto de facto, de um certo modo.

Mister Berardo

(...) É uma oportunidade para visitar gratuitamente a exposição inaugural do primeiro museu de arte contemporânea a abrir em Portugal desde Serralves, em 1999, mas não será a última. Ainda hoje, durante os discursos de abertura, Joe Berardo deverá anunciar isto: que todos os funcionários públicos portugueses, tal como os sócios de qualquer clube de futebol da primeira liga, terão entrada livre até Dezembro. Serão parte dos 400 mil visitantes que o museu espera fazer por ano.

"Ninguém vai poder dizer que não vem ao museu por falta de dinheiro", dizia na semana passada Joe Berardo. Sentado à secretária do que foi, durante mais de uma década, o escritório da direcção do Centro de Exposições do CCB e é hoje um dos escritórios da Fundação de Arte Moderna Colecção Berardo, o investidor e coleccionador madeirense diz que não faz qualquer sentido pensar no retorno financeiro de entradas em museus portugueses: "Vai-se a Washington e os museus não são pagos. As pessoas, incluindo a ministra da Cultura, é que ainda não perceberam que é preciso criar nas novas gerações o vício de melhorar a sua cultura. Mais vale arranjar sponsors do que arrecadar os peanuts das entradas. Deixem entrar as pessoas! Se o nível de vida português começar a melhorar, então está bem. Para já, vamos dar água a quem tem sede". (...)

Público

Por muitos defeitos que lhe possam apontar, eu não consigo deixar de gostar deste homem. E hoje há festa.

domingo, 24 de junho de 2007

Esquizofrenia radiofónica

Ontem, às 14:48, a TSF passou de Pólo Norte para Arcade Fire.

À deriva

Mesmo contra as minhas repetidas objecções, o blogger insiste em apresentar-se em português. Para quem ainda não reparou, ou não sofre desta inesperada maleita, a palavra «post» aparece traduzida por «mensagem». Assim. Mesmo depois de muitos terem avançado a palavra «poste» (que sempre me fez espécie, confesso) a equipa do Google decidiu-se por «mensagem». Assim sendo, fez no passado dia 14 quatro anos que ando a enviar «mensagens» para o (quase) desconhecido. Em papéis dentro de garrafas.

Primeiro o Barreiro, agora Sacavém, Pedro?

Há sempre aquele momento em que o intelectualzinho chomskiano, que consome clichés sofisticados como outros consomem couratos, diz com estardalhaço: «esta merda qualquer dia rebenta». Aquilo a que ele chama com olhos esbugalhados «esta merda» é a democracia capitalista. A esperança em que «esta merda» rebente é o seu único oxigénio. O chomskiano de Sacavém está impaciente por que «esta merda» vá pelos ares, esta «democracia formal» e esta «ditadura do mercado», quanto mais não seja para vingar os enxovalhos que os seus regimes favoritos sofreram. Já só lhe resta o galhardo coronel Chávez, ao chomskiano de calça curta, e na impossibildade de termos um aqui («até o Otelo já é empresário»), ele espera pacientemente que «esta merda» expluda. Todas as coisas más que acontecem são coisas boas que se anunciam, porque, naturalmente, a culpa de tudo é «desta merda» e os amanhãs já gorjeiam no olho remeloso do chomskiano. Um mundo que começará quando «os culpados desta merda» forem finalmente «responsabilizados» pelos seus «crimes contra a humanidade». Muito gosta este politólogo manhoso de poesia e de fuzis.

Pedro Mexia

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Está mal

Entretanto, lá nos Estados Unidos, os internautas escolheram como hino de campanha de Hillary Clinton um tema de Céline Dion. Parece-me óbvio que isto foi resultado de vandalismo organizado por parte dos republicanos, o mesmo fenómeno, aliás, de que está a ser alvo o Daniel Oliveira, lá com os nacionais renovadores.

Nota

Quem acha que tem graça, facilmente cai na graçola. Pode ter acontecido isso no post A Condordata e Margarida Moreira, e juro que não inventei nada disto. A verdade é que a coincidência aí relatada foi um acontecimento extraordinário que provavelmente pede um pouco mais de talento para a trabalhar. E a boa educação do leitor que me apanhou não merecia que se pudesse confundir a minha tentativa de ironia com um tom mais chocarreiro (confesso que tive de ir ao dicionário.)

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Por eso ahora vamo’ a bailar para cambiar esta suerte

O defeso. Oscar Cardozo. Estamos nisto.

