quinta-feira, 24 de novembro de 2011
A greve
Se os trabalhadores são as principais vítimas das medidas de austeridade, também são as principais vítimas das greves gerais, andando ao sabor do calendário político das centrais sindicais, onde o «interesse do trabalhador» é instrumental em favor do interesse do sincicato. Oiço Carvalho da Silva falar sobre os objectivos da greve e parece que oiço um indignado: ele quer «dar um sinal forte», e outras ambições temperamentais do género. Carvalho da Silva sabe aquilo que está em jogo e sabe que não é possível evitar a falência de Portugal sem que a classe média sofra com isso, e por isso foge da sua responsabilidade enquanto representante da classe trabalhadora e refugia-se numa atitude de líder espiritual inimputável. João Proença também tenta fazer a defesa dos trabalhadores apontando para uma «reforma estrutural» na máquina fiscal nacional que anule a «economia paralela», num discurso bastante mais interessante que o de Carvalho da Silva e que colhe a minha simpatia. Mas a reforma que fala João Proença não resolve o problema a curto prazo, que é o cumprimento, sem desvio algum, do estabelecido com o financiador único da economia portuguesa, a troika: no final de 2011, o défice terá de estar em 5,9%, o que significa um esforço brutal que exige medidas de resultados imediatos. As «reformas estruturais» terão de ser feitas, mas não há tempo para esperar pelos seus resultados. Sim, a classe média é «a principal afectada» pelas medidas de austeridade, mas a «classe média» somos todos nós: não dá para escaparmos todos aos pingos da chuva.