quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Ainda bem que não acabei com o blogue (ainda)
Tenho vindo a descobrir que não percebo a motivação das pessoas. Não percebo o que elas fazem porque não percebo o que as leva a fazer o que fazem, nem qual é o objectivo que pretendem. Esta notícia, por exemplo, cujo título é Sócrates chumba prémios a grávidas da TAP (foda-se, é que começa logo por aqui, não se trata de «grávidas», como se lerá mais à frente, está tudo, tudo doido), provoca em mim toda uma série de perplexidades. O que se passou foi o que se passa em muitas empresas: as 10 empregadas da TAP que estiveram de baixa de maternidade em 2009 (cá está: não são as «grávidas», são as mulheres que tiveram filhos em 2009, se querem arranjar uma palavra usem «parturiente», vá) não receberam o prémio anual pelo motivo de se enquadrarem na excepção prevista para as pessoas que são «absentistas» durante mais de 5 meses (5 meses, o que significa que pode ter havido gajos - e gajas, que eu não discrimino - que estiveram 4 meses de «baixa psicológica» e que receberam o prémio à mesma). O verdadeiro escândalo não é isto acontecer - enfim, é, mas estas merdas acontecem, a vida está difícil, ter um emprego já não é mau -, o verdadeiro escândalo é o tom da notícia ser todo construído à volta de uma suposta «discriminação do trabalho feminino». Isto é que revolta, caralho! «Discriminação do trabalho feminino» é, por exemplo, só contratar homens para cargos em que é preciso «pensar», por hipótese, ou pagar menos a mulheres só pelo facto de serem mulheres. Estar a foder a vida às mulheres que decidem ter filhos não é «discriminar» o «trabalho feminino», tenham lá paciência, é «discriminar» o país todo e a Segurança Social em particular, hipotecando aquilo das gerações futuras. É particularmente («particular», «particularmente», sou um «escritor» de recursos muito limitados) chocante assistir à conivência do gabinete do primeiro-ministro com esta situação, quando todos sabemos que foi este mesmo primeiro-ministro quem mandou fazer uns cartazes e uns powerpoints a anunciar a abertura de uma conta com 200 euros por cada bebé, como se estivesse a salvar a humanidade do envelhecimento geral. Ter um filho, ser responsável por um parto, não é «absentismo», não é estar de baixa psicológica de férias no Brasil, é dar ao país uma dádiva raríssima. «Absentismo»? Até parece que as mulheres andam a ter aos 5 e 6 filhos por década, tal é o medo que elas comecem para aí todas a parir só para irem para casa com o prémio, deixar de dormir à noite e mudar fraldas e levar com vomitados em cima só porque se pode estar em casa e receber o prémio à mesma. «Discriminação do trabalho feminino», pelo amor de deus, como se ter um filho fosse uma merda «feminina», como por exemplo ter mau sentido de orientação. E 10? Na TAP inteira tiraram o prémio a 10 trabalhadoras para quê? Para equilibrar as contas? 10 em quantos? Quantos trabalhadores tem a TAP, digam-me! Dez? Vou ver à net.