quinta-feira, 13 de setembro de 2012
A portagem
Concorde-se ou não com o tipo de medidas que o governo está a implementar para atingir as metas definidas no compromisso com a troika, há um aspecto da indignação que acho profundamente equivocado, que é o argumento de que «os sacrifícios não estão a levar a lado nenhum». Se isso é verdade para a economia interna do país, no sentido em que demora a arrancar o tão prometido crescimento, o mesmo não se poderá dizer da reputação internacional do país. Convém lembrar que o governo de José Sócrates - que em 2009 prometia TGVs, aeroportos e computadores para todos - deixou Portugal à beira da falência e sem capacidade para pagar salários à função pública, quanto mais pagar as dívidas a credores e fornecedores. Em 2011, Portugal era igual à Grécia aos olhos da comunidade internacional. Era um estado falhado e sem futuro. Por muito que a austeridade nos doe, e mesmo concedendo que há injustiças intoleráveis em curso ao abrigo de uma agenda liberal fortemente ideológica, não se pode negar esse efeito positivo, que é absolutamente essencial para reclamarmos no futuro a nossa independência financeira. Podemos - porque isto é uma democracia - correr com este governo e substituí-lo por outro mais próximo das nossas simpatias ideológicas, mas não devemos acreditar que é possível fazer o ajustamento que nos foi imposto de um modo menos agressivo para todos nós. Pode haver «outro caminho», mas a portagem é a mesma.