«Regressando do médico, entrámos num daqueles restaurantes populares que abastecem Lisboa à hora de almoço. Como o jogo de futsal já estava na TV, só tivemos de pedir jaquinzinhos e vinho. Entretanto, as mesas do restaurante ficaram repletas de povo. Deve ter sido por isso que um piquete de greve resolveu entrar pelo restaurante adentro aos berros, gesticulando e com cara de mau. Sabem qual é o efeito de um megafone dentro de quatro paredes? Não é bonito, é como ter os No Name Boys a fazer uma serenata mesmo junto aos tímpanos. Não, não foi bonito assistir à agressividade daquele piquete de greve. Cinco ou seis raparigas (entre os 20 e o 30) com os olhos embaciados pelo ódio do PCP começaram a insultar os empregados e clientes do restaurante. Naqueles dois minutos, a vanguarda do "Povo" nunca escondeu o ódio por aqueles que não tinham aderido à greve, nunca escondeu a raiva contra aqueles que não estavam nem aí para a sua jornada de luta. Ou seja, as meninas fizeram questão de mostrar o desrespeito que sentem pelas pessoas que pensam de outra forma. Na TV e nos jornais, os grevistas falam muito do "Povo", mas aquele piquete em concreto só conseguiu trocar palavras azedas com um povo em concreto, e a sua má-educação e arrogância acabaram escorraçadas por pessoas concretas. O concreto é lixado.»
Henrique Raposo