Deus queira que o Miccoli não vá para o Porto

Caro, essa manchete não falava só do Totti: avançava também com o nome de um avançado do Real Madrid (coisa que o Tote, de facto, era): Raúl. Sim, sim, e argumentavam essa hipótese durante dois parágrafos inteiros.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

«Os blogues são uma vergonha»*

Sócrates apresenta queixa-crime contra António Balbino Caldeira. Mesmo que haja fundamentos jurídicos para o processo, isto é um enorme tiro no pé por parte de José Sócrates. A sua inabilidade política começa a ser constrangedora. Felizmente, para o bem da democracia, temos uma oposição ágil e activa (suspiro).

* Do nosso Procurador-Geral, claro.

terça-feira, 19 de junho de 2007

O arquitecto liberal

João Luís Ferreira em tríptico obrigatório: O Liberalismo e a Arquitectura, 1, 2 e 3. A verdade é que não tem sido fácil conjugar as duas palavras, mesmo por quem o quer fazer desesperadamente (olá). O texto de JLF, sobretudo nas suas segunda e terceira partes, explica o que se passou nos últimos anos no campo da arquitectura e lança uma crítica feroz ao actual estado das coisas e a quem gosta de acusar o «liberalismo» de todos os desastres:

Os arquitectos, espelhos do seu tempo, parecem hoje distantes do concreto existencial em que a vida das comunidades, das cidades ou dos povos se desenvolve. Filhos do internacionalismo estilístico e de uma tecnologia sem fronteiras, actuam sem referência ao que, antes, era fonte e expressão de harmonia. Actuam, sobretudo, em nome de si próprios. É certo, que são sedutores e surpreendentes, pelo menos num primeiro olhar, mas sente-se que cada vez mais produzem todo um tipo de bizarrias que, verdadeiramente, só interessam a si próprios (e, talvez a presidentes de câmaras ou de repúblicas), as quais acabam por ser anuladas, no palco que são as cidades, por outras bizarrias equivalentes. Mas entre bizarrias e voluntarismo, vai-se destruindo e matando o espaço público como espaço de expressão não da personalidade de um arquitecto mas da singularidade de uma comunidade, de um povo ou de uma história, de uma cultura ou de uma civilização.
Percebe-se muito bem, que tanto o direito como a arquitectura lidam com este difícil mas indispensável equilíbrio entre a necessidade de interpretar o que é comum e deixar a liberdade de actuar no que não ponha em causa o compromisso que está na origem da vida em comunidade e que é a garantia da sua perduração. O que é errado é chamar liberalismo a todo o tipo de bagunça que a falta de lei e da sua aplicação vai semeando nas sociedades contemporâneas. O liberalismo não é apenas uma corrente económica, é o sistema da liberdade económica e política (e, por isso, do direito), é a aceitação de que os melhores resultados saem da possibilidade de cada homem agir segundo as suas potencialidades, interesses e talentos, sem que haja qualquer forma de o limitar nesse movimento em nome de proselitismos ou verdades efémeras. Pressupõe que essa acção, simultaneamente, reconheça os interesses e as expectativas do outro: o saber do direito e o saber da arquitectura formaram-se nesse reconhecimento.
Pode o mundo, não perceber os limites e o interesse deste compromisso, mas confundir o livre-arbítrio infinito e a liberdade é um erro que a humanidade já devia ter superado. Porém, perante o cenário em que a arquitectura se exerce como prática dos arquitectos, há dificuldades metodológicas que se lhes apresentam diariamente. O entendimento vulgar de que a arquitectura exige espectacularidade, leva a que aquela ideia de continuidade que sempre existiu nas cidades se perca e todos os edifícios requeiram excepcionalidade, visibilidade e diferenciação. Os arquitectos que se distinguem no panorama internacional são estrelas que pairam acima dos comuns mortais e que lhes impõem obras bizarras que o gosto frágil vai aceitando, incorporando e, por fim, exigindo. Vemos aqui e ali resistências, outras práticas, mas sentimos que a pressão do exemplo do star system (e do circo mediático que o valida) a educar as novas gerações que um dia pensarão a arquitectura como uma arte plástica ou uma arte de espectáculo, vai dissolvendo a substância disciplinar da arquitectura. Veremos, ou antes, já vamos vendo, as cidades a indiferenciarem-se porque ninguém as pensa como o lugar onde o homem encontra a proporção da relação da sua subjectividade com o que universalmente faz dos homens seres afins. Parecendo favorecer o individualismo está a matá-lo. Como vai matando as cidades e a Liberdade.

