Debrucei-me sobre o modo como o acesso às profissões do desenho foi, nos últimos vinte anos, objecto de uma explosão na procura, quando estas profissões se tornaram populares, mesmo perante a evidência da crise.
E considerei que aquela explosão trouxe uma constatação: a escassez do mercado (mesmo quando ele estava sobreaquecido). O que nos diz que não será o momento do licenciamento e do monopólio das "assinaturas" que evitará que a situação piore, em época menos frenética. Se o pleno emprego não virá por decreto, a substância de uma afirmação das profissões decorrerá de outros factores, que é preciso estudar, não tanto para constatar a nossa frustração, mas para entender as formas de relacionamento económico e social que contextualizam a nossa actividade. E como não haverá uma diferença na substância, só pela força de uma lei, teremos de construir um outro projecto colectivo, menos centrado na protecção legal, e mais atento ao que mudou.
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Podemos gastar os próximos anos em arranjos internos, de pequenos poderes, surdos em relação ao que se passa no mundo real, indiferentes aos desafios emergentes, em busca daquela lei que verdadeiramente "salvará" as disciplinas do desenho, a cidade, os jovens profissionais e o resto. Mas a capacidade de construir um novo programa para a acção, com visão prospectiva, exige que abordemos, num clima de abertura, questões como a economia da profissão e a colaboração interprofissional.
Pedro Brandão, Ensaio sobre o hoje e a substância (parte 2), in Arquitectura e Vida, Abril 2007