quinta-feira, 18 de setembro de 2008
«O que eu sinto»
Ultimamente tenho reparado muito nos adolescentes. Os adolescentes sempre me foram uns bichos estranhos, mesmo quando eu era um (não, não acredito na teoria da árvore e da floresta). Mas ultimamente há padrões de comportamento (toda uma carreira falhada na sociologia) que me têm desinquietado. Um deles é a violência verbal entre casais, se se pode aplicar a palavra «casal» a um par de adolescentes de sexos opostos. Invariavelmente, se vejo um casal teenager na rua, noto que estão a discutir e quase sempre de um modo muito agressivo. «Puta», «nunca mais te quero ver», «cabrão», «és nojento», «porca de merda». Over and over again. Não sei se nós éramos assim, mas suponho que não. Até porque quando não estão a insultar-se mutuamente, os adolescentes falam muito de «sentimentos». Que elas falem de «sentimentos», tudo bem, mas que eles ajudem à festa deixa-me perplexo. Ainda agora mesmo: «tens de compreender o que eu sinto, preciso da tua ajuda». «O que eu sinto»? Sinto? Quando eu tinha 16 anos, os únicos sentimentos que exteriorizava eram provocados pelos resultados do Benfica. E esses eram os únicos que eram tolerados pelo resto do bando. Hoje em dia imagino que um jogo do Benfica para as competições europeias que calhe em cima do horário dos Morangos poderá obrigar um rapazote ao zapping, e isto é muitíssimo triste. «O que eu sinto?», assim, no meio da rua, à frente de toda a gente? Não sei onde isto vai parar.