Fica por saber e defender o que pode ser um ordenamento jurídico do território e um corpo teórico de arquitectura que assentem em pressupostos verdadeiramente liberais. Confesso que tenho tido dificuldade nesta tarefa, mas este texto de JLF já é um avanço. Pena é que as escolas de arquitectura continuem a ser covis ideológicos absolutamente paralisantes, onde se continua a ensinar o «Modernismo» como uma verdade científica e alimentar uma cultura de impunidade crítica aos autores consagrados (ver o texto sobre a exposição de Álvaro Siza no Ípsilon do passado sábado). Um dia lá chegaremos.

O pequeno grande livro

- Mas quem é o Rui Tavares?
- Amor, é o Rui Ramos da esquerda.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

A Condordata e Margarida Moreira, e juro que não inventei nada disto

A propósito do meu primeiro post da série Fragmentos ao almoço, recebi o seguinte email, de um leitor devidamente identificado:

(...) Era eu. O mais baixo. Foi perto da Avenida da República, certo?
Discutia o esbulho liberal portugues e como, na itália, isso tinha sido expressamente resolvido da concordata de 1929. (...)

Após a recepção desta correspondência, a série ficou interrompida para análise. Já convoquei a minha equipa jurídica. Corro obviamente riscos indesejados, e o fantasma de Margarida Moreira paira sobre a blogosfera. Aguardemos.

P.S: O leitor avançou a informação de que é leitor deste blogue «há muito». Isto é, ou o sitemeter anda a mentir, ou todos os meus leitores são vizinhos, o que não deixa de ser curioso. E também revelou que não é o frequentador do Snob que deu origem ao post do Pedro Mexia. Ou seja, como eu já suspeitava, há pelo menos duas pessoas em Lisboa a falar de Latrão, o que não deixa de ser muito curioso.

domingo, 17 de junho de 2007

Papá Quebec 2

O objectivo era escrever um texto humorístico sobre o assunto: o carro foi-nos rebocado no dia 12 de Junho, véspera de um Santo António agitado aqui na Baixa. Acontece que não contámos com a incompetência da polícia municipal (bom, é municipal, a incompetência é quase uma condição sine qua non): o motivo da coima não era válido. Estacionar do lado esquerdo da faixa de rodagem, diz no auto, mas em frente ao número assinalado está lá plantado um daqueles sinais azuis que diz «Pê» de, hum, papá, ou Parque, senhores incompetentes. Incompetentes também os agentes do parque dos reboques, que em vez de assinalar «depósito» como motivo de lá termos deixado 90 euros, assinalaram (sim, foi mais do que um agente que tratou do auto, parece que é tarefa de grau de dificuldade acrescida) convenientemente «coima», apesar de nossos repetidos e impecavelmente bem educados protestos e manifestações finíssimas de intenção de impugnação. Ou seja, esta história toda, que ao princípio parecia apenas um excesso de zelo (rebocar um carro num local de estacionamento consensual - dos poucos que não estorvam a vida aos transeuntes e não usam a bela calçada à portuguesa como parque - logo num dia onde qualquer tasca - e aqui há muitas - quer montar arraial para venda de sardinhas e cerveja), transformou-se num abuso intolerável de autoridade. O autuante - que cobardemente não assinou a notificação, que provavelmente é primo do tascante que o chamou e que ainda mais provavelmente recebeu como recompensa um simpático bar aberto na noite folia lisboeta - que não pense que a sua hipotética mulher e manada de filhos servirão como almofada da nossa ira: de uma queixa não se livra. Chamem-nos queixinhas, vá. Vá.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Fragmentos ao almoço (1)

(...) está expressamente na concordata de 1929 (...)

(Dois indivíduos, 30 a 40 anos, de fato escuro e gravata)

Durante o meu curto trajecto na via pública à hora do almoço tenho vindo a aguçar um gosto por captar pedaços de conversa entre transeuntes que circulam na mesma direcção da minha, mas no sentido contrário. Tem sido uma experiência que se tem revelado bastante mais frutífera do que à primeira vista se podia esperar. Não consigo apanhar mais do que pedaços de frases ou expressões, dado que ando depressa e não alimento um espírito cusco: não me interessa aquilo sobre que conversam os meus colegas de passeio, mas apenas a linguagem e as palavras desprovidas de contextualização, apesar de achar importante que se diga quem as disse, numa descrição breve que visa enquadrar a sua idade e aparente colocação social. Esta é uma série cujo período de vida se espera extenso. O título poderá sofrer uma alteração nestes primeiros momentos se me ocorrer algo melhor (sugestões serão bem-vindas para o email acima.)

P.S: Esta primeira recolha revelou-se particularmente feliz. Segundo a Wikipedia, a concordata de 1929 ficou mais conhecida como o Tratado de Latrão, onde se fez o reconhecimento oficial por parte da Itália do Estado do Vaticano, bem como o inverso em relação ao facto de Roma ser a capital de Itália. Mais importante do que isto, lembro-me de um post do Pedro Mexia sobre uma personagem no Snob que terá soltado veementemente a exclamação «Mas se eu te estou a dizer que foi no Concílio de Latrão, caralho!». Enfim, entre o (último) Concílio de Latrão e o Tratado de Latrão medeiam 412 anos, pelo que fica afastada a hipótese de um dos meus transeuntes ser o frequentador do Snob do Pedro Mexia, mas fica-se com a impressão de que há demasiada gente em Lisboa a falar de Latrão. E deixo a minha palavra de honra de que não inventei nada disto.

Do estilo

Quando estou deprimido, escrevo crônicas. Quando estou ainda mais deprimido, escrevo opinião.

Outra estrela rock

Entretanto, hoje parece ser o dia Berardo: pum, pum.

I'm a rock star, baby



Sonho de adolescência número 1 (enfim, 4 ou 5, as hormonas sempre falaram mais alto, há que confessar): ter uma banda rock que passasse na rádio (programa de 9 de Junho - hora 1, lá por volta dos 27:00).

(Na imagem um guitarrista devidamente identificado.)

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Coutinho

Quem lê o livro* das crónicas do João Pereira Coutinho «de uma ponta à outra» sem se rir uma vez, não merece trinta segundos de atenção.

* Estaremos a falar do Vida Independente ou do Avenida Paulista? É que se for o primeiro não percebo mesmo como é possível conter o riso. Se estivermos a falar do segundo, aí continuo a não perceber como é possível conter o riso.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Papá Quebec

(Em breve)

Um modo de ser «verde» a que adiro

Sou biodegradável. Coloquem-me no meio da natureza e eu decomponho-me logo a seguir.

Tiago Galvão

terça-feira, 12 de junho de 2007

Quase um poema

Pára tudo. Se vamos escolher a localização do novo aeroporto com base na toponímia (critério que considero tão ou mais válido do que aqueles que têm sido discutidos - distâncias, custos, estacas, aves migratórias, feng shui, etc), então temos um vencedor antecipado que é quase um poema: Rio Frio.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Stokking*

Esta menina (de 18 anos) diz que não quer ser sex-symbol. Está tão incomodada com a exposição que tem tido que consta já estar à procura de bons consultores de imagem. Cara Allison, nem os melhores consultores do mundo te valerão: do que tu precisas é de uma burka.

* Não pesquisei, mas se fui eu o primeiro a usar este trocadilho, há aí muita gente a dormir.

Da vida de casado

Se dizemos que não queremos ter filhos «para já», olham com compreensão e solidariedade. Quando dizemos que não temos televisão*, o caso é mais grave e os olhares são de incredulidade e consternação. Juro.

* O sinal, porque o objecto possuímos, devidamente ligado ao leitor de DVD, para ver o West Wing e filmes maus como o Deja Vu, com o Denzel Washington e o Val Kilmer, ui que aquilo até mete medo mas por outro lado também podemos ver filmes que se podem considerar obras primas do cinema contemporâneo e quiçá de todos os tempos reparem como esta frase toda não tem vírgulas também quero ganhar o nobel como o director do Sol como é a dupla Flags of Our Fathers e Letters From Iwo Jima e o Noddy**.


** Um dia, quando tiverdes sobrinhos que necessitem de babystiting, ides perceber.

domingo, 10 de junho de 2007

Guilty pleasure



Ocean's 13 apareceu para confirmar que é possível fazer um filme que entretém, sem que para isso se tenha de recorrer a qualquer tipo de surpresa, imaginação, ou vontade de dizer alguma coisa. A fórmula está gasta: estava já gasta em Ocean's 12, mas julgo que concordaremos todos sem dificuldade que podemos ignorar esse pequeno facto. A composição das novas personagens não se desvia um milímetro de grelha conhecida (Al Pacino é agonizante no evidente desperdício de talento, numa personagem em tudo inferior à de Andy Garcia) e o argumento abdica de qualquer tipo de jogo com o espectador, que era o ponto mais forte em Ocean's 11. Até na presença feminina se percebe um alheamento completo do respeito pelo espectador masculino heterossexual: passar de Julia Roberts e Catherine Zeta-Jones para Ellen Barkin é como esperar uma ocasião especial para se comer a mousse de chocolate que se guardou no congelador desde o natal e perceber ao abrir o tupperware que a coisa se estragou e tem de ir para o lixo. Sobram duas horas de caretas estilosas embaladas pela banda sonora esperada que nos embriaga, deixando-nos num estado hedonista de dormência envergonhada. Apesar de tudo, nós gostamos.

