quinta-feira, 29 de março de 2007

Géneros

Já há algum tempo que o Pedro Mexia transformou o Estado Civil num fenómeno puramente literário. A forma como diz tem agora carta verde para se sobrepor ao que diz. Há uma atenção à palavra que vem da poesia, que é notória post após post, num exercício de forma e de ritmo (quase) profissional. É um blogue à procura da palavra certa, da frase certa, sem cair no facilitismo do aforismo. O «Pedro Mexia» blindou o Pedro Mexia; a primeira pessoa passou a ser um narrador de si mesmo que, como qualquer narrador, não se confunde com o narrado. Como já foi dito, isto representa uma sublime adequação ao meio, uma reinvenção do estilo da escrita blogosférica (não nos podemos esquecer de que foi o Pedro Mexia a inventar o estilo que nós todos tentámos copiar). Como qualquer (bom) artista, criou, analisou, desinteressou-se e voltou a criar. Fases que se vão tornando faces da mesma moeda. O seu percurso tem vindo a evidenciar uma vontade de apuramento estilístico notável, que procura descobrir aquilo que é escrever num blogue, e de que modo é que isso não se confunde com qualquer outro tipo de suporte literário. Aquilo que nós, seus leitores, temos vindo a assistir em directo é à criação de um capítulo na história da literatura portuguesa (o Pedro não vai gostar de ler isto, paciência). Pessoalmente preferia o estilo mais descuidado e combativo da Coluna Infame, ou o lado lúdico do Dicionário do Diabo. Mas percebo a vontade do Pedro Mexia, corrijo, a necessidade do Pedro Mexia em não se ficar pelo experimentado, em dignificar esta escrita, este meio, não o deixando cair na vulgaridade própria da blogosfera, nem na aparente subestimação em relação aos outros estilos, a poesia e a crónica, sobretudo. Resta-nos agradecer poder assistir a isto tudo in loco, sem pagar bilhete.

Ora, posto isto, tinha custado muito ter conspurcado essa lindeza toda com um itálicozito a anunciar o último É a Cultura, Estúpido, que por sinal foi dedicado a'«O Futuro da Cidade de Lisboa», e que teve como convidado o Manuel Salgado? Era? Chiça, um gajo recebe tanta merda no email todos os dias, e as coisas mais importantes ficam por divulgar porque acontece que os seus participantes são poetas, ó caralho. Dá raiva.