quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Vergonha

Vergonha. É a única palavra que serve para descrever o comportamento recente do PS, mas também dos tidos por «senadores» do PSD, e, já agora, de Paulo Portas. Queriam o quê, caralho? Queriam escapar todos por entre os pingos da chuva? Queriam fazer um ajustamento de não-sei-quantos mil milhões à economia portuguesa sem afectar «os mais desfavorecidos»? «Os mais desfavorecidos», ficam já a saber, são 85% a 90% dos portugueses (f: Complexidade e Contradição Bureau of Labor Statistics), somos nós, é a classe média que é cada vez classe média baixa, é o professor o enfermeiro o empregado de balcão o quadro da empresa de painéis solares o engenheiro da câmara o «empreendedor». Queriam «cortar a despesa», era?, sem que o outro lado dessa despesa não desse por isso? A Priscila explica, para quem ainda não percebeu. Explica porque razão é praticamente impossível que haja dois caminhos para atingir os objectivos que o governo de José Sócrates fez o favor de definir no Memorando. Não há: há um, é este, e Vítor Gaspar ocupa um lugar muito, mas muito discreto na lista dos «culpados».

Não queria deixar de dar uma palavra muito especial aos porta-vozes do PS (que se multiplicam como coelhos, quero é ver como é que vão tirar o Tó Zé do poleiro, estamos cá para ver): quando os senhores começaram a ladrar sobre a necessidade de alargar o prazo do ajustamento, esqueceram-se de avisar o país que isso só seria possível se o país cumprisse todos os objectivos a que se propôs (isto é, a que o PS se propôs) de modo a ganhar algum capital de confiança das pessoas que estão a pôr cá o dinheiro. Isto de vir para a televisão dizer que se está «indignado» com as medidas ao mesmo tempo que se canta vitória pelo alargamento do prazo («como o PS sempre disse»), é o mesmo que passar o dia a dizer que são dezasseis horas e vinte minutos e exclamar, às dezasseis horas e vinte minutos, que, «como passámos o dia a dizer, são dezasseis horas e vinte minutos!»

Portanto, façam um favor ao país, façam um favor a todos aqueles que começam a ver a fome a aproximar-se, e não façam de conta que «existe outro caminho». Isto é brincar com as pessoas, e as pessoas não estão para brincadeiras.