Roger Federer como Pete Sampras

Queria só fazer notar que Roger Federer deu mais um passo na sua fulgurante carreira, mais um exemplo como está decidido a ficar na história como o jogador que mais contribuiu para a dignificação do ténis, ao recusar-se, mais uma vez, a ganhar Roland Garros, mais conhecido como o Grand Slam que Michael Chang, Jim Courier e Sergi Bruguera ganharam.

sábado, 9 de junho de 2007

Cascais merece mais

No mesmo suplemento, dedicado à Trienal, José Mateus (o coordenador do suplemento e o comissário da exposição), lembra o «deserto cultural no campo da arquitectura» que foi o concelho de Cascais durante décadas, amarrado ao seu «conservadorismo imobilista». De vez quando adiro sem reservas a esta retórica progressista tão cara aos arquitectos: Cascais, de facto, é uma vergonha, e mais vergonha é quando se lembra a sua enorme beleza natural e o facto de ser o habitat de muita da nossa elite económica que, infelizmente, não é mais do que isso, provinciana e deseducada. Cascais merece mais, e o mais recente projecto de Souto Moura para o Museu Paula Rego pode vir a tornar-se num marco decisivo para a tão afamada «mudança de mentalidades» (um projecto que me parece, pelo que já vi, a todos os títulos notável.)

Só não me recordo do significado de «maoísta»

(...) Recordo-me das grandes manifestações na Praça do Comércio de Lisboa, do extraordinário desenho gráfico dos cartazes maoístas que cobriam os muros, evocando a contundência comunicativa dos primeiros tempos da revolução cubana e a presença ubíqua dos retornados das colónias. (...)

Luis Fernández-Galiano, num texto absolutamente imbecil, no suplemento «Linha» que acompanha o Expresso de hoje.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

O Arquitecto

Ando a ler O Pequeno Livro do Grande Terramoto e estou a deliciar-me com cada página. Mérito também da Tinta da China, talvez a melhor editora nacional, graficamente falando. A verdade é que o livro é bom, muito bom, pelo menos as parcas páginas que já li. O que me deixou, desde logo, interessado em acompanhar futuras publicações de Rui Tavares. Para meu espanto, acabo de descobrir que o seu próximo livro, prestes a ser lançado, se chama «O Arquitecto» e é um relato ficcional sobre a vida Minoru Yamasaki, o arquitecto das torres gémeas. Uma excelente notícia, portanto. Se se proporcionar passarei, amanhã às 17h, pelo pavilhão 166 da Feira do Livro, matando dois coelhos de uma só vez.

Acho que este post está muito mal escrito. Em minha defesa revelo que estou a fazer a lida. Loiça, roupa, you know the drill. Portanto, um pouco mais de paciência estilística comigo. Obrigado.

Provavelmente o melhor jogo de ténis da história

Eu não vi, mas esta meia-final do quadro feminino de Roland Garros entre Ana Ivanovic e Maria Sharapova só pode ser sido um jogo memorável.

273 minutos quase perfeitos



Só para avisar, para quem não viu, que a dupla Flags of Our Fathers e Letters from Iwo Jima já está disponível no videoclube da esquina. Para quem não viu, que os veja, aos dois, um depois do outro. Diz quem o fez que não se arrependeu.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Não celebramos nada

(...) Nós, portugueses, não celebramos nada. Somos ensinados para não celebrar nada. Pior, somos ensinados para uma espécie de vergonha e silêncio. A existência de uma cultura de celebração requer abertura à distinção e à solenidade, coisas que a nossa baixa educação cívica e histórica repele. No ensino ou fora, o português é treinado para desprezar símbolos, memórias, rituais, tudo o que no mundo real das sociedades e das pessoas há de mais emotivo e não racional. (...)

Pedro Lomba

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Em repeat


Eu sabia que aquilo servia para alguma coisa

É com orgulho que digo que a minha mulher tem um mestrado.



Daqui.

