domingo, 11 de março de 2007
Sushi babe
Quando apontaram para a pequena rodela multicolor e disseram «isto é bom, é com delícias do mar e manga», percebi que estava no sítio errado. Aliás, isso foi apenas a gota de água. A verdade é que sempre que vou a um restaurante de sushi sinto-me um peixe fora de água. Agora é moda, é bem, é chique, é moderno, é jovem. O sushi está por todo o lado, em qualquer evento social que se preze, com as suas algas, as suas papas verdes picantes (por Deus que aquilo sabe a Sonasol), o seu peixe cru. O peixe cru até é a única coisa que se safa, sobretudo os gordos, sobretudo o atum, mas mesmo quando seguro o nacozinho de atum entre os meus pauzinhos (hão-de ter um nome qualquer japonês, os cabrões), não deixo de imaginar uma bela grelha em brasa onde o poisaria por uns breves minutos. Sushi não é comida, é entretém. Em Portugal a coisa é mais grave: anos e anos a apurar a mil e uma maneiras de cozinhar o peixe, o nosso bom peixe, para vir agora um bando de brasileiros impingir-nos com o seu sushi elaborado, as suas postas cortadas a frio e enroladas em arroz húmido e algas pretas. O peixe? Oh, variedade: atum, salmão, e o meu favorito «peixe branco». Mas o que é um «peixe branco»? Bacalhau? Adiante. É moda. Como qualquer moda, não faz sentido e é impossível de combater. É uma maré pesadíssima de pessoas bonitas a exclamar «adoro sushi, adoro sushi» a investir contra nós, coitados, impotentes que ficamos a sonhar com o belo do robalo grelhado, regado a azeite, acompanhado por pimentos grelhados e batata cozida, salada de tomate e cebola, vinho branco, sol. E eles continuam, «adoro sushi, adoro sushi», para cima de nós, sem perceber que estão apenas a um passo do ridículo daquele senhor da margem sul que apareceu ontem no Expresso, vestido de preto, com uma saia preta, cabelo comprido e de guitarra ao vento, que fundou a primeira banda portuguesa de rock japonês. Aposto que o Luís Marques do Fogueteiro também gosta de sushi.