terça-feira, 29 de junho de 2010
O terceiro objectivo do futebol
De um certo ponto de vista, é comovente ver a selecção do nosso país ir de uma forma tão empenhada de encontro aos nossos desejos: isto correu de uma forma tão perfeitamente previsível que até parece que foi por acaso. Não foi. Nós já sabíamos que depois de ganhar e de não perder, Queiroz tem como terceiro objectivo no futebol o perder por poucos. Esse espírito foi passado de uma forma admiravelmente eficaz para os jogadores que foi sem esforço que estes cumpriram aquilo que deles se esperava: darem-nos razão. Antes da partida para a África do Sul já toda a gente avisava: o Pepe está sem ritmo, o Deco, para além de velho, nunca teve respeito pela selecção, o Ricardo Costa não serve nem para titular do Sporting, o Ronaldo não vai fazer nada sozinho; é, pois, com alguma satisfação que constatamos que o Pepe estava sem ritmo, que o Deco, para além de velho, não teve respeito pela selecção, que o Ricardo Costa nem para titular do Sporting serve, e que o Ronaldo não fez nada sozinho (nem, a bem dizer, acompanhado). Por isso, e em vez de nos atirarmos ao Queiroz e à sua cobardia táctica, aplaudamos o facto de, pela primeira vez, e sublinho, pela primeira vez, Portugal ter feito um campeonato do mundo normal - 1966 foi a glória, 1986 foi a vergonha, 2002 foi a vergonha, 2006 foi a glória. Claro que poderíamos ter tentado ganhar este jogo à Espanha, mas isso só aumentaria o nosso sentimento de frustração: ai se aquela bola tivesse entrado. Assim, não há ais nenhums e podemos seguir com as nossa vidas. Mas quem precisa de um consolo - mais do que um alvo - fica a nota que perdemos com a mais do que provável campeã do mundo. Teríamos perdido com o segundo classificado (o Brasil), o terceiro classificado (a Alemanha), ou o quarto classificado (o, err, Uruguai), mas eu confio no poder de acreditarmos nos nossos sonhos.