Ao ler a notícia sobre o seu AVC, fui ver quantos jogos pelo Benfica fez o Ricardo Gomes. Comecei a ver futebol a sério quando o Ricardo Gomes estava no Benfica, e quando o Ricardo Gomes estava no Benfica o Benfica jogava futebol a sério. O Ricardo Gomes é, portanto, uma das minhas referências afectivas no Benfica; faz parte do grupo de jogadores cujo AVC me deixa com um aperto no coração. Dizia, fui ver quantos jogos fez o Ricardo Gomes pelo Benfica: 100. 100 redondos, segundo a Wikipedia. É muito pouco, é um número que me surpreende pela escassez. Na minha minha memória o Ricardo Gomes tinha feito 500 jogos pelo Benfica. Sobretudo se compararmos com os 300 de Luisão, também defesa-central, também brasileiro, também - muito provavelmente - uma referência afectiva para quem começou a ver futebol, digamos, 15 anos depois de mim, os 100 jogos do Ricardo Gomes não parecem dignos de nota. Mas os ídolos não se substituem, não cedem à estatística, não estão disponíveis para serem constantemente reavaliados. E os jogadores como o Ricardo Gomes precisam de quem os tem como ídolos para não cairem no esquecimento, para não ficarem perdidos na sombra dos arquivos históricos. Tenho de falar do Ricardo Gomes aos meus filhos.