O erro gramatical

Vamos então aos factos: às 16 horas e 13 minutos de ontem, dia 5 de Junho de 2007, o blogue «A Causa Foi Modificada» apresentava-se quase na sua totalidade vazio, apenas povoado por um ponto e o ícone do sitemeter, sob fundo branco. O ponto (".") ocupava o lugar do título, estando representado com o tipo e tamanho de letra deste, ou seja, exageradamente grande, o que lhe conferia um carácter gráfico: poderíamos descrevê-lo como um «círculo negro». Imediatamente abaixo, e talvez por preguiça do autor do blogue, o ícone do sitemeter (dos mais feios que estão disponíveis, note-se) rematava e concluía a totalidade do conteúdo da página. Foi perante estas condições que afirmei que o blogue se encontrava isento de erros ortográficos. Porém, e devemos ser rigorosos nestas matérias de finanças públicas, estaria o blogue isento de erros? Teria o maradona positiva naquela prova de aferição? Duvido. Ora pensemos no ponto outra vez. Estou em crer que um ponto deve ser sempre precedido por uma letra ou palavra, como explicado aqui. Quando isso não acontece, i.e. como no blogue do maradona ontem às 16:13, podemos, com uma margem de erro consideravelmente diminuta, afirmar que se está perante um erro gramatical. Mas, por favor não saltem esta linha, eu não percebo nada disto: só sei que «medíocre» leva acento.

Hoje, 2,75€ , e vem com uma revista

terça-feira, 5 de junho de 2007

Lembrete

O eixo mexiano-lombar, sexta-feira, na Rádio Europa, às 19.00.

Clean sheet

Por falar em erros ortográficos: parece-me que é a primeira vez que o blogue do maradona está isento dos ditos.

O cartaz

A Helena faz uma análise imperdível ao cartaz do CDS.

Brincar com coisas cérias

Asenhora menistra da Educação açegurou ao presidente da República que, em futuras provas de aferissão do 4.º e do 6.º anos de iscolaridade, os critérios vão ser difrentes dos que estão em vigor atualmente. Ou seja os erros hortográficos já vão contar para a avaliassão que esses testes pretendem efetuar. Vale a pena eisplicar o suçedido, depois de o responçável pelo gabinete de avaliassões do Menistério da Educação ter cido tão mal comprendido e, em alguns cazos, injustissado. Quando se trata de dar opiniões sobre educassão, todos estamos com vontade de meter o bedelho. Pelo menos.

Como se sabe, as chamadas provas de aferissão não são izames propriamente ditos limitão-se a aferir, a avaliar - sem o rigôr de uma prova onde a nota conta para paçar ou para xumbar ao final desses ciclos de aprendizagem. Servem para que o menistério da Educação recolha dados sobre a qualidade do encino e das iscólas, sobre o trabalho dos profeçores e sobre as competênssias e deficiênçias dos alunos.

Quando se soube que, na primeira parte da prova de Português, não eram levados em conta os erros hortográficos dados pelos alunos, logo houve algumas vozes excandalisadas que julgaram estar em curso mais uma das expriências de mudernização do encino, em que o Menistério tem cido tão prodigo. Não era o caso porque tudo isto vem desde 2001. Como foi eisplicado, havia patamares no primeiro deles, intereçava ver se os alunos comprendiam e interpetavam corretamente um teisto que lhes era fornessido. Portantos, na correção dessa parte da prova, não eram tidos em conta os erros hortográficos, os sinais gráficos e quaisqueres outros erros de português excrito. Valorisando a competenssia interpetativa na primeira parte, entendiasse que uma ipotetica competenssia hortográfica seria depois avaliada, quando fosse pedido ao aluno que escrevê-se uma compozição. Aí sim, os erros hortográficos seriam, digamos, contabilisados - embora, como se sabe, os alunos não sejam penalisados: á horas pra tudo, quer o Menistério dizer; nos primeiros cinco minutos, trata-se de interpetar; nos quinze minutos finais, trata-se da hortografia.

Á, naturalmente, um prublema, que é o de comprender um teisto através de uma leitura com erros hortográficos. Nós julgáva-mos, na nossa inoçência, que escrever mal era pensar mal, interpetar mal, eisplicar mal. Abreviando e simplificando, a avaliassão entende que um aluno pode dar erros hortográficos desde que tenha perssebido o essencial do teisto que comenta (mesmo que o teisto fornessido não com tenha erros hortográficos). Numa fase posterior, pedesse-lhe "Então, criançinha, agora escreve aí um teisto sem erros hortográficos." E, emendando a mão, como já pedesse-lhe para não dar erros, a criancinha não dá erros.

