A equipa da GLCS iniciou o processo da construção projectual com uma aproximação tipológica de referências com vista à definição e compreensão dos requisitos técnicos e funcionais, que articulados com os condicionalismos da área de intervenção iriam influenciar a definição da estratégia de intervenção, nomeadamente na procura formal e disposição programática do edifício.
in Arquitectura & Construção nº47, «edifício Refer», texto não assinado de apoio à reportagem de FG + SG - Fotografia de Arquitectura sobre o edifício do Centro de Comando Operacional de Lisboa, da GLCS - Arquitectos Lda.
Depois deste parágrafo (infelizmente não assinado) o leitor desiste, vencido e enxovalhado. Não é só a total falta de sentido, o mau português ou a petulância argumentativa que me deixam boquiaberto com este parágrafo inicial (o texto vai melhorando, diga-se): é, sobretudo, o total desrespeito pela obra apresentada. Gosto do edifício - pode e deve ser visto no site das Últimas Reportagens - e considero o trabalho fotográfico excelente, como já é hábito em Fernando Guerra. Ver este trabalho ser acompanhado por um texto que abre com este parágrafo é assistir ao homicídio de qualquer possibilidade de comunicação com o leitor, que certamente se terá sentido atraído pelas imagens apresentadas. Infelizmente, não é caso único. Tiranto - e enumero-os - Manuel Graça Dias, Ana Vaz Milheiro e Jorge Figueira, parece que mais ninguém em Portugal resiste à tentação de produzir textos herméticos e indecifráveis quando chamados a explicar uma obra a um conjunto de leitores. Se não fosse tão cara oferecia a cada um dos nossos críticos uma assinatura da The Architectural Review, porque só posso colocar a hipótese de que eles não saibam que é possível escrever sobre arquitectura de uma forma que não seja este aborrecimento proto-teórico que parece saído de uma memória descritiva de um aluno de faculdade com aspirações a«intelectual». Mais uma fez, o trabalho dos arquitectos* e dos fotógrafos não merecia um texto assim.
* Como o texto não está assinado podemos estar na presença não de um homicídio mas de um suicídio, já que a hipótese mais provável é que o texto tenha sido escrito pelos projectistas. Nesse caso, devemos culpabilizar a revista, que não conhece a diferença entre um texto crítico e uma memória descritiva - só Deus sabe o que nós escrevemos nas memórias descritivas, e com isto quero incluir-me no rol de arquitectos que diariamente assassinam a língua para explicar «vãos», «volumes», «corpos», «materialidades» e mais o diabo a quatro. Se eu mandasse, as memórias descritivas eram todas assim:
«Este é um prédio muito lindo. Senhor presidente da câmara, por favor aprove-o.»
Eram florestas e florestas amazónicas que se poupavam em papel.