sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Já agora



(Já que aqui estamos, peço esta imagem emprestada à Bomba-Inteligente.)

Chame-se a ASAE

Dois acidentes graves na recepção ao caloiro

Nunca mais se acaba com esta vergonha?

Eastern Promises



David Cronenberg usa a mesma receita de A History of Violence: passados violentos que se atravessam no caminho de nice people. Viggo Mortensen está ainda melhor, Maria Bello é substituída por Naomi Watts (let's call it a tie) o interior remoto dos Estados Unidos é substituído por um submundo russo de Londres. O resultado é igualmente bom, mas fica a faltar-lhe o elemento surpresa - percebe-se que é uma variação sobre o mesmo tema e que Cronenberg está com a mão quente. A construção desta pequena máfia russa - ao jeito dos Sopranos, mas com outro sotaque - é requintada e subtil. E parece que a cada fotograma, um por um, se vai reconstruindo as personagens (dos russos, porque as nice people são sempre nice people) nunca deixando o espectador inteiramente confortável, permanentemente desconfiado sobre as consequências físicas e morais daquilo que se vai passando. Pelo meio, uma das melhores cenas de violência dos últimos tempos. Ou seja, um dos filmes do ano.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Do Sucesso

Do Sucesso, por Pedro Lomba, um indivíduo que, além de ter sucesso, já flanou pela advocacia portuguesa. Papinha toda feita, é o que eu digo.

Como não sou

Se eu fosse do Sporting, como diria o Joel Neto, e tivesse estado ontem o Sporting em campo frente ao A.C. Milan e tivesse o jogo decorrido tal e qual decorreu ontem, então este seria um post de resignação orgulhosa, de transferência de culpas para um fatalismo sobrenatural, de elogios desmedidos aos «nossos rapazes». Porque a verdade é que o A.C. Milan foi ontem vulgarizado pelo Benfica. Tirando os primeiros 15 minutos, onde, de facto, a coisa se enegreceu, a equipa transalpina (toda uma carreira como comentador desportivo que me passou ao lado) foi um conjunto de homens embasbacados com Maximiliano Pereira. Não estava Inzaghi, facto, e não estava Ambrosini, facto, mas estava o trio maravilha - Pirlo, Seedorf e Kaká - como sempre carregado às costas pelo outro trio maravilha - Gennaro Ivan Gattuso. Ora, Pirlo pareceu o tempo todo o Hugo Viana a mandar bolas lá para a frente; Gattuso apresentou-se em campo com a velocidade do Miguel Veloso e a garra do Nuno Gomes; Kaká, enfim, Kaká e Seedorf nunca jogam mal, mas a verdade é que foi só depois da saída de - vénia, vénia, hossanas, vénia - David Luiz que Kaká apareceu isolado à frente de Quim. Nunca tinha visto tamanha diferença de qualidade entre uma equipa portuguesa e uma italiana, e estou a incluir o jogo do Porto de Jardel em San Ciro, 3-2 para o Porto, bis de Jardel e golo de Artur, se não me falha a memória. Se eu fosse do Sporting, estaria hoje falsamente desiludido e verdadeiramente exultante, colocando mais uma cruzinha na tabela das vitórias morais e elevando David Luiz a melhor defesa central do século - que é. Como não sou, puta que pariu o Nuno Gomes.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Ainda assim agradecido

Onde o teu wishful thinking falha é na presunção de que eu não tenho mais irmãos ou, tendo, que são mais novos do que tu, presumindo agora eu que essa coisa do Deuterenómio siga a mesma lógica de tudo o que é hereditário. Não, não és o next in line.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Santana

O Túnel do Marquês? Talvez. Mas hoje sofri um afrontamento semelhante ao passar pelo Jardim do Arco do Cego. Sacana.

Serendipismos

Hoje, durante a minha caminhada de regresso a casa, cruzei-me com um amigo que não via há meses. Meses. O que prova a minha tese de que uma sociedade mais civilizada terá de ser inescapavelmente mais pedonal. Ou seja, se passarmos mais tempo nos passeios seremos mais felizes. E daremos um melhor exemplo às gerações que nos seguirão. Quioto, por exemplo, ficava logo arrumado. E confessem lá, Nova Iorque ou Los Angeles? E quem prefere Los Angeles, será saudável?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

(Pedido)

Como estive ausente do país durante o fim-de-semana, pedia com um agradecimento caloroso de avanço que me enviassem ou apontassem a recensão que Vasco Pulido Valente fez do «Rio das Flores». Obrigado.

Adenda: O meu pedido já encontrou bom porto. Obrigado Sara.

5 - Shakespeare & Company




4 - separata

Tenho para mim que a Carta de Veneza - que marcou o ponto de viragem intelectual no que toca à nossa relação com o património construído - deveria ser considerara persona non grata.

4

Inevitavelmente lá apareceu a opinião de que «o Pompidou devia era estar na La Défense». De seguida, pôr-se-ia a redoma por cima do Marais, à prova de bala à prova de vida. Lentamente, e orgulhosamente, Paris vai-se museoficando, cristalizando, isolando. Quando dermos por nós já nada haverá a fazer, e milhões serão gastos na requalificação da «velha Paris». Porque a verdade é que as cidades não podem parar, por muito belas que possam ser - e Paris é o climax da beleza física dos edifícios, absolutamente intimidadora no que toca a alterações. Custa. Mas terá de ser.

Renzo Piano é Deus, e Richard Rogers foi seu acólito - Rogers que é objecto, no próprio Pompidou, de uma exposição de carreira, aborrecida, aborrecida, aborrecida de tanta eco-sustentabilidade. Mas admito a minha deformação profissional, e estou disposto a admitir que a comoção que me deu ao ver aquela fábrica ali plantada pode não se estender à população em geral. Mas lá que me deu, deu.

3

Então agora em Portugal têm um primeiro-ministro que chama a polícia quando há greves, não é? Ah, nada melhor do que um socialista.

2

Não sei se Paris é a cidade de que mais gosto (não é), mas é sem dúvida a cidade que mais me pesa quando olho para Lisboa.

domingo, 25 de novembro de 2007

1

Há, seguramente, dois significados para a palavra «beleza»: um antes e outro depois de se conhecer Paris. Mas para um esteta, um radical da beleza como fim último da humanidade, Paris representa uma evidência triste: a beleza, só, não chega. Ou melhor, a beleza, quando abundante, pode ser um espartilho. E em Paris procuramos razões que expliquem não ser aquela cidade o paraíso na terra. Devemos começar, talvez, pelos parisienses, umas bestas quadradas mal agradecidas. Mas isso não esgota a lista de pecados da capital do país presidido por Sarkozy (vénia). Há outros. Há, no fundo, uma noção de que aquela beleza toda não é de graça, e que há um preço a pagar. Os parisienses, talvez, mas deixemos de bater no ceguinho.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um cidadão em apuros

Do Upper East Side para os Anjos: vamos todos ajudar o Vasco.

Letra de Forma

Letra de Forma, uma espécie de blogue de Augusto M. Seabra.

Eugène Atget







Millions

Está a pensar emigrar para Nova Iorque? Precisa de um apartamento amplo? Gosta de vista de rio? Aprecia a arquitectura de Richard Meier? Então a Sotheby's tem o apartamento ideal para sim, a troco de 40 milhões de dólares. É aproveitar, agora que o dólar anda tão fraco.

Os parisienses

[O]s Americanos consideram a rua uma espécie de bastidores anónimos, ao passo que, para os Franceses, a rua é o próprio palco. Uma empregada de escritório americana a caminho do emprego não se preocupa com o seu aspecto; tira os ténis e calça salto alto apenas quanto entra no escritório, ao passo que uma mulher francesa sente que está em cena no exacto instante em que sai para a rua. Roupa, cabelo, maquilhagem, tudo tem de estar impecável. Os Franceses, por vezes, preocupam-se excessivamente com a impressão que podem ou não causar; uma mãe é capaz de passar meia hora a tirar fios quase invisíveis do fato azul-marinho do filho, antes de sairem de casa a caminho da missa; ou então vira-se para o filho no comboio e dispara-lhe num sussurro: «Não fales tão alto, estás a chamar a atenção das pessoas».

Paris, Os Passeios de um Flâneur, Edmund White

Edmund White escreve sobre Paris, uma cidade que criminosamente não conheço, atropelo civilizacional que corrigirei já amanhã, e sobre uma actividade que me apaixona, a do flâneur. Pelo meio fico a perceber a tão famosa cultura francesa que está impregnada na sociedade portuguesa, embora em vias de extinção. Às vezes, como nesta passagem, White parece estar a descrever os portugueses quando fala dos parisienses, sobretudo nas pequenas subtilezas que só são pequenas para o untrained eye.

P.S: O livro abre com uma frase perfeita: «Paris é uma grande cidade, no sentido em que Londres e Nova Iorque são grandes cidades e Roma é uma aldeia, Los Angeles uma colecção de aldeias, e Zurique uma província.»

Nicolau Breyner

Eu não sei como se resolve o problema e duvido mesmo se ele não será já irremediavelmente irresolúvel. A razão desta minha desilusão nasce com outra desilusão que é a curva indesejada que o meu ventre acusa nos dias que correm. Para que não comecem já com trocadilhos precipitados, revelo que a minha condição física não se deteriorou com o casamento: o estado lamentável (embora não tão lamentável assim, isto é apenas uma figura de estilo que fica sempre bem) em que se encontra o conjunto de tecidos vivos que carregam a minha alma está mais ou menos estável de há uns anos para cá. A minha mulher nunca foi enganada, não nesta nem em qualquer outra situação. A primeira estratégia que ataquei foi a mais burguesa de todas: ginásio, assunto triste que não me convida a mais linhas. Falhada essa, é não sem orgulho que revelo ao mundo que passei a vir a pé do trabalho. Andar, com as pernas, é um modo de locomoção a que os portugueses se desabituaram, mal habituados que ficaram com a descida das taxas de juro nos anos 90 que deu a cada português três carros e com o bom serviço prestado pela rede de transportes públicos. Através de um cuidadoso subsídio do estado, o passe de Metro custa hoje 17,80€, situação que enterrou cada vez mais os cidadãos e que enterra cada vez mais o Estado - o Metro de Lisboa dá 180 e tal milhões de euros de prejuízo anuais, mais cêntimo menos cêntimo. Junte-se a isso um planeamento municipal que ostraciza o peão de diversas formas por vezes em simultâneo e é normal que a malta fuja da rua. Claro que sou privilegiado. O trajecto diário que percorro é esteticamente superior à média, mas mesmo aqui, no centro do centro, sinto-me desacompanhado e desamparado, uma espécie de dono de um sítio que mais ninguém quer. Sobretudo depois do pôr-do-sol, quando a noite se instala em Lisboa e a famosa luz dá lugar a luzes menos famosas. É romântico? Será. Mas gostava de ver mais congestionamentos no passeio, mais atropelos nas esquinas, mais vendedores ambulantes e passeios mais largos. Gostava que as pessoas - reparem, «gostava» que «as pessoas»: mais déspota não há - gostassem mais da rua e gastassem menos dinheiro em ginásios. Ver ruas cheias de gente é algo que me revitaliza e guardo na memória imagens de sítios assim: Nova Iorque, Madrid - sempre Madrid - ou o Cairo, onde vi um maranhal de homens e mulheres a comprar e vender coisas à meia-noite, no meio da rua, na frescura dos 35 graus que só a madrugada consegue trazer. Em Lisboa é ver-se a hora de ponta totalmente engarrafada e os passeios criminosamente pequenos e livres de seres humanos. Gordos. Entretanto, pensava que era o Nicolau Breyner que fazia um anúncio com o slogan «Portugal não é só teu» mas parece que afinal era o Herman, a minha memória atraiçoa-me, facto que descobri após uma não infrutífera busca no YouTube. Ah, e porque foi proveitosa a minha busca no YouTube? Não digam que não sou dado:

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Reservoir dog

O barómetro que me mede as tendências homicidas está no vermelho. O homem falou, falou, falou, não me respondeu a uma única pergunta, falou, falou, e durante esse tempo todo eu imaginei-me num filme de Tarantino. Levantei-me da mesa e dei-lhe com o cinzeiro de vidro no nariz, deixando-o a sangrar violentamente à primeira. Enquanto ele recuperava do choque, o meu joelho embateu no seu maxilar inferior, deslocando-o, e convidando os dois dentes incisivos a repousarem no chão da sala. A cadeira que segurava no ar desceu com uma velocidade considerável na direcção da nuca do homem, deixando-o inconsciente. Passados 10 minutos trocámos cartões, eu prometi-lhe um telefonema que nunca irei fazer e despedimo-nos cordialmente.

Obrigado recibo verde

Corre por aí uma petição contra os recibos verdes. Não a vou assinar porque gosto de recibos verdes. Sempre que passo um fico contente: é sinal que alguém comprou alguma coisa que eu fiz. Comprou? Mas não é isso um vulgar ordenado? É. E não é. O recibo verde, com a sua precariedade, é o melhor instrumento para o entendimento do valor do nosso trabalho. No meu caso funciona da maneira que é suposto funcionar: não tenho os direitos (ai), as regalias (ui) nem a protecção (ai ui) que a nossa fantástica legislação laboral nos dá. Em vez disso tenho uma responsabilidade acrescida que nasce da liberdade que me é dada. Não tenho um vínculo laboral, não tenho por isso horário de trabalho. Não tenho um vínculo laboral, não tenho por isso dias de férias contados. Trabalho o que me apetece, tiro as férias que me apetece. Pelo meio vendo um serviço que, se não agradar a quem o está a comprar, pode terminar já amanhã. Sem avisos prévios, sem indemnizações. A questão é simples: ou trabalho bem, ou não trabalho. Trabalhar mal ao abrigo da protecção estatal não é uma opção. Sei que do meu caso não se pode fazer regra. Mas também sei que ou se muda a legislação laboral, liberalizando totalmente os despedimentos, ou então os recibos verdes estão aí para as curvas. Com os recibos verdes aprendi que um «emprego» não é mais do que um «serviço». Com os recibos verdes aprendi que temos obrigação de ser úteis ao outro, e que sendo úteis ao outro somos úteis à sociedade, sendo que ser útil à sociedade é uma aspiração que todos deveremos ter. Obrigado recibo verde.

(Insultos e impropérios para complexidadeecontradicao@gmail.com.)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Boa tarde

- Boa tarde.
- Boa tarde, o meu nome é X. Estou a falar com o arquitecto A?
- Não, o meu nome é B.
- Ah, é arquitecto?
- Sou sim, diga.
- Olhe, eu estou a ligar da empresa Y no sentido de poder fazer uma apresentação de uma nova série de produtos que são do interesse do senhor arquitecto, na medida em que a nossa empresa celebrou agora um protocolo com a Ordem dos Engenheiros [sic].
- Que produto, desculpe, não percebi?
- Bom, isto é uma nova linha de produtos que visam dar resposta a uma série de questões levantadas pela sua ordem profissional, que são específicas da sua área e que serão do vosso interesse.
- Vai-me desculpar, mas eu ainda não percebi que tipo de produto se trata.
- Bom, estou a ligar de uma companhia de seguros, portanto tratar-se-á de produtos na área dos seguros.
- Ah, seguros. Não tinha percebido.
- Assim, gostaria de marcar uma ida ao vosso escritório para fazer uma pequena apresentação para enquadrar a proposta.
- Está bem.
- Pode ser amanhã às 5?
- Não.
- E às 2.30?
- Pode.
- Já agora, pode dizer-me o seu nome completo?
- Já lhe disse. É B.
- Completo, preciso do seu nome completo.
- Para quê?
- Por causa aqui da ficha. E da sua data de nascimento.
- A minha data de nascimento?
- Sim.
- Para quê?
- Para podermos enquadrar a proposta.
- Mas a proposta não será para mim, será para o arquitecto A, logo a minha data de nascimento não é relevante.
- A proposta será para o arquitecto A, mas o senhor arquitecto poderá vir a usufruir dela.
- Eventualmente. Também posso ir jantar hoje à noite com o presidente Chávez.
- Ok. Já agora, podia dar-me o seu contacto pessoal?
- Desculpe?
- O seu contacto pessoal.
- Bom, o senhor tem este número para onde ligou.
- Mas eu preciso do seu contacto pessoal, no caso de acontecer alguma coisa.
- Neste número há sempre gente contactável, e mesmo que o presidente Chávez venha a Portugal não acho que tenhamos necessidade de voltar a falar.
- Com certeza. Até amanhã então.
- Boa tarte.

Influências

Em tempos disse que o clima sul-americano fazia bem à arquitectura modernista; agora é a vez de constatar que os aromas africanos fazem muito bem à arquitectura holandesa.

Só me faltava agora ter o Berninger a falar disto

jesus christ you have confused me

The National

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Puxar o Sérgio Godinho

O Pedro Mexia foi à rádio falar com o Pedro Rolo Duarte e não avisou ninguém, com a excepção da sua mãe que, como não tem blogue, também não avisou ninguém. Felizmente há o podcast. Pelo meio há o Sérgio Godinho mas, felizmente, estamos num podcast, e podemos sempre puxar o Sérgio Godinho para a frente.

Adenda: Às tantas, o Pedro Mexia diz que ainda não leu o suficiente para escrever um romance. O Pedro Mexia, leitor profissional, diz que ainda não leu o suficiente para escrever um romance. Ainda não leu o suficiente. Falta acabar o período romântico albanês e dois ou três autores contemporâneos de Kiruna, localidade sueca atrás do sol posto.

Vende-se




Boas áreas. Materiais com gosto. Desenhado por arquitecto.

(Aqui, uma lista de casas de Frank Lloyd Wright à venda.)

domingo, 18 de novembro de 2007

Norman Mailer

Vi ontem um programa no Canal 2 sobre Norman Mailer bastante interessante, sobretudo se considerarmos que eu não sabia quase nada de Norman Mailer até ao dia de ontem. Às tantas, o homem que esmurrou Gore Vidal (entre outros, segundo consta) explica que se casou muitas vezes (seis, parece) porque no tempo dele não havia pornografia, e que, portanto, cada impulso de natureza sexual era um arrebatamento impossível de resistir. Como não havia pornografia, confessou, Mailer teve de aprender tudo pela via mais difícil. Pelo Expresso fico a saber (porque não sabia, não é pecado) que uma das mulheres foi mesmo esfaqueada pela besta, gesto de carinho que lhe valeu 15 dias na prisão. Ela, no entanto, ficou amiga dele. Não sei o que tem o Tiago Mendes a dizer sobre isto, mas eu sei que já estou na expectativa de ler o Tiago Galvão sobre Norman Mailer. Há aqui um feliz encontro de espíritos, parece-me.

sábado, 17 de novembro de 2007

Um post para o Pai Natal

Queria só deixar aqui uma nota sobre a minha humildade intelectual. Sou um poço de virtudes, pelo que não espantará mais esta. De facto, é correcto afirmar-se que ontem fui ao Grande Auditório da Gulbenkian assistir ao Requiem do Verdi - numa sala grandiosa com vista para o grandioso jardim - e que hoje fui visitar o Museu Berardo. No entanto, decidi não escrever sobre essas minhas deambulações culturais - não, isto não conta, isto é um post sobre as minha humildade intelectual, não sobre essa merda da «cultura» - escrevendo em vez sobre um bem material que desejo possuir (ver post abaixo, sff). Se eu fosse um cagão, daqueles que vão a todas para poderem dizer que foram a todas e depois colocam-se em eventos sociais a repetir com óculos o que leram no panfleto das coisas, estava para aqui com referências de cantores e maestros e pintores e mais o Pedro Cabrita Reis.

Isto é um post para o Pai Natal, já que estamos naquela época do balanço moral das crianças.

E antes de ir ao Berardo passei pelo Museu de História Natural para ver uma exposição de «Jovens Artistas». Sim, o que fazem «Jovens Artistas» no Museu de História Natural? Acreditem que a resposta a esta pergunta faz mais sentido do que as criações (criaturas?) dos ditos «Jovens Artistas». Sim, achei aquilo uma merda e demasiado marxista, e também achei que aqueles gajos precisam todos de doses valentes de Prozac. É só uma sugestão.

O Frank Lloyd Wright

O Frank Lloyd Wright... sabes quem foi o Frank Lloyd Wright? Não te rias, estás a rir-te porquê? Sabes quem foi? É que para mim o Frank Lloyd Wright foi o maior arquitecto da história e...

(Manuel Vicente uma vez para mim)

Lembrei-me disto porque vi na FNAC um livro chamado Frank Lloyd Wright, Prairie Houses, de fotografias do Alan Weintraub, que é um daqueles livros grandalhões para se ter na estante, normalmente sem muito interesse, e que no entanto me encantou - nem tem desenhos, aquela merda, é só fotografias e sobretudo dos interiores, mas fotografias muito boas, quase tão boas como as do Fernando Guerra - apesar do preço, para lá de cinquenta euros, o que me desagradou violentamente. Como hoje montei a árvore de Natal cá em casa - minto, a minha mulher é que a montou, eu lia-lhe bocados da entrevista do Pulido Valente para a entreter enquanto ela pendurava as bolas - lembrei-me de que nos estamos a aproximar do Natal e como alguns familiares meus lêem este blogue pode ser que eu ainda tire daqui algum proveito.

P.S: A capa é mais ou menos isto:


O grande momento do fim-de-semana

Fazia parte de um «grupúsculo». E todos os «grupúsculos» eram, ou diziam-se, de extrema-esquerda. Eu pertencia a uma coisa chamada MAR (Movimento de Acção Revolucionário) - achavam este nome muito bonito - cujo chefe era Jorge Sampaio.

E o que faziam?
Nada.

Vasco Pulido Valente Correia Guedes, em entrevista ao Expresso (Única), o grande momento do fim-de-semana.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Os Ulriques

Lars Ulrich que, como é sabido, ainda é primo de Fernando Ulrich.

1983

Ouvi o "Kill'Em All" dos Metallica na íntegra pela primeira vez aos 30 anos. Aos trinta.

Tiago perdi todo o respeito por ele Cavaco


Ora, eu pensava que ter comprado o Kill'Em All depois de já ser dono de todos os outros da discografia até então - julgo que estaríamos por volta do ano de 1997 D.C. - já era pecado imperdoável. Espanta-me que tu faças a música que fazes, que não é de todo desprovida de atributos, sem teres passado os teus ouvidos repetidamente por Hit The Lights, The Four Horsemen, Motorbreath, Jump in the Fire, (Anesthesia) Pulling Teeth, Whiplash, Phantom Lord, No Remorse, Seek & Destroy e Metal Militia, alinhamento de 12 canções que contém 4 obras primas - sendo uma delas a quinta faixa, Opus maior de Burton, o que é extraordinário se considerarmos que o tonto do Mustaine andou lá para o meio a fazer estragos. Quero só despedir-me do auditório enquanto espero pelos carpinteiros que vêm cá a casa fazer uma reparação na casa de banho (isto tem sido um calvário) lembrando o pormenor de estarmos perante um álbum composto durante o vigésimo ano de vida de Hetfield e Ulrich. Shame on you.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Ó Chávez

Gostava de partilhar convosco o quanto no meu âmago (bonita expressão) me senti monárquico ao ver, na Cimeira Ibero-Americana, Juan Carlos, Rei de Espanha, pedir a Hugo Chávez, intendente da Venezuela, que se calasse. Os factos são conhecidos do grande público: enquanto Chávez, no seu habitual registo inimputável, insultava Aznar de fascista, o magnífico Rei Juan Carlos (Sua Majestade, Sua Eminência, Sua Senhoria) lançou-lhe um sumaríssimo: Por qué non te callas?

No fundo, é isso. Por qué non te callas, Chávez? Dentro de portas, estabeleceste um regime populista e autoritário, pouco importa se apoiado pela maioria dos venezuelanos. Nada te escapa e quem não é chavista está condenado à inércia ou ao ostracismo. Externamente, usas uma linguagem entre a paranóia e a arruaça. Precisamos mesmo de te ouvir? Porque devemos nós, os que acreditamos que a democracia não depende só dos votos mas de uma certa legitimidade de exercício, os que acreditamos numa comunidade organizada segundo princípios da democracia liberal (liberdades, separação de poderes, checks-and-balances, respeito pela oposição, responsabilidade e prestação de contas), os que acreditamos que os recursos de um país devem ser geridos e distribuídos de forma transparente, sem tentações clientelares ou chantagistas, porque devemos prestar atenção a orações injuriosas? Não serás tu o fascista, ó Chávez?

E por qué non se callan também os que, na incapacidade de condenarem claramente o ditador da Venezuela (porque ditador é aquele que age como ditador, seja ou não eleito), resolveram atacar a "grosseria" diplomática do Rei de Espanha, essa figura anacrónica que devia era curvar-se perante um Presidente eleito, mesmo que do baixo quilate deste triste Chávez? Mas não são vocês que contra todas as diplomacias da conveniência e do cinismo, lutam pela supremacia dos valores nas relações internacionais? Não são vocês que sempre se manifestam contra os abusos da liberdade de expressão, quando pensam que as vossas ideias estão a ser visadas? Somos obrigados a tolerar que se insulte um ex-governante de fascista, mas devemos reagir contra os caricaturistas de Maomé, os Nobéis desbocados com teses deterministas sobre o ADN dos negros, os acéfalos da extrema-direita.

É só porque Juan Carlos, o nosso Rei, não foi eleito? Mas como duvidar da legitimidade da monarquia em Espanha? Evidentemente, a legitimidade que advém das eleições pode coexistir com outras formas de legitimidade: histórica, simbólica ou social. Onde está a maioria de espanhóis que deseja acabar com a monarquia? E eu nem sou monárquico, mas quando Juan Carlos saiu da mesa acho que me tornei num carlista. Quero um Rei destes. Até pode ser absoluto.

Pedro Lomba no DN

A violência da beleza

P.s. ao post anterior: a reacção do Franciso José Viegas face à Gare do Oriente (que não é só sua, é de muita gente) é um bom exemplo daquilo que eu dizia ontem: Calatrava é um homem obcecado pelo estatuto que o desenho lhe dá - e dizem as más línguas um homem intragável - e esquece-se com alguma frequência das pessoas que se vão submeter à violência dos seus edifícios. Repare-se que só achando a Gare do Oriente um peça arquitectónica de rara beleza se pode perdoar os seus defeitos. Mas e se não achamos?

Eles não merecem senão que os tratemos mal

Às vezes sinto que o país inteiro é uma convenção no Beato do Compromisso Portugal: só se diz mal de quem «está sempre a criticar e não faz nada», e louva-se constantemente a «iniciativa» e as «coisas boas» que temos. Eu próprio fico às vezes agastado com o arrastar apático da maledicência instalada. No entanto, sou incapaz de não reconhecer a dimensão regeneradora que têm algumas críticas em tom de desabafo, aquelas honestas e sinceras que saem do âmago humano, que se apresentam como um sinal de rara lucidez. E o Francisco José Viegas fá-lo melhor do que ninguém:

(...) demolir e deitar fora, não digo; mas tentar corrigir aquela merda toda, contem comigo. A Gare de Oriente (incómoda, feia, desagradável, pouco amigável para os frequentadores de comboio, escura, suja, desprezível no seu conjunto) é um espelho do bacoquismo que nasceu, floresceu e cresceu à volta da Expo 98. Tudo imagens do iniludível progresso que essa grande geração plantou e ameaça continuar a plantar pelo país fora. Bacocos com nome de gente.

(...) Ainda o Inverno não está aí (e aí sim, quando vier, será realmente penoso), e já o Terminal (o barracão) está «avariado», a necessitar de reparações e de benfeitorias, metendo água e resvalando para a sujidade habitual. Esta é a forma como o Estado (e a ANA, e a TAP e a Groundforce) tratam os seus passageiros, os seus clientes e os seus contribuintes. É uma imagem perfeita da ideia que o Estado (e a ANA, e a TAP e a Groundforce) tem de nós todos: gente para maltratar. Eles não merecem senão que os tratemos mal.

Amén, Francisco.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Mais valias

Passas-me as cartas mas eu não subo a aposta, embora vá a jogo, porque não tenho nada a alterar ao rumo da conversa, apenas acrescentar. Essa passagem da entrevista foi das que mais gostei. Só uma pessoa da geração de Gonçalo Byrne a poderia dizer porque os mais novos estão demasiado concentrados em fazer-se notar. E quando é dita por uma pessoa com o nome de Gonçalo Byrne, mais pertinente se torna. A importância da invocação desse sentido económico da arquitectura tem a ver com um certo alheamento da intelligentsia arquitectónica do banal, do quotidiano, daquilo que se repete para formar os espaços que são mais do que a soma das partes. O elogio do que já foi tentado e provou ser bem sucedido é sempre preterido pelo elogio do disparate original. Michelangelo, certíssimo, ou mesmo Charles Correa, tudo bem. Mas isso é falar de bugalhos quando foi de alhos do que falou Byrne. Byrne falou do pronto a vestir de que precisa a arquitectura portuguesa, que é rica em alta-costura. Aquilo a que assistimos hoje em dia é uma espécie de divórcio entre a arquitectura que é pensada, a quem exigimos o exigível e o inatingível - basta ouvir a vox populi sobre o arquitecto X que «só fez erros» na obra X - e a arquitectura que é apenas uma consequência formal de uma necessidade desajeitada, a quem tudo perdoamos e ignoramos. É importante que Gonçalo Byrne alerte para esta economia de meios, porque só assim se explica que a arquitectura não se remete apenas aos universos formais dos arquitectos que se habituaram à excepção e à excentricidade; a arquitectura é um esforço mental que se exige a todo o construtor, e é um exercício que deve ser íntegro na procura de um respeito colectivo que dignifique a comunidade onde ela actua. Aos mais novos resta perceber que o ser publicado na revista não é a finalidade última do seu trabalho - não, não é, por mais incrível que isto possa parecer - mas sim o de contribuir para que um conjunto de pessoas específicas que vivem num determinado lugar vivam com mais facilidade e felicidade.

Dão-se autógrafos



Não vos quero esmagar com o meu bom gosto, mas mentir-vos-ia se dissesse que esta imagem não representa o meu iTunes de há 5 minutos.

Até se lhe perdoa a última frase

(...) Coloque uma noz de manteiga na frigideira, a aquecer. Cá fora, separe a gema da clara. Quando a manteiga estiver bem quente, ponha a clara na frigideira e deixe fritar até que a fímbria da nimbada clara se exiba ostensivamente dourada. Nessa altura, com aquele módico de ternura que qualquer cozinha exige, coloque a gema em cima da clara, polvilhando com duas pedrinhas de sal e três singelos grãos de pimenta. Com uma colher, verta a manteiga douradinha (já castanha, se nos deixarmos de lirismos) sobre a gema. Quando a dita mostrar sinais de alguma bronzeado (em boa verdade a clara estará igual ao tom de pele de Jualiana Paes e a gema assumirá a política incandescência de Pocahontas) retire o ovo da frigideira e sirva. Melhor, trinque: hmmm, é em momentos como este que percebemos como o sexo anda sobrevalorizado. (...)

O ovo estrelado do Manuel S. Fonseca
, que dá todo um novo significado à expressão «eu só sei estrelar um ovo».

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Migração para o Norte

De um leitor devidamente identificado, aparecido na caixa de correio às 20:47, em resposta ao meu post das 19:38:

Caro Lourenço,

Uma boa, deduzo, notícia:
A "árvore de natal" do bcp vai para a Avenida dos Aliados este ano.

Como se não lhes bastasse o empate na Amadora.

Coisas

O maradona escreveu um post soberbo sobre uma viagem de barco. Vai daí, almas ofenderam-se e foram ao dicionário adocicar o insulto. Até aqui tudo bem. O problema começa quando o maradona tenta explicar o que escreveu a uma pessoa que linka um site chamado Anarkismo.net no capítulo da «Informação». Noutro blogue de má-fama, o maradona lá explica (num comentário às 20.16 que começa com «boa tarde», constatação que nos leva a duas conclusões óbvias: 1, eu ando sempre em cima do acontecimento - são 21:35 neste momento - 2, o maradona está em casa desde a hora do almoço e com as portadas fechadas, não dando pelo facto que anoitece às 17:35 e que não faz sentido dizer «boa tarde» quando já é de noite e já são horas de jantar, o que me leva a uma receita de noodles com pescada, se não me engano, que anotei num papel qualquer com todas as nuances que ela tinha) que só lá foi explicar ao outro que não era homofóbico. Nem a gravidade implícita que o maradona coloca no preconceito da homofobia (que é um preconceito como outro qualquer, as pessoas têm direito a ser homofóbicas se quiserem, desde que não andem por aí a chatear as outras pessoas) justifica o acto, que se pauta por apologia daquilo que escreveu, que não só não lhe fica bem como não tem qualquer razão de ser. E porque é que não tem qualquer razão de ser? Porque, como é sabido, o blogue do maradona goza de uma popularidade considerável junto da comunidade homossexual, sendo o blogue que publica mais torsos masculinos desnudados por metro quadrado, socorrendo-se do álibi de que se tratam de imagens de «desporto». Entretanto, o tradutor do Gogol também anda metido ao barulho.

El exitoso Aznar

Ainda assim, sobre a respeitabilidade de Aznar estamos conversados. Se é que não estávamos há muito tempo.

Daniel Oliveira

Se é que não estávamos há muito tempo, não me obriguem a explicar outra vez. Economia fulgurante? Qualidade de vida como nunca antes vista? Estamos conversados, se é que não estávamos há muito tempo. Su política estuvo dominada por una exitosa agenda económica, favorecida por la bonanza internacional, con ajustes presupuestarios para lograr el déficit cero, y con el objetivo de cumplir los criterios de convergencia con el euro. Bajo su gobierno, la economía española mostró una fuerza considerable al crecer más rápido que la de muchos otros países europeos, recuperándose definitivamente de la crisis iniciada en 1993. Se redujo el desempleo (de más del 20% en 1996 a cerca del 11% en 2003), se mantuvo la inflación dentro de los márgenes marcados por la Unión Europea y se sanearon las cuentas públicas por primera vez desde el regreso de la democracia en España. Siguiendo las ideas liberales económicas con las que había llegado al poder, parte de ese crecimiento económico se logró mediante la privatización de ciertos servicios públicos. Se é que não estávamos há muito tempo.

(As partes em castelhano, tal como no blogue de Luís Filipe Menezes, são totalmente da minha autoria.)

É certo e sabido

O habitante da Baixa vive aterrado. Não é só o corte ao trânsito do Terreiro do Paço aos domingos, a maior saloiice (cá está, desafio-vos a encontrar mais palavras em português com dois 'i's seguidos) da história lisboeta (e estou a contar com a estátua do Sá Carneiro no Areeiro). Está a aproximar-se o Natal, e por enquanto ainda não vi aquela coisa ligeiramente fálica que puseram no meio da praça no ano passado, mas estou a achar isto tudo bom demais para ser verdade. A não ser que as coisas lá no BCP estejam mesmo assim tão más que nem dinheiro para os enfeites sobrou, no meio da faustosa e reconhecida «distribuição de dividendos» que costumam fazer.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A primeira vez



Há dias lamentava o facto da minha geração ser órfã de memórias colectivas. Porém, lamentável foi o facto de me ter esquecido do genérico de Tieta, aqui maravilhosamente oferecido pelo youtube, que terá mostrado, provavelmente, a todos os pré-adolescentes da época as suas primeiras maminhas de uma mulher adulta (que não as das respectivas progenitoras.) E quem se esquece do exacto momento em que as hormonas acusaram pela primeiríssima vez a presença de maminhas, esquece-se de tudo.

Cefaleias

Queria daqui mandar um forte e caloroso abraço para o número 5 da Rua da Quinta do Pinheiro, em Carnaxide, morada e domicílio da Bayer Portugal S.A., pela actividade que prossegue de comercialização da droga em baixo mostrada - e ainda por cima por vias totalmente legais, pelo que posso descontar este valor na conta do IVA que aí vem - que me salvou o dia de trabalho e o ensaio de logo à noite, isto porque as cefaleias ameaçavam enviar-me para a cama sem piedade, reduzindo-me a uma massa corporal inerte e inútil embora bonita de oiten..., setenta e qualquer coisa quilos.

Assuntos familiares



Esta é a primeira foto que vejo do meu irmão desde que ele se baldou para o Chile, em Junho, para fazer o que ele chama de «Erasmus», como explicou quando submeteu os papéis do empréstimo junto da entidade credora, ou seja, a sua, e minha, entidade paternal. Só não sei quem é o amigo de gravata azul.

(O meu irmão é um dos que tem aquela cara de quem está a estudar muito.)

domingo, 11 de novembro de 2007

É a pronúncia

Acabo de saber que o Porto empatou na Amadora 2-2, com penalti a favor dos visitados ao minuto 89. Pois é: quando o FCP passa o Mondego, o campeonato é outro. E lembremo-nos que o empate dos campeões nacionais na semana passada foi frente ao Belenenses, outra equipa de Lisboa.

Adenda: Este vídeo.

Bento XVI

Embora o Papa tenha valorizado a "escola de fé" de Fátima é impossível não ver nestas palavras uma distanciação do Papa de um modelo de "reprodução" do "povo católico" assente essencialmente na religiosidade popular.

José Pacheco Pereira

E eu acrescentaria ao «popular» a palavra «infantil».

sábado, 10 de novembro de 2007

O sitemeterzinho

maradona, já podes linkar o Gattopardo: é óbvio que os gajos não vão ter links e já têm o sitemeterzinho a funcionar.

Entretanto, à hora que escrevo, o sitemeter do Gattopardo regista umas 388 visitas diárias, versus as 1313 do sitemeter do Estado Civil. Deve ser lixado para o Mexia perceber que a malta se interessa 3 vezes mais pelo facto de ele admirar quem fica bem de amarelo do que pelas suas considerações sobre a Constituição Europeia. Eu não, claro. Eu interesso-me muito mais pelas opiniões do Mexia sobre a Constituição Europeia do que pelo facto de ele admirar quem fica bem de amarelo. Então não.

Nota

O post anterior é totalmente patrocinado pelo chefe da minha mulher, que lhe passou para as mãos uma quantidade não negligenciável de trabalho que a obriga a trabalhar pelo terceiro fim de semana seguido, deixando-me aqui abandonado e totalmente entregue a mim próprio. Podia ser pior, eu podia estar na rua a roubar.

Byrne, Souto de Moura e Manuel Aires Mateus no Expresso

O Expresso de hoje traz uma entrevista com Gonçalo Byrne, uma entrevista com Eduardo Souto de Moura, e uma carta em jeito de direito de resposta de Manuel Aires Mateus. Vamos então às notas:

1. Gonçalo Byrne é um homem de quem é fácil gostar-se. Há nele uma qualquer sinceridade e ponderação no que diz que desculpam a falta de rasgo dos seus desenhos. Não é um arquitecto cuja obra me emocione particularmente, mas é alguém a quem devíamos ouvir mais frequentemente e com quem temos a obrigação de aprender qualquer coisa.

2. É sempre um prazer ouvir Souto de Moura. O seu discurso descomplexado e radicalmente pragmático é um óptimo equilíbrio para a cada vez mais insuportável meta-linguagem dos arquitectos. Como por exemplo a sua denúncia desta vaga de sustentabilidades que todos reclamam para os seus projectos: é preciso ser Souto de Moura a explicar que qualquer bom projecto pressupõe a sua sustentabilidade. É triste que tenhamos chegado a um ponto em que um edifício bem abrigado do sol de Sul é elevado a um supra-sumo daquelas merdas que o Al Gore anda a vender. No entanto, Souto de Moura diz na entrevista algo que me incomodou, e que tem a ver com os honorários dos arquitectos. Souto de Moura explica que os promotores em Portugal já se aperceberam que construir com um arquitecto bom sai ao mesmo preço do que construir com um arquitecto mau, pois a tabela é a mesma e os descontos são também eles tabelados. Bom. Primeiro vem a dúvida: não acredito que Souto de Moura esteja a falar a sério. Mas repensando a questão, e atendendo ao modo de pensar da classe dos arquitectos em Portugal, julgo que Souto de Moura não estará a mentir. Os arquitectos nunca gostaram do mercado; Byrne confessa na entrevista, por exemplo, o seu coração centro-esquerda sempre pronto a dar a outra face em prol do bem-público. A existência de uma tabela é uma aberração que nos está a sair muito cara. A nós, arquitectos, e a nós, clientes, porque a tabelação de preços vicia o mercado e prejudica, sobretudo, o consumidor de projectos. Não faz qualquer sentido que Souto de Moura cobre por um projecto o mesmo que eu cobraria pelo mesmo. Souto de Moura é um arquitecto infinitamente melhor do que eu, e essa infinitude na diferença de qualidade tem, obrigatoriamente e se queremos manter uma sociedade minimamente mentalmente saudável, de ser paga. A tabela, que, lembro, existe para regular a relação do Estado com o prestador de serviços, não sendo de todo vinculativa para os privados porque, apesar de tudo, ainda não chegámos à Venezuela apesar dos esforços de Otelo e companhia no calor de 75, é um dos factores que contribuem para a desvalorização do trabalho de arquitectura, sendo uma declaração pública sobre o valor de um serviço a priori de qualquer avaliação desse mesmo serviço. Ou seja, revolta-me que Souto de Moura não seja principescamente pago pelo que faz, sendo que aquilo que faz nem sequer é equacionável nas cabecinhas que elaboraram a malfadada Portaria de 7 de Fevereiro de 1972, alterada pela malfadada Portaria de 22 de Novembro de 1974, alterada pela malfadada Portaria de 27 de Janeiro de 1986, que julgaram que um projecto de arquitectura é um conjunto de plantas, cortes e alçados em três cópias em papel e uma em formato digital.

3. O Expresso da semana passada publicou um projecto de Manuel Aires Mateus e Frederico Valsassina para o Largo do Rato, e sobre ele escreveu uma série de estupidezes. Eu gosto particularmente daquele desenho, mas isso sou eu e a minha subjectividade que não têm, para este caso, qualquer interesse. O que me move a estas linhas é outra questão. Manuel Aires Mateus, neste seu direito de resposta hoje publicado, vem a público tentar esclarecer alguns dos equívocos nos quais o artigo incorre, chegando mesmo a anexar uma foto da maquete, bem mais bonita do que as inenarráveis montagens que o Expresso se dignou a produzir na semana passada. Ora, o que Manuel Aires Mateus não percebe é que, de certo modo, ele não tem legitimidade para fazer o que tentou fazer. Trata-se de um clássico caso de feitiço contra o feiticeiro. Na última década a arquitectura e os arquitectos aprenderam a usar a comunicação social para promoção pessoal e, mais grave, aprenderam a desenhar edifícios cujo fim principal tem sido a publicação - olhem para as plantas, as plantas senhores, e digam-se se é normal serem tão bonitas. Perceberam como funcionam os mecanismos da sedução visual, acentuaram o carácter hermético do seu discurso como forma de defesa por meio de desqualificação intelectual do interlocutor, e pelo caminho criaram um monstro. Monstro esse que agora começa a morder a mão ao dono e deseja caminhar pelas próprias pernas. As estupidezes que o Expresso publicou na semana passada (porque são estupidezes, vão ler aquela merda) são totalmente legítimas no contexto da relação perigosamente íntima que a arquitectura estabeleceu com os media. Agora aguentemo-nos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

De nada

The National Documentary 1
The National Documentary 2
The National Documentary 3

Zlatan


Reparamos câmaras de ar



(Caranguejeira, Leira)

Com um agradecimento ao João, que foi quem descobriu esta preciosidade. Entretanto, aproveito para fazer notar que o João está de volta aos textos sobre arquitectura, tarefa que executa com uma mestria invejável, e, mais significante do que isso, textos esses que dão corpo a reflexões - não diria «teóricas», mas talvez acertadamente sociológicas, passe o palavrão - importantes sobre o Portugal construído neste início de século.

The satisfactions of restraint

Architecture should have the confidence and kindness to be a little boring.

The Architecture of Happiness, Alain de Botton

Umas linhas atrás desta Botton compara os constrangimentos históricos da arquitectura com o casamento: «Over generations, these codes prevented architects from using their imagination [...] and, like the insitution of marriage, restricted choice in the name of delivering the satisfactions of restraint.» Charlotte, sua mulher, deve ter ficado radiante.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Tom Sawyer



As diferenças geracionais são um fenómeno que me interessa particularmente e um dos factores - apenas um, faço notar - que me levam a concluir que eu nasci tarde demais. Agora que se ameaça o fim do CD, percebo como invejo aqueles que falam com nostalgia do vinil. O CD, para a minha geração, é apenas um objecto relativamente obsoleto que não vai deixar saudades. É triste, esta não inscrição. É toda uma geração que ficará orfã de memórias colectivas. Como o Verão Azul, outro exemplo. O que temos nós? O Dartacão? O Tom Sawyer? Não é o mesmo.

O ex-chefe (aposentado)

Estou muito sentido com a Rititi. A Rititi passou-me aquela coisa da página 161, sinal de que não leu este meu post, sinal de que não acompanha como deve ser este blogue. Magoei. Mas a verdade é que eu não esperei que alguém me incluísse na cadeia e cheguei-me à frente de qualquer modo, o que violará com certeza algum artigo do código de conduta destas coisas. Por isso, respeito e agradeço o sinal de confiança que a Rititi depositou em mim e cá vai disto:

Não julgar inconstitucionais as normas constantes do artigo 1º, nºs 1, 2 e 3, do Decreto-Lei nº 351/93, de 7 de Outubro, no entendimento de que elas se hão-de ter por integradas pelo artigo 9º do Decreto-Lei nº 48 051, de 27 de Novembro de 1967, por forma a impor-se ao Estado o dever de indemnizar, nos termos deste último diploma legal, os particulares que, por aplicação daquelas normas, vejam «caducar» as licenças que antes obtiveram validamante;

José Alves Rodrigues, ex-chefe da Divisão de Edições de Formação e Ap. Profissional da D.G.C.I. (aposentado), Regulamento Geral das Edificações Urbanas e os Regimes Jurídicos do Licenciamento Municipal de Loteamentos Urbanos e Obras de Urbanização e de Obras Particulares, ed. Rei dos Livros


Como é escandalosamente óbvio, não passo esta corrente a ninguém.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Vonnegut explica Sousa Tavares

1. Use the time of a total stranger in such a way that he or she will not feel the time was wasted.

2. Give the reader at least one character he or she can root for.

3. Every character should want something, even if it is only a glass of water.

4. Every sentence must do one of two things -- reveal character or advance the action.

5. Start as close to the end as possible.

6. Be a sadist. No matter how sweet and innocent your leading characters, make awful things happen to them -- in order that the reader may see what they are made of.

7. Write to please just one person. If you open a window and make love to the world, so to speak, your story will get pneumonia.

8. Give your readers as much information as possible as soon as possible. To heck with suspense. Readers should have such complete understanding of what is going on, where and why, that they could finish the story themselves, should cockroaches eat the last few pages.

No Abrupto.

Escalas monumentais

(...) Isto não ajudará o suficiente, mas a certa altura toca-se algo (digo já a seguir o quê) na onda habitual do E - FMaj7, em crescendo, a preparar as escalas monumentais que se seguem: com a mesma duração, polegar na 5a e 6a corda a dar o suporte: E-G#-B / E-G#-B / A-C-B / A-G-F; e os restantes dedos a dar, em jeito de resposta, a completar os acordes nas primeiras três cordas, intervalando com o peso dos baixos.(...)

O sempre instrutivo Tiago Mendes.

Olha

Tintoretto «descoberto» em Santo Tirso.

O quarto elemento



Os vídeos que o Vasco nos tem oferecido fazem-me lembrar o tempo, antes de vir para o rock, em que também eu era um virtuoso. A título de exemplo, houve uma semana (talvez quinze dias, não sei precisar) em que eu tocava até segundo minuto da primeira e última música deste álbum, com tanta exactidão que fiquei conhecido nalguns círculos, nomeadamente em minha casa, como «o quarto elemento». Agora pedem-me nos ensaios que toque notas «dissonantes» - parece que é moda - devaneio difícil para quem tem respeito pelo instrumento. Também já perdi os calos dos dedos da mão esquerda.

sábado, 3 de novembro de 2007

Norberto Lobo



Norberto Lobo
, que ontem esteve no Maxime, num concerto que variou entre o brilhante e o brilhante.

Para o Vasco.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Stephen Merchant



É importante não deixarmos que este homem fique sempre atrás de Ricky Gervais.

Miguel Sousa Tavares

Ao contrário de muitos que andam por aí, eu li o Equador. Mais: gostei. É um grande livro? Não é. Às cenas de sexo lembro-as a todas; frases nem uma. Não me envergonhou e estou, inclusivamente, a cogitar sobre a hipótese de ler o Rio das Flores. Dito isto, passemos à personagem. Miguel Sousa Tavares não tem - e esse é o grande drama - a gravitas intelectual que lhe sustente a arrogância. Coisa que, por exemplo, Pulido Valente tem. E não a tem porque Sousa Tavares comete o primeiro pecado do intelectual: deseja ser amado. Deseja, pior ainda, ser tido como um exemplo, vício de carácter que lhe virá do berço. VPV, aqui serve bem como contraponto, nunca desejou ser amado, nunca fez por isso, e desconfio que ficaria extremamente desagradado se isso viesse a acontecer. VPV nunca diria, como diz MST em entrevista a Carlos Vaz Marques, que sabe que o seu livro é bom porque até hoje ninguém o abordou na rua com o intuito de demonstrar uma opinião negativa. Nunca lhe passaria pela cabeça apontar «o leitor» como único juiz digno da sua obra. MST é um grande jornalista, um bom cronista, e um óptimo comentador de futebol (prefiro, sempre, os facciosos, mesmo os do FCP). Mas não é um grande romancista. E o seu - eventualmente justificado, reparem - desdém pela classe dos escritores portugueses não o permite ver isso. Às críticas responde com tiragens e recordes editoriais, ignorando convenientemente o facto de que nessa atitude é acompanhado por uma imensa horda de medíocres, com o os quais, diga-se, MST não pode ser confundido.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Marcar nas agendas

Como nem sempre podemos estar em cima do assunto e alguém pode, chegado o momento, incorrer na antecipação, faço já aqui uma reserva adiantada. Marco a melhor mesa para o dia em que o maradona tirar as flores do template e publico hoje, dia de todos os santos, a piada que todos se recriminarão por não ser sua. Agora é tarde demais. Eu cheguei e venci. Quando esse dia chegar lembrai-vos deste vosso servo que pela primeira vez afirmou que o maradona foi desflorado.