Para um cidadão de direita, a chegada (ou breve aparição mediática, vamos ver) ao panorama político português de um partido como o PNR é uma boa notícia*.
(Pausa para o leitor se indignar, lançar impropérios ao autor deste blogue, então o cabrão é-me fascista, nunca me enganou, os cabrões multiplicam-se como cogumelos, é vê-los a sair das tocas, todos ao Campo Pequeno.)
E é uma boa notícia porquê? É uma boa notícia porque recentra o espectro ideológico. Para quem já votou CDS (não me orgulho, não me envergonha), o partido mais à direita do parlamento, sabe que não é fácil ouvir recorrentemente associações entre este partido e a «extrema-direita». Sem o PNR, ou sem a «extrema-direita» propriamente dita, os partidos de centro-direita em Portugal são empurrados para o fim do arco, o fim da linha. Sem o PNR não deixa de haver o conceito de «extrema-direita». Para quem não tem os mínimos olímpicos do conhecimento ideológico a «extrema-direita» passa então a ser o partido «mais à direita», o que leva a que haja quem pense que quem se identifica com a «extrema-direita» votará, naturalmente, nesse partido. Esta última consideração não é totalmente falsa (uma pequena parte dos cidadãos neo-fascistas votará, ou terá votado, no CDS, algo a que o CDS é alheio, obviamente), mas a primeira é apenas uma patetice. Assim, o PNR é uma espécie de pára-raios do ódio popular e, simultaneamente, uma chamada de atenção: o CDS é apenas um pequeno partido confuso e burguês (liberal, conservador, democrata-cristão). Para grande parte dos eleitores isso só se terá tornado óbvio pós-PNR. É isto que lhes devemos.
* É claro que isto pressupõe o cumprimento, por parte do PNR, enquanto partido, da lei. Não estou a falar das Frentes Nacionais, nem dos cabeças rapadas: estou a falar de um partido político minoritário a quem devemos permitir o direito de expressão, porque é essa expressão que, em última análise, os irá expôr. E o povo, gostamos de acreditar, não é estúpido.