segunda-feira, 9 de abril de 2012

A vitória
















A vitória de Micky Ward celebrada em The Fighter não é apenas a vitória - ou vitórias - conseguida dentro do rigue, apesar de estar aí concentrada a receita do filme épico. A grande conquista que o filme narra é a vitória improvável que consegue junto da sua própria família, constituída por uma mãe-eucalipto omnipresente (Melissa Leo), um batalhão de irmãs às suas ordens (são todas mais ou menos indistintas), e um irmão mais velho que vive à sombra de uma pequeníssima glória passada que não só mantém na sombra as aspirações de Micky (ter uma carreira no boxe), como ameaça destruir tudo à sua volta por causa do seu vício (crack, ou não estivéssemos nos anos noventa), corporizado por um irreconhecível e extraordinário Christian Bale (e pensar que Brad Pitt esteve com um pé nesta personagem...). É uma emancipação tardia que uma namorada destemida vem provocar (Amy Adams, oh, Amy) que permite a Micky a sua inscrição improvável na história do desporto, que vem a acontecer já depois da pacificação - e verdadeira união - do clã, rendido às provas do seu efeito nefasto na carreira de Micky, a quem finalmente é reconhecido o talento devido. As cenas de ringue foram reconstuídas o mais fielmente possível às originais, tendo sido contratada para o feito a equipa que filmou os combates para a HBO e usadas as câmeras de então, o que se revelou bastante eficaz na subtil composição do ambiente de «época» (e os filmes de época já são sobre os anos noventa...) Um filme falsamente pequeno (a preparação demorou anos: Mark Wahlberg passou quatro anos no ginásio) que resiste à tentação da narrativa heróica e que, com isso, triunfa a toda a largura do ecrã.