O Papa produziu nessa entrevista declarações muito mais relevantes para o futuro próximo da Igreja do que essas. Foram estas:
«É necessário ampliar os espaços de uma presença feminina mais incisiva na Igreja. Temo a solução do “machismo de saias”, porque, na verdade, a mulher tem uma estrutura diferente do homem. E, pelo contrário, os argumentos que oiço sobre o papel da mulher são muitas vezes inspirados precisamente numa ideologia machista. As mulheres têm vindo a colocar perguntas profundas que devem ser tratadas. A Igreja não pode ser ela própria sem a mulher e o seu papel. A mulher, para Igreja, é imprescindível. Maria, uma mulher, é mais importante que os bispos. Digo isto, porque não se deve confundir a função com a dignidade. É necessário, pois, aprofundar melhor a figura da mulher na Igreja. É preciso trabalhar mais para fazer uma teologia profunda da mulher. Só realizando esta etapa se poderá reflectir melhor sobre a função da mulher no interior da Igreja. O génio feminino é necessário nos lugares em que se tomam as decisões importantes. O desafio hoje é exactamente esse: reflectir sobre o lugar específico da mulher, precisamente também onde se exerce a autoridade nos vários âmbitos da Igreja.»Apesar daquela introdução cautelosa ao tema ("machismo de saias", "a mulher tem uma estrutura diferente do homem", etc.), não há nenhum modo pacífico de cumprir o desejo que o Papa expressa aqui: "O génio feminino é necessário nos lugares em que se tomam decisões importantes." Das duas uma: ou se acaba o celibato, ou se ordenam mulheres (ou ambas, claro). Não há outra forma de garantir a presença das mulheres nos lugares onde se tomam "decisões importantes", por muita "teologia da mulher" que se tente. Só garantindo o acesso das mulheres aos mesmos corredores dos homens se pode acabar com o machismo de calças que hoje vigora na Igreja. Só com uma postura de igualdade radical de géneros poderá a Igreja Católica manter a sua relevância social e cultural. Se não o fizer cairá no erro da tentação do isolacionismo virtuoso (poucos mas bons) que será trágico para uma instituição que se quer universal. Esperemos.