terça-feira, 29 de novembro de 2005

O ar da coisa

(A propósito da indignação do João, que eu não partilho, sobre o Bom Sucesso - Design Resort, Leisure, Golfe & SPA, relato uma curta conversa que mantive na passada Feira do Imobiliário, em Lisboa.)

Aproximo-me da maquete de conjunto, que já apresenta os projectos desenvolvidos. Inclino-me sobre a dita cuja, olho com atenção.

- Boa tarde, posso ajudá-lo?

Cinquentas, fato e gravata mal amanhados, bigode, eis o meu agente imobiliário evidentemente orgulhoso.

- Não, estou só a ver...

Arrependo-me rapidamente.

- ... por acaso até pode, espere lá. Diga-me só uma coisa, porque é que há arquitectos que estão aqui a desenvolver projectos que não aparecem ali no painel?

Aponto para um cartaz king-size com os retratos dos artistas tal e qual poster de estrela rock.

Pausa.

Ar de espanto do meu interlocutor.

- Porque é que diz isso?

- Olhe, por exemplo, aquela bolacha ali é do Graça Dias e do Egas José Vieira, e não vejo a cara deles ali atrás.

Intrigado.

- É arquitecto?

- Sou.

- Pois, isso tem a ver com as fases do projecto. Estamos a reservar alguns nomes para a segunda fase. Olhe, sabe de quem são estas aqui da ponta?

E aponta para três ou quatro caixas iguais às outras.

- Não.

- São do Chipperfield.

Orgulho, orgulho, orgulho.

- É para dar um ar mais internacional à coisa.

Não garanto, mas há fortes hipóteses de ter visto ali uma piscadela de olho.

- Obrigado, boa tarde.

João, vai conferir o projecto do Graça Dias e do Egas José Vieira. Uma autêntica aspirina para essa tua indisposição.