O maradona explica:
«(...) Não adiro nem defendo a luta de rua da Geração à Rasca porque considero que as políticas capazes de tornarem realidade o seu universo reinvindicativo são ou futeis ou prejudiciais. Isto está em absoluto contraste com o exemplo da luta cívica dos negros americanos, de uma parte importante das reinvidicações da juventude dos anos 60, da luta pela democracia dos anos 70 nos países mediterrânicos, das "massas" que destruiram o comunismo no Europa de leste, todas elas obtidas na rua, de facto; gosto (como toda a gente, aliás) de me imaginar a participar nelas, porque faziam de facto parte de um movimento que já era, de certa forma, "sistémico": julgo que a forma como se superou o Apartheid é um bom exemplo disso. O que se passa, portanto, é que não vislumbro na actual "luta" uma base e uma orientação que agrade ao grosso da população portuguesa, eu naturalmente incluido: a precaridade no emprego não me assusta ou perturba, só o desemprego; o desemprego dos licenciados nas suas respectivas áreas de formação não me escandaliza, só a ausência de dinamismo no mercado de trabalho; as baixas remunerações não se combatem aumentando as remunerações por decreto, mas sim obrigando os empregadores a lutar pelos empregados (ou seja: baixando o desemprego); a fuga dos "cérebros" para o estrangeiro agrada-me, pois os que um dia decidirem voltar trarão competências que nos enriquecerão de uma forma que a geração emigrante dos anos 60 nunca foi capaz de fazer. Mas, claro, não me interpretem mal: todas as lutas de rua que vençam merecem vencer. O que eu acho é uma de duas coisas: que é muito provável que a luta da Geração à Rasca seja um caso perdido a que o pessoal só adere por ócio burguês; ou, em alternativa, se por circunstâncias que lhes são necessária e totalmente alheios, vencer, a probabilidade de ficarmos todos pior é para mim mais que certa. (...)»