domingo, 13 de setembro de 2009

O debate

Sócrates, mais hábil, controlou o debate: foi introduzindo temas e gráficos e fotocópias sublinhadas como bem entendeu. Mas saiu-lhe o tiro pela culatra: todas as tentativas de confrontar Manuela Ferreira Leite com temas que lhe seriam desconfortáveis revelaram-se oportunidades para um belíssimo desempenho da líder do PSD para explicar o programa do seu partido. Aliás, o debate assemelhou-se a uma aula: Sócrates dizia que não percebia, Manuela explicava. Quando um debate com o primeiro-ministro se transforma no escrutínio do programa eleitoral do partido da oposição por escolha do primeiro-ministro, é sinal de que o primeiro-ministro não está à vontade com aquilo que foi a sua governação. Nas matérias de fundo, Manuela Ferreira Leite mostrou ter uma preparação intelectual sem pararelo em José Sócrates. Sócrates é um produto da política mediática que esconde a sua falta de formação académica e profissional com o talento para uma retória de embalar jornalistas (orgulhar-se de ter posto as contas públicas em dia com a subida de impostos é típico de quem não conseguiu - apesar dos esforços de Manuela Ferreira Leite - perceber a diferença entre «défice» e «endividamento».) Manuela Ferreira Leite não foge a nenhuma questão - e foi isto, paradoxalmente, segundo os «analistas», que a fez perder o debate: para os analistas, «ganhar» o debate significa conseguir manipular a conversa no sentido de a conduzir para os temas que são mais confortáveis. Como eleitor, eu agradeço a Manuela Ferreire Leite o facto de ela fazer exactamente o contrário e com isso tornar claro as suas opções políticas.

O debate de ontem foi esclarecedor. Se Manuela Ferreira Leite ganhar as eleições, teremos um governo que não manipulará a opinião pública e enfrentará todas as questões com sentido de responsabilidade; se José Sócrates ganhasse as eleições, continuaríamos a ter um governo autista e incompetente, que está à vontade com telepontos mas bastante desconfortável com as coisas sérias. Como Manuela Ferreira Leite explicou ontem (ela ela explicou muita coisa), não é o «optimismo» nem o «pessimismo» que criam postos de trabalho, é a crescimento económico. E a frase da noite foi, evidentemente, de Manuela Ferreira Leite: «a política não vem nos catálogos». Sócrates, que tem uma formação académica baseada na cábula e o pensamento político assente em slogans («eu quero modernizar»), não percebeu.