quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Nicolau Breyner

Eu não sei como se resolve o problema e duvido mesmo se ele não será já irremediavelmente irresolúvel. A razão desta minha desilusão nasce com outra desilusão que é a curva indesejada que o meu ventre acusa nos dias que correm. Para que não comecem já com trocadilhos precipitados, revelo que a minha condição física não se deteriorou com o casamento: o estado lamentável (embora não tão lamentável assim, isto é apenas uma figura de estilo que fica sempre bem) em que se encontra o conjunto de tecidos vivos que carregam a minha alma está mais ou menos estável de há uns anos para cá. A minha mulher nunca foi enganada, não nesta nem em qualquer outra situação. A primeira estratégia que ataquei foi a mais burguesa de todas: ginásio, assunto triste que não me convida a mais linhas. Falhada essa, é não sem orgulho que revelo ao mundo que passei a vir a pé do trabalho. Andar, com as pernas, é um modo de locomoção a que os portugueses se desabituaram, mal habituados que ficaram com a descida das taxas de juro nos anos 90 que deu a cada português três carros e com o bom serviço prestado pela rede de transportes públicos. Através de um cuidadoso subsídio do estado, o passe de Metro custa hoje 17,80€, situação que enterrou cada vez mais os cidadãos e que enterra cada vez mais o Estado - o Metro de Lisboa dá 180 e tal milhões de euros de prejuízo anuais, mais cêntimo menos cêntimo. Junte-se a isso um planeamento municipal que ostraciza o peão de diversas formas por vezes em simultâneo e é normal que a malta fuja da rua. Claro que sou privilegiado. O trajecto diário que percorro é esteticamente superior à média, mas mesmo aqui, no centro do centro, sinto-me desacompanhado e desamparado, uma espécie de dono de um sítio que mais ninguém quer. Sobretudo depois do pôr-do-sol, quando a noite se instala em Lisboa e a famosa luz dá lugar a luzes menos famosas. É romântico? Será. Mas gostava de ver mais congestionamentos no passeio, mais atropelos nas esquinas, mais vendedores ambulantes e passeios mais largos. Gostava que as pessoas - reparem, «gostava» que «as pessoas»: mais déspota não há - gostassem mais da rua e gastassem menos dinheiro em ginásios. Ver ruas cheias de gente é algo que me revitaliza e guardo na memória imagens de sítios assim: Nova Iorque, Madrid - sempre Madrid - ou o Cairo, onde vi um maranhal de homens e mulheres a comprar e vender coisas à meia-noite, no meio da rua, na frescura dos 35 graus que só a madrugada consegue trazer. Em Lisboa é ver-se a hora de ponta totalmente engarrafada e os passeios criminosamente pequenos e livres de seres humanos. Gordos. Entretanto, pensava que era o Nicolau Breyner que fazia um anúncio com o slogan «Portugal não é só teu» mas parece que afinal era o Herman, a minha memória atraiçoa-me, facto que descobri após uma não infrutífera busca no YouTube. Ah, e porque foi proveitosa a minha busca no YouTube? Não digam que não sou dado: