terça-feira, 6 de julho de 2010

Against interpretation



(daqui)

Agora os arquitectos explicam os edifícios através de diagramas coloridos. Os diagramas coloridos explicam o processo que conduziu ao resultado final. Aquilo que devemos admirar não é, portanto, o resultado final - aquilo que irá ser construído e agredir o dia-a-dia do transeunte - mas sim o processo, e com isso o criador reclama para si a atenção devida à obra. O sinal de alarme devia ser dado pelo simples facto de se considerar que a obra carece de explicação, mesmo antes de percebermos que essa explicação não é mais do que uma manobra de propaganda destinada a condicionar a nossa própria apreciação: o arquitecto mostra-nos o edifício e diz-nos como o devemos interpretar. O diagrama assume-se como justificação irrefutável de uma obra que é suportada pelo diagrama - se nada mais existir que a suporte; o arquitecto reclama assim para ele a autoridade de um universo que se justifica a si próprio, como se nada mais houvesse para o justificar. O diagrama é a chave que revela a solução do enigma, e quem não tem o diagrama fica necessariamente sem a solução. É claro que o diagrama quer substituir a crítica - a crítica erudita e a crítica popular - anulando qualquer outra via que não a sua. No fundo, atira os foguetes e apanha as canas. Esta procura de prazer solitário tem um nome.