sexta-feira, 11 de maio de 2012

Bernardo Sassetti (1970-2012)

















Não sou pessoa para me emocionar muitas vezes, o que faz com que me lembre de quase todos os momentos da minha vida em que isso aconteceu. Uma delas foi durante o espectáculo Três Pianos, que juntava o Bernardo Sassetti a dois pianistas, à partida, mais talentosos que ele. Sassetti não tinha, parecia-me, o génio técnico do Mário Laginha nem a formação irrepreensível do Pedro Burmester, mas tinha alguma coisa que o tornava distinto e que é difícil de identificar. Lembro-me de a minha mulher, que tem formação em piano e com quem assisti a esse espectáculo, me ir explicando durante a ária das Variações Goldberg, se não me engano, que ela conhecia de tê-las estudado, que o Pedro Brumester não tocava uma nota fora da pauta, enquanto se espantava, num misto de admiração e condenação, com a liberdade tomada pelo Bernardo Sassetti, que fugia constantemente do escrito, como se Bach tivesse escrito uma peça de jazz. Sassetti estava entusiasmado nesse dia, quase como se precisasse de agradecer a oportunidade que lhe estavam a dar, ele que já tinha uma carreira invejável, por mérito próprio. Mas o tal momento aconteceu durante um dos solos, onde tocou uma tema escrito para a peça «Frei Luís de Sousa», que me escuso de tentar descrever (vão ver o DVD). Por muito que eu admirasse a carreira do Bernardo Sassetti (raramente não gostei de uma obra sua), por muito que eu gostasse da sua imagem pública, que dava a conhecer um homem apaixonado, exigente, impulsivo, muito genuíno e dado a sorrisos, são aqueles cinco minutos que me fazem sentir esta morte como se de um amigo se tratasse. A sua música fica, mas custa pensar que acabou.