segunda-feira, 26 de junho de 2006

Shevchenko

(...) Valia a pena haver mais xadrez e muito menos futebol (...).

Pacheco Pereira

Pacheco Pereira, na enésima tentativa de fazer o país deixar de ser a «futebolândia», contrapõe com o xadrez. Enumera a lista de qualidades que o jogo tem, analtece a nobreza dos jogadores, elogia, no fundo, a inteligência inerente à coisa toda. Sem cair no erro de considerar que Pacheco Pereira fala mesmo a sério, passo a explicar porque razão não se pode falar de futebol como um jogo. Numa palavra, a alienação de que fala o Pedro Mexia. Pacheco Pereira não gosta da alienação pelo futebol, apenas pelo futebol, não estou a dizer que Pacheco Pereira «recusa totalmente a alienação» (v. Mexia). O futebol, como diz Nick Hornby no seu Fever Pitch, é o regresso semanal à infância (imagino o xadrez como o antecipar mensal da terceira-idade). No futebol, ninguém (a não ser os suecos) está interessado na justiça do resultado, por exemplo, ou na nobreza dos seus jogadores (a não ser a direcção do Sporting). Repare, Pacheco Pereira, trata-se de pura emoção descontrolada, um circo romano sem os leões mas com pitons. Como é possível alguém emocionar-se com um jogo onde «nada se esconde, tudo se vê e não é possível fazer batota» (tirando na Suécia)? Não, Pacheco Pereira, não, o futebol não é jogo. É uma batalha em forma de desporto, e não digo isto só pensando no jogo de ontem. No futebol, somos sempre nós contra eles. Não estou neste momento a ver o Suíça-Ucrânia porque não me consegui decidir por nenhuma. Mesmo se soubesse que iria ser o melhor jogo do ano (imaginemos um 5-3 para a Ucrância, com 2 golos de pontapé de bicicleta do Shevchenko e...), não veria o jogo se não conseguisse escolher o meu lado da trincheira. Deixo-o em paz, Pacheco Pereira, porque acabei de me aperceber que estou pela Ucrância. Last request: decore este nome, Shevchenko, faça-nos lá o gostinho. Imagine que é um jogador de xadrez.