quarta-feira, 14 de dezembro de 2005
Aires Mateus: round two
O João defende que a exposição Aires Mateus: arquitectura é verdadeiramente uma exposição de arquitectura (ao contrário do que eu sugeri), não acreditando nessa «desconformidade entre a exposição e a arquitectura». Ou seja, nas palavras do João, neste caso a comunicação da arquitectura é feita em «concordância com o pensamento arquitectónico que se pretende comunicar.» Percebo o argumento (Manuel Graça Dias tem um ponto de vista semelhante, desenvolvido no Expresso desta semana) Seja. Aceito. Estamos então perante algo cada vez mais artístico, em todos os sentidos da palavra: criativo, único, independente, plástico, livre, emotivo, essencial. E estamos perante mais uma prova de que os arquitectos cada vez mais querem desenhar para arquitectos, porque só estes (raras são as excepções) serão capazes de acompanhar todas as intenções tão puramente apresentadas, podendo colocar-se na posição priviligiada do apreciador. Porque a procura tão intensa da radicalidade dos gestos arquitectónicos deixa pelo caminho todas as notas de rodapé essenciais à compreensão do todo. Ao fechar ao máximo, como o fazem os irmãos Aires Mateus, o buraco da fechadura por onde se espreita a arquitectura, é inegável que o fascínio é maximizado em detrimento da informação, da explicação, da discussão. Esta exposição serve para impressionar. Ao fazer isso usa a própria arquitectura que é escolhida, descontextualizando as obras e reutilizando os fragmentos dessa operação dando-lhes um novo significado ou, e aqui reside a base da nossa discordância, recuperando esse significado conceptual primário que as coisas tiveram antes de terem sido largadas no mundo. Esta é a dúvida: arquitectura sem pessoas é arquitectura?