quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Bárbara Reis
O Público tem um novo director. Uma nova directora, Bárbara Reis. Como isto ainda não é a Suécia, é especialmente louvável que estejamos na presença de uma mulher. A tarefa de suceder a José Manuel Fernandes, todos sabemos, é exactamente essa: suceder a José Manuel Fernandes, que, justamente ou não, marcou o Público como oposição ao poder político (sobretudo ao poder socialista). Quem queria essa oposição, já está a fazer de José Manuel Fernandes um mártir; quem é de esquerda, sente-se no último dia mandato de George W. Bush. O primeiro impacto desta nova direcção foi desanimador: vinham para purgar o Público do seu «excesso de carga ideológica» e os editoriais deixariam de ser assinados. Parecia que queriam mudar de opinião mas sem assumir a responsabilidade por ela. A pergunta «Quem é Bárbara Reis» ganhou ainda mais força. Pois bem, Bárbara Reis, sentindo essa inquietação da vox populi (enfim, das 92 pessoas que ainda lêem jornais em Portugal), foi ao Carlos Vaz Marques falar de si. É uma entrevista notável. Bárbara Reis tem um tom de voz que transborda confiança (há quem faça isto com as caligrafias, eu faço com os tons de voz) e uma atitude surpreendente. Percebemos que Bárbara Reis não tem um especial interesse pela política nem pela necessidade de opinião. Só se entusiasma verdadeiramente quando fala do jornalismo que viu nos EUA, do rigor obsessivo pelo fact-checking, pela pura qualidade do trabalho. Fala na Somália e de Nova Iorque de igual modo: só interessa o que daí retirou em termos jornalísticos. Tudo isto dito com uma grande simplicidade e descomprometimento de quem assume que o seu maior desafio é «ser feliz» (tanto pessoal como profissionalmente). Não sabemos se esta equidistância política que Bárbara Reis anuncia é possível e até honesta (Bárbara Reis pode ser um perigoso lobo em pele de cordeiro), mas eu já expliquei que vou lá pelo tom de voz. Bárbara Reis é a nova directora do Público: é mulher, está grávida, e quer «ser feliz». Eu estou convencido. Resta saber se a redação também estará.