Corre por aí uma petição contra os recibos verdes. Não a vou assinar porque gosto de recibos verdes. Sempre que passo um fico contente: é sinal que alguém comprou alguma coisa que eu fiz. Comprou? Mas não é isso um vulgar ordenado? É. E não é. O recibo verde, com a sua precariedade, é o melhor instrumento para o entendimento do valor do nosso trabalho. No meu caso funciona da maneira que é suposto funcionar: não tenho os direitos (ai), as regalias (ui) nem a protecção (ai ui) que a nossa fantástica legislação laboral nos dá. Em vez disso tenho uma responsabilidade acrescida que nasce da liberdade que me é dada. Não tenho um vínculo laboral, não tenho por isso horário de trabalho. Não tenho um vínculo laboral, não tenho por isso dias de férias contados. Trabalho o que me apetece, tiro as férias que me apetece. Pelo meio vendo um serviço que, se não agradar a quem o está a comprar, pode terminar já amanhã. Sem avisos prévios, sem indemnizações. A questão é simples: ou trabalho bem, ou não trabalho. Trabalhar mal ao abrigo da protecção estatal não é uma opção. Sei que do meu caso não se pode fazer regra. Mas também sei que ou se muda a legislação laboral, liberalizando totalmente os despedimentos, ou então os recibos verdes estão aí para as curvas. Com os recibos verdes aprendi que um «emprego» não é mais do que um «serviço». Com os recibos verdes aprendi que temos obrigação de ser úteis ao outro, e que sendo úteis ao outro somos úteis à sociedade, sendo que ser útil à sociedade é uma aspiração que todos deveremos ter. Obrigado recibo verde.
(Insultos e impropérios para complexidadeecontradicao@gmail.com.)