Pelo que fez nos últimos seis anos, José Sócrates não merece ser reeleito. Pelo que tem feito nos últimos 15 anos, o PS merece ser oposição durante um longo período de tempo. Não é mistério para ninguém a composição do próximo governo: PSD-CDS. Esta é uma solução que terá o meu apoio e o meu voto.
Percebam que não posso votar à esquerda do PS. As eleições não são um concurso miss-mundo. A simpatia que geram em nós alguns políticos nunca deverá toldar-nos o juízo. Falo de Jerónimo, evidentemente: está ali um homem que está na política com a motivação certa mas com os motivos errados. Votar PCP é expressar o desejo de uma sociedade comunista; Cuba para os cubanos.
No Bloco de Esquerda nunca votarei, por motivos políticos, éticos e sociológicos.
Resta portanto saber a qual dos partidos da AD entregar o meu voto. Ideologicamente não há muito a separar a parte do PSD em que me revejo e o CDS: são ambos partidos que defendem um modelo de sociedade assente na iniciativa privada e um Estado que não é um Estado mínimo. Ambos sabem que o MoU é uma oportunidade para reformar estruturalmente o país. Ambos sabem que é através do crescimento económico que Portugal pode ter viabilidade e ambos têm as propostas certas para o atingir.
Sobram as pessoas e os motivos instrumentais, como se diz agora. Não tenho por Passos Coelho uma admiração especial: acho-o mal aconselhado e não lhe reconheço uma visão estratégica para o futuro do país particularmente inspirada. Por outro lado, parece-me alguém que sabe ouvir (e depois de Sócrates é preciso alguém que saiba ouvir) e que tem o diagnóstico certo do país (e depois de Sócrates é preciso alguém que veja aquilo que nós vemos). Não vejo razões para que, depois de formado um núcleo duro de governo competente, Passos Coelho não possa ser o primeiro-ministro que o país precisa.
Antes da campanha estava decidido a votar CDS, mas não gostei da campanha inchada de Paulo Portas. Ao contrário de Passos Coelho, Portas é um político talentoso que tem a seu favor uma menor responsabilidade de compromisso. Fez, sem sombra de dúvida, a melhor oposição ao PS de Sócrates, ajudado pelo facto de o PSD ter mudado de líder de ano a ano. Mas a campanha eleitoral serviu para diluir parte da identidade do CDS, quando o CDS percebeu que continuava a crescer para além do seu eleitorado natural.
Votar no PSD será reforçar a derrota de Sócrates; votar no CDS será reforçar a coligação. Moeda ao ar?