(...) Num lance rápido o jogador uruguaio marcou o 2-3 (foi Maxi Pereira mas podia ter sido qualquer outro; Forlán à parte, a equipa é feita de gente anónima, jogadores medianos que apenas ganham espessura épica com a sua circunstância) (...)
Eduardo Nogueira Pinto
A frase citada encaixa na perfeição no raciocínio comovente do Eduardo - mas não é verdadeira: o Maxi, ó Eduardo, «gente anónima», jogador mediano? O calor e o meu coração não me permitem aguentar coisas destas. O Maxi Pereira anda há três anos a sedimentar a sua espessura épica que nada deve à circunstância (que é a mesma de um conjunto de pessoas epicamente bidimensionais como, vá, o Luís Filipe) mas sim à espantosa capacidade que ele tem de tornar evidente a sua dedicação não ao futebol, não à pátria, não ao clube (tudo entidades abstractas), mas sim aos 90 minutos de cada jogo em concreto. Ver o Maxi Pereira trabalhar semana após semana redime temporariamente todos os males do mundo. Admito que o seu estilo de jogo possa ser comparado ao de um funcionário público empenhado e muito competente, mas devia ser pecado considerarmos que um funcionário público empenhado e muito competente é gente anónima, que é um jogador mediano sem espessura épica, que no fundo é alguém que não tem nem a aparência física nem o currículo para trabalhar no sector privado. Eu não tenho dúvidas nenhumas sobre isto: se no Uruguai jogassem 10 Maxis à frente da baliza, a Holanda nem voltaria para a segunda-parte tal seria a vergonha.