terça-feira, 9 de junho de 2009
O Psi 20
Apesar de estar ainda sobressaltado com as mais recentes movimentações eleitorais e o anúncio surpreendente de eleições antecipadas, não deixo de saber apreciar aqueles pequenos momentos da vida em que percebemos que tudo isto vale a pena. Um desses momentos, que se repete quotidianamente, é o relatório radiofónico da abertura da Bolsa e os respectivos movimentos de sobe e desce das acções. Eu não tenho nenhum interesse na Bolsa, entendam, não há nada que me interesse menos do que a cotação da Edifer ou da Novabase - e eu nem sei se a Edifer e a Novabase estão cotadas. Mas tenho muito interesse nesta língua que é a nossa, cheia de encantamentos e deliciosos movimentos de anca que nos seduzem como uma brisa fresca de verão que entra pela janela entreaberta fazendo ondular a cortina que se insinua discreta, suave, leve, como papoilas saltitantes num vasto campo de primavera que recebe o sol como só a natureza sabe fazer, tão pura, tão magnânime, tão ameaçada pelo Homem destruidor e irresponsável, tão bela de tão frágil. E lá estou eu, todas as manhãs, à espera da simpática menina das cotações e ansioso para saber que sinónimos vai ela usar, porque já sei que em oito relatos de sobe e desce os verbos não se vão repetir. E nunca saio desiludido: se a PT «sobe», o BCP «escala»; se a Cimpor «ganha», a Mota Engil «avança»; se a EDP «cresce», a Sonae «adianta-se»; já se a Teixeira Duarte «cai», o BES «tomba»; se a Jerónimo Martins «recua», a Galp «arrefece»; se a EDP Renováveis «perde», a Portucel «baixa». É impossível não acordar bem disposto depois de uma performance assim.