A questão é saber se as pessoas (os cidadões, os eleitores, os profeçores, "a comonidade educativa") querem que os alunos saião da iscóla a produzir abundãnssia de erros hortográficos, ou seja, se os erros hortográficos não téêm importânssia nenhuma - ou se tem. Não entendo como os alunos podem amostrar "que comprenderam" um teisto, eisplicando-o sem interesar a cantidade de erros hortográficos. Em primeiro lugar porque um erro hortográfico é um erro hortográfico, e não deve de haver desculpas. Em segundo lugar, porque obrigar um profeçor a deixar passar em branco os erros hortográficos é uma injustiça e um pressedente grave, além de uma desautorizassão do trabalho que fizeram nas aulas. Depois, porque se o gabinete de avaliassão do Menistério quer saber como vão os alunos em matéria de competenssias, que trate de as avaliar com os instromentos que tem há mão sem desautorisar ou humilhar os profeçores.

Peçoalmente, comprendo a intensão. Sei que as provas de aferissão não contam para nota e hádem, mais tarde, ser modificadas. Paço a paço, a hortografia háde melhorar.

Francisco José Viegas, Omenagem à hortografia, in JN 04.06.2007

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Com um grande pedido de desculpas aos meus vizinhos

Holmes Place - uma história de amor

Nos finais de Março de 2006 dirigi-me ao ginásio Holmes Place com o fim de me inscrever. Queria exercitar o belo exemplar de corpo humano que possuo e o Holmes Place, por ter vários ginásios espalhados pelo país, era o que mais me convinha (sou uma pessoa muito viajada). Fiz a visita às instalações. A coisa agradou-me (apesar de me ter sido negado o acesso aos balneários femininos, coisa que lamentei devidamente). Sentei-me à mesa das negociações pronto a assinar o contrato. Explicaram-me, grosso modo, as condições: mínimo de 12 meses de permanência, 86 euros de mensalidade, oferta da primeira, modo único de pagamento: transferência bancária. Promoção, disseram eles, estamos a oferecer a primeira mensalidade. Boa, pensei, dividindo de cabeça 11 por 12, contente por ver a mensalidade baixar de 86 para 78 euros. Antes de assinar (com sangue, pediam eles, mas eu convenci-os de que o meu sangue estava contaminado com, horror, gordura e grelhados, e lá consentiram que usasse uma Bic) virei a página e comecei a ler as letras pequeninas. A Rita, chamava-se assim o contact marketing-new-prospect-whatever-manager, ao ver-me aproximar a folha dos olhos, exclamou prontamente: O que é que 'tás a fazer? (Foi curto mais intenso, o nosso relacionamento, já nos tratávamos por tu, ou assim o pensava ela.) Eu, ingénuo, coitado, lá disse que estava a ler o contrato que me preparava para assinar. A Rita levantou-se, ofegante, e arrancou-me a coisa da mão, dizendo que ««tudo» o que eu «precisava de saber» estava numa folha A4, com três ou quatro pontos escritos a Arial tamanho 28, onde se dizia, lá está, 12 meses de permanência, promoção oferta da primeira mensalidade. Como nessa altura já incorria no erro de me relacionar intimamente com uma jurista, já me tinha sido explicado que aquela atitude tornaria o contrato nulo. Fixe. O que eu queria mesmo era abater centímetros à cintura, e por isso lá completei o processo. Estava lá dentro.

Nunca mais vi a Rita. Mas passei a ver, numa base regular, a passadeira, o que significou uma melhoria, pois esta fazia mais cerimónia (não me tratava por tu, apesar de eu me pôr em cima dela dia sim dia não). A minha cara de cu fez o resto: não fiz amigos, ninguém me dirigia a palavra, a coisa corria bem. Escusado será dizer que não aguentei. Ao fim de 9 meses (coincidência?) fraquejei. O divórcio estava consumado. Tinha tido a minha dose de chinelos e ministros nus (ui, ganharia direito a uma entrevista no 24 horas se vos dissesse de que ministro se trata, logo agora). Como sou uma pessoa de bem, continuei a honrar o compromisso que fizera. Tinha começado a frequentar o ginário em Abril de 2006 e por isso, chegado a Março de 2007, após ter visto descontada a mensalidade respectiva (o que eu chorei a cada dia 3 de cada mês durante um ano, conto-vos), cancelei a ordem de pagamento e avisei por escrito o ginásio da minha decisão (era um dos requisitos do tal contracto nulo). Bom, visto que não frequentava a coisa ia para 3 meses, pensei que já não me ligariam, que tinha perdido todos os amigos, que era apenas mais um número. Qual quê. Fui prontamente contactado. Ah, rejubilei, não fui esquecido, há esperança para o género humano. Querida, disse eu, são as saudades que te fazem ligar? Mais ou menos, ripostou ela (pela voz percebi que não era a Rita, mas eu nunca fui muito de ligar a nomes), estou a ligar porque falta pagar uma mensalidade. Caiu-me a alma aos pés. Afinal, são todas iguais, só querem o nosso dinheiro. Falta pagar?, choramingava eu com a boca já salgada das lágrimas. Mas eu paguei tudo direitinho, tudo direitinho. Não, insistiu ela, com a crueldade dos insensíveis, o senhor (pronto, até já o tu tinham deixado cair) só pagou 11 mensalidades, falta uma. Claro que só paguei 11, querida (ainda estava em denial), vocês ofereceram-me a primeira, está aqui no papel. Foi aqui que tudo desabou por completo: explicaram-me que essa mensalidade oferecida não era contabilizada para efeitos de permanência obrigatória, como estava explicado na cláusula 485097 do contracto que não me deixaram ler. Traição, foi o que senti, traição fria e crua e dolorosa. Desliguei o telefone, após ter explicado que não iria pagar a tal mensalidade porque não considerava que a devia. Tudo bem, disse ela, num tom que guardarei até à cova. A partir de agora é uma empresa de cobrança de dívidas que o passará a contactar. Passe bem. Olhei para as fotos desse tempo: tudo acabado, terminado, a mal. Não me sentia assim desde que o Rui Costa saiu do Benfica em 1994. Tinha sido tudo tão bonito.

