quarta-feira, 7 de dezembro de 2005
Símbolos
Haverá algo mais arreligioso do que um par de ursos polares? Enquanto anda meio portugal a discutir a retirada massiva dos cinco crucifixos que ainda restavam nas escolas públicas mais remotas (acho bem, fica registado, apesar de considerar que um símbolo religioso esquecido e, provavelmente, ignorado numa parede de uma sala de aula, que como sabemos, é objecto do maior dos afectos por parte dos alunos, está longe de ser uma ofensa ou uma violação de uma qualquer liberdade fundamental), houve alguém que se lembrou de afastar do Natal o seu lado religioso. O que sobra?, pode perguntar-se. Parece que muita coisa. E parece também que fazer associar o menino Jesus, vá lá, as palhinhas e os pastores, vá lá, o burro e a vaca ao Natal é uma atitude semelhante a ter crucifixos pendurados em pregos nas paredes. Uma claríssima violação constitucional. Uma barbárie. E este Estado que se diz laico. Onde é que já se viu, querer tornar o Natal numa coisa cristã. Vai daí e os senhores responsáveis pela decoração natalícia da estação de metro da Alameda lembraram-se de, em vez do ofensivo presépio (v. palinhas, jesus, vacas e burros), presentear a laicidade natalícia respirada pela maioria dos utentes do transporte público subterrâneo de Lisboa com, vejam bem, um par de ursos polares cobertos por uma substância que me parece querer representar neve. Está bem. Concordo. A opressão natalícia já vinha sendo exercida há demasiados anos sobre a significativa comunidade esquimó portuguesa.