A propósito do último filme de Sean Penn (aquele do tipo que se vai suicidar para o Alaska ao som de Eddie Vedder) reparei que os meus amigos ateus partilham uma sensibilidade com os meus amigos católicos (generalizando): ambos condenam a nossa «sociedade ocidental». A cara que me lançaram quando eu exclamei «não há melhor sociedade do que a nossa» denunciou um diagnóstico sumaríssimo de demência em estado avançado misturado com uma condenação desta minha atitude de estar «sempre a contrariar» (não posso evitá-lo, sempre gostei muito dos ingleses). Os ateus (alguns) e os católicos (alguns) não gostam do «consumismo», do «materialismo», da «impessoalidade», da «FNAC», etc. No fundo acham que a «nossa sociedade» não tem «espiritualidade», que se demitiu de ter princípios morais,* e que já ninguém é do Benfica. A diferença é que os primeiros marcam viagens para a Índia e os segundos entram numa igreja e rezam. Mas eu insisti: se não é a nossa a melhor, qual é? Não me responderam e apontaram para uma idealização utópica. Concordei. É possível imaginar essas utopias de uma «sociedade melhor». Mas julgava que o sec. XX nos tinha ensinado a não tentar «aplicar» essas «utopias». Pelos vistos enganei-me.
* Isto é uma Oxford Comma. Os Vampire Weekend têm uma canção com esse nome e este é o respectivo artigo da Wikipedia. Eu sou pela Oxford Comma.