terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ficávamos aqui o dia todo

Olha, olha, 2004 outra vez. O debate é bom e o assunto inesgotável, porque a matéria que o compõe vem, sobretudo e para desespero dos profissionais (nós), das reacções emocionais que os edifícios provocam (já demonstrei em sede própria o meu descontentamento com o diagrama). Este é talvez o ponto que mais me afasta da resposta do João, isto é, não concordo com o subterfúgio hábil de desligar a má construção da arquitectura. Porque a má construção, mesmo quando realizada sem a intervenção de qualquer arquitecto (mesmo que seja o filho do construtor civil que tirou o curso «na privada» para assinar os projectos do pai), é arquitectura, na medida em que é a materialização de uma vontade, mesmo que uma vontade sub-consciente. É arquitectura sem arquitecto, facto, mas não é uma arquitectura totalmente órfã: não há pai mas há tios. E os tios são as obras de arquitectura desenhadas por arquitectos que essa arquitectura bastarda quer emular. E se anteriormente havia o modelo que era replicado vezes sem conta, agora não se propagam formas nem protótipos acabados mas um estado de espírito que deifica a criatividade, o novo, o diferente. Se uma estrutura de alçado é de cópia fácil (não é preciso ser um rocket scientist para perceber uma relação de proporcionalidade entre o vão e o paramento), a natureza da arquitectura contemporânea não se coaduna com exercícios de cópia e multiplicação (aquela janela só faz sentido naquela obra naquele contexto naquele ano naquele mês.) É por isto que os prédios de rendimento do século XIX não são maus (porque o que copiavam prestava-se a cópias) e que Massamá é mau (porque não sabe o que copiar). Uma cópia de uma obra do Turner resulta (tanto que alimenta o mercado da burla), uma cópia do urinol do Duschamp é apenas um urinol.