(...) O casamento é a única festa que tem dois lados. Duas tropas, às vezes bastante fandangas. Os do lado dela e os do lado dele. Isso faz com que a boda seja também um constante estudo e enfrentamento. As pessoas exibem status. Exibem esposas troféus. Testam piadas. Comentam cós e alinhavos. Há sempre três casais (geralmente amigos da noiva) cuja relação está colada com cuspo., o que se nota tão penosamente que apetece organizar ali mesmo uma festa de divórcio. Depois, há os engates. Há sempre duas meninas (geralmente amigas da noiva) que têm uns decotes do outro mundo e a quem os amigos solteiros (e alguns casados) perguntam coisas que não lhes interessam nada. Depois, há os tipos que discutem política, e que dizem que a culpa de todo é do Costa Gomes ou do Gomes da Costa. Há os literatos, que recitam Omar Khayyam enquanto debicam azeitonas. Há os cépticos, que repetem o dito segundo o qual uma pessoa na China comunista pode sair de casa mas não do país e uma pessoa casada pode sair do país mