Às vezes sinto que o país inteiro é uma convenção no Beato do Compromisso Portugal: só se diz mal de quem «está sempre a criticar e não faz nada», e louva-se constantemente a «iniciativa» e as «coisas boas» que temos. Eu próprio fico às vezes agastado com o arrastar apático da maledicência instalada. No entanto, sou incapaz de não reconhecer a dimensão regeneradora que têm algumas críticas em tom de desabafo, aquelas honestas e sinceras que saem do âmago humano, que se apresentam como um sinal de rara lucidez. E o Francisco José Viegas fá-lo melhor do que ninguém:
(...) demolir e deitar fora, não digo; mas tentar corrigir aquela merda toda, contem comigo. A Gare de Oriente (incómoda, feia, desagradável, pouco amigável para os frequentadores de comboio, escura, suja, desprezível no seu conjunto) é um espelho do bacoquismo que nasceu, floresceu e cresceu à volta da Expo 98. Tudo imagens do iniludível progresso que essa grande geração plantou e ameaça continuar a plantar pelo país fora. Bacocos com nome de gente.
(...) Ainda o Inverno não está aí (e aí sim, quando vier, será realmente penoso), e já o Terminal (o barracão) está «avariado», a necessitar de reparações e de benfeitorias, metendo água e resvalando para a sujidade habitual. Esta é a forma como o Estado (e a ANA, e a TAP e a Groundforce) tratam os seus passageiros, os seus clientes e os seus contribuintes. É uma imagem perfeita da ideia que o Estado (e a ANA, e a TAP e a Groundforce) tem de nós todos: gente para maltratar. Eles não merecem senão que os tratemos mal.
Amén, Francisco.