terça-feira, 15 de abril de 2014
The Death and Life of Great Portuguese Cities
Abriu há uns meses aqui no bairro uma loja, de esquina, dedicada à venda de material relacionado com desportos radicais. Tem um nome estrangeiro, uma montra com pranchas e casacos, e jovens à porta. Os jovens são amigos do dono (ou donos) da loja, e vão para ali passar os tempos livres. O horário de abertura da loja sugere que o dono também vai para ali ocupar os tempos livres, já que dificilmente a porta se encontra aberta antes da hora do almoço. Em dias de sol o grupo traz um banco lá de dentro, instala-o no passeio, e passa a tarde em ameno convívio, fumando marijuana, falando alto, e combatendo activamente a simpatia dos transeuntes. Têm carros de alta cilindrada que, para não pagarem o parquímetro devido, deixam frequentemente mal-estacionados, ocupando parte da via de circulação ou dos passeios. Nunca entrei naquela loja, nunca vi ninguém entrar naquela loja, ninguém que eu conheça entrou naquela loja. Imagino que haja alguma clientela - miúdos que querem começar a fazer snowboard ou a andar de skate e não sabem muito sobre o assunto - mas parece-me que aquilo sobrevive sobretudo à custa de algum financiamento familiar, mais vale o miúdo ter uma loja do que andar aí a drogar-se (infelizmente as duas coisas não se mostraram mutuamente exclusivas). Foi por isso sem surpresa que assisti, há dias, ao fecho de portas e desmantelamento do estabelecimento: era uma morte anunciada e desejada por muitos. A esquina encontra-se agora desocupada e o bairro espera os novos vizinhos.