No passado dia 13 de Maio, o sol apresentava uma «auréola» visível de quem estava no santuário de Fátima. «Milagre», exclamou-se e reportou-se. Não é tanto a reacção de alguns fiéis mais, como eufemisticamente se costuma dizer, simples que me afasta de «Fátima», é antes a tolerância de todos os outros a este tipo de narrativas ingénuas, que é, a bom ver, uma tolerância paternalista e hipócrita.
Por outro lado, é também com alguma desilusão que vejo Stephen Hawking dizer que, afinal, «Deus não existe» porque (e aqui insere-se uma qualquer demonstração científica consensual). O paradoxo é este: o crente acredita num Deus que, por definição, escapa e escapará sempre a compreensão total por parte do homem. «Deus» é, assim, um conceito que visa aproximar o homem de Deus e, nesse sentido, sempre incompleto e transitório. O que Stephen Hawking quer dizer é que «"Deus" não existe»; e eu concordo, já que a história da relação do homem com Deus é feita da substituição permanente daquilo que é «Deus». Para apelar ao coração do espírito mais científico, consideremos «Deus» como o electrão e relembremos o princípio da incerteza: no momento em que, finalmente, estamos convencidos de que conseguimos apontar o dedo à partícula, a partícula não está, afinal, onde era suposto estar. Stephen Hawking matou o «Deus» que o acompanhou toda a vida, mas essa não deixou de ser apenas uma decisão de Stephen Hawking.