sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Miguel Sousa Tavares

Ao contrário de muitos que andam por aí, eu li o Equador. Mais: gostei. É um grande livro? Não é. Às cenas de sexo lembro-as a todas; frases nem uma. Não me envergonhou e estou, inclusivamente, a cogitar sobre a hipótese de ler o Rio das Flores. Dito isto, passemos à personagem. Miguel Sousa Tavares não tem - e esse é o grande drama - a gravitas intelectual que lhe sustente a arrogância. Coisa que, por exemplo, Pulido Valente tem. E não a tem porque Sousa Tavares comete o primeiro pecado do intelectual: deseja ser amado. Deseja, pior ainda, ser tido como um exemplo, vício de carácter que lhe virá do berço. VPV, aqui serve bem como contraponto, nunca desejou ser amado, nunca fez por isso, e desconfio que ficaria extremamente desagradado se isso viesse a acontecer. VPV nunca diria, como diz MST em entrevista a Carlos Vaz Marques, que sabe que o seu livro é bom porque até hoje ninguém o abordou na rua com o intuito de demonstrar uma opinião negativa. Nunca lhe passaria pela cabeça apontar «o leitor» como único juiz digno da sua obra. MST é um grande jornalista, um bom cronista, e um óptimo comentador de futebol (prefiro, sempre, os facciosos, mesmo os do FCP). Mas não é um grande romancista. E o seu - eventualmente justificado, reparem - desdém pela classe dos escritores portugueses não o permite ver isso. Às críticas responde com tiragens e recordes editoriais, ignorando convenientemente o facto de que nessa atitude é acompanhado por uma imensa horda de medíocres, com o os quais, diga-se, MST não pode ser confundido.