Agora o país escandalizou-se com o caso da idosa morta no apartamento há oito anos. A SIC fez inclusivamente uma reportagem sobre a «solidão» e a «velhice» e flagelo do anonimato urbano e esses disparates assim. Foi a Rio de Mouro, «uma freguesia com 46 mil habitantes», e entrevistou um idoso que não tem ninguém com quem falar. Curiosamente, a mesma SIC conseguiu chegar à fala com o único familiar que apareceu no local, um sobrinho, o parente vivo mais próximo (todos os irmãos já estão mortos), que, nas suas palavras, não se sente culpado ou arrependido pelo que se passou porque ele já «tinha ligado para a GNR» e não é o «único» parente vivo e não pôde fazer nada na altura porque «estava sozinho». Um sobrinho, atenção, não um primo afastado emigrado na Suíça. A sorte foi que alguém se interessou pelo imóvel e o fisco conseguiu vendê-lo, tivesse sido no campo e o imóvel lá ficaria com a idosa.
P.S: A minha vizinha da frente é uma idosa, como se diz, uma senhora muito simpática que me reconhece sempre na rua. Não a vejo há uma semana, talvez: quanto tempo devo esperar até arrombar a porta?