segunda-feira, 26 de junho de 2006

O anti-pendular

No estudo de cidades, a expressão movimento pendular serve para descrever o duplo trajecto diário casa - trabalho - casa. Está associado ao conceito de suburbanidade, que obriga as pessoas a viver longe de onde trabalham. Nada disse se passa comigo, no entanto sou uma espécie de anti-pendular. Vivo numa walking distance de onde trabalho, e passo a maior parte do dia no centro da capital do país. A minha rotina burguesa não obriga ao uso do carro. Felizmente, acontence que a minha rotina diária não cabe toda no binómio casa - trabalho. Todos os dias (ou quase) faço vinte quilómetros para lá, e vinte quilómetros para cá, sempre, quase sempre, já depois do pôr-do-sol. Os pendulares são-no na impossibilidade de alternativas; eu sou anti-pendular por gosto. Cruzamo-nos, partilhando a estrada no mesmo sentido, mas tudo me separa deles. Daí a umas horas todos terão posto os chinelos e estendido os pés; eu estarei no sentido contrário da mesma estrada. Às vezes o dia é o mesmo do deles - o dia seguite. Mas antecipo-me em oito horas, naquilo que é a inversão do conceito. Partilhamos contudo o preço absurdo da gasolina, e nesse aspecto sou o mais suburbano de todos: ponho sempre 10 euros.