Há 20 minutos recebi o contacto da tal empresa. Já não estou sentimental como dantes. Expliquei tudo. Ela compreendeu mas disse que seria difícil de provar. Eu lá expliquei que havia testemunhas, que eu não estava sozinho quando tudo se passou. Ela (mandam sempre gatas, os sanguessugas) disse que compreendia mas que teria de confirmar com o Holmes Place. Eu avisei que já não era o valor da mensalidade que estava em causa, mas uma questão de honra e diginidade. Não sei se ela percebeu que eu queria dizer «amor», e que recorri ao eufemismo por pudor.

domingo, 3 de junho de 2007

Série «séries»



Por 15 libras, na cd-wow. Sim, os Sopranos, Six Feet Under, mais uma ou outra. Mas esta é a série cá de casa. Agora é juntar todos os cêntimos possíveis porque ainda faltam a sexta e a sétima temporada. Ai.

Tentámos, por mais de uma vez, ver a primeira temporada de 24. Abandonámos o sacrifício. Também o CSI e o Prision Break nos pareceram lamentáveis, sobretudo na ausência de pensamento no argumento. Na adolescência eu via o Baywatch, que sempre me parece mais nobre do que isto, e era mais honesto no uso do silicone. Do Lost nunca vimos um fotograma, pelo que fica o benefício da dúvida.

sábado, 2 de junho de 2007

Albert Hammond, Jr

É a minha mais recente revelação: Albert Hammond, Jr, a solo. O mais interessante é que a sua música não é assim tão diferente da música feita pelos Strokes, como às vezes sucede nestes discos a solo de membros de bandas influentes. É um tom mais melancólico, com mais cedências à pop, com refrões mais embalados e um gosto pela guitarra acústica que não aparece nos Strokes. Mas de resto, não há aqui nenhuma cisão implícita, é mais dos mesmos. Quando eu for grande quero ter um projecto paralelo assim.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Vejam o vídeo mas ignorem a última frase


via Kontratempos

Apoio este vídeo quase na totalidade da sua extensão, mesmo, mesmo, mesmo quase até ao fim. Estava tudo a ir tão bem, com a ênfase a ser posta do lado que quem se aproveita ludicamente do sofrimento da entidade indefesa, com um texto provocatório mas no essencial correcto, e eis senão quando estragam tudo com aquela frase no final: PELO DIREITO À VIDA ANIMAL. Mas o que é isto? Direito à vida animal? Será que as cabecinhas que inventaram o slogan estão também contra os aviários, por exemplo, que nos dão a possibilidade de comprar frango a 2 euros o quilo? Pasmo. Reparo agora que provavelmente isto é verdade. Não interessa. Ainda assim, junto a minha voz à campanha, mas com um grau de adesão e entusiasmo só semelhante àquele que me levará a votar PS para a câmara de Lisboa. As touradas são, como diz o vídeo, uma «tradição» sem sentido, baseada numa suposta igualdade entre o toureiro e o toureado, que contribui para a adrenalina reinante e para a «honra» ou lá o que é, de onde apenas retira prazer quem, de facto, se sente igual a um animal*. Morte às touradas (mas às vacas também, porque quem me tira o bife do lombo, tira-me tudo.)

* Excluo desta afirmação todos os membros da minha família que gostam de touradas que, como facilmente se confirma pelo meu exemplo, são todas pessoas de bem.