quinta-feira, 22 de março de 2007

Lisboa

Hoje, quando cheguei à plataforma de espera da estação da Baixa-Chiado, como habitualmente, reparei num homem, velho, sentado com alguma dignidade, de perna cruzada, naqueles bancos forrados a pedra preta corrida que contrasta com o branco vidrado que inunda toda a estação. Vestia um fato, cinzento, grosso, meio desprocupado mas muito arrumado. Pela pose, pela roupa, pela calma atenta como olhava o metro à hora de ponta percebia-se um modo de estar de outra época, outro tempo. De alguma maneira, e isso é um choque, ele é de facto de outro tempo, que já passou. Não que isso seja um juízo de valor, é apenas uma constatação cronológica. Esse tempo, o dele, que nós conhecemos tão bem, foi de facto o dele, por onde ele passou e deixou marca. Fez parte de uma revolução, mais barulhenta que tranquila, que podemos ver espalhada pelo país. Ainda trabalha, julgo, não sei dizer de cor, mas os seus dias já passaram, já faz parte, e bem, da História. Hoje quase que vi na sua cara essa sensação de dever cumprido. Estava sentado à espera do metro, como todos os outros, o Nuno Teotónio Pereira.