segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Deixem as raízes sossegadas
A última edição da revista Sábado - ou seria a penúltima, ou ante-penúltima?, há um sector da minha casa-de-banho que tem um comportamento muito semelhante ao das salas de espera de consultório - trazia uma reportagem sobre um site que a Gwyneth Paltrow criou para ensinar as pessoas a viver como ela. O site, sem surpresa, versa sobre o estilo de vida «saudável», sobre sumos e raízes impronunciáveis, sobre alongamentos e agachamentos de todas as espécies, e até, ao que parece, sobre filmes e livros que a boa Gwyneth recomenda. A jornalista - não me recordo do nome - escrevia uma peça bem humorada, sarcástica q.b., dando continuidade à chacota de que foi alvo Paltrow nos jornais ingleses. Eu também queria fazer chacota de Gwyneth Paltrow, mas não é só o óbvio imperativo estético que me impede: é o facto da newsletter do site contar já com 150 mil assinantes. Perante isto, parece-me que o alvo da troça está errado. Tudo bem que é mais catártico atirar tomates aos «ricos e poderosos», mas aquelas 150 mil almas é que me motivariam o arremesso das peças de fruta (o tomate é um fruto, nunca se esqueçam disto) e das raízes recomendadas no site da actriz. Que haja quem queira viver como uma actriz famosa não surpreende quem vê o Ídolos religiosamente (qual é o problema?, se for preciso levamos isto lá para fora) porque essa pessoa já sabe que o ser humano é um abismo e que a sanidade mental é um bem escasso, mas não deixa de ser objecto de reflexão. Eu estava convencido de que o «glamour» das estrelas nascia devido à nossa inveja - ainda que saudável - perante aquilo que elas têm, e não por aquilo que elas têm de fazer para terem o que têm. É normal que as pessoas queiram ser a Gwyneth Paltrow, mas eu pressuporia que as pessoas quisessem ser a Gwyneth Paltrow devido ao dinheiro que ela tem e às coisas que ela pode fazer por causa desse dinheiro, e não devido aos sacrifícios a que ela tem de se submeter para poder continuar a cobrar o que cobra por filme: fazer exercício físico desenfreado, comer raízes, estar casada com o Chris Martin. Voltando ao Ídolos, eu percebo que as mulheres queiram ser a Cláudia Vieira (e agradeço o esforço), mas perceber que haja quem ache que é por ir 2 horas por dia ao ginásio e deixar de comer carne de vaca e de porco que fica com o aspecto da Cláudia Vieira, deixa-me exasperado. Meus amigos, não é Gwyneth Paltrow quem quer, muito menos Cláudia Vieira: ou se nasce como elas nasceram, ou então a vossa meta é a Floribela. E se é para isso, mais vale deixar as raízes sossegadas.