O blogue do não, enfim, anda a fazer uma boa campanha pelo sim. Desta vez a Sara Castro trouxe para cima da mesa um livro que, nas suas palavras, «não deixará ninguém indiferente». Trata-se da «abordagem serena» do João César das Neves sobre o aborto. Não li o livro, não tenciono lê-lo, mas o facto de ver «abordagem serena», «João César das Neves» e «aborto» na mesma frase levou-me a ler o parágrafo que a Sara nos oferece. Reproduzo-o (cá está, já não fiquei «indiferente»):
«este debate é o teste em que a nossa geração vai provar a sua dignidade e a sua elevação. A luta por numa sociedade digna e uma vida com sentido trava-se hoje neste campo. [...] O debate à volta da despenalização do aborto não é uma simples discussão política. Trata-se de um confronto civilizacional decisivo, em que se joga o\nfuturo da nossa sociedade. O que está em causa não é a sorte de algumas pessoas, mas toda a nossa cultura, porque as posições que se digladiam são duas formas opostas de ver o humano».
Uma geração a «provar» a sua «dignidade»? Um «confronto civilizacional decisivo»? «[F]ormas opostas de ver o humano»? Alguém tem de explicar ao João César das Neves que a serenidade da escrita não se resume à ausência de pontos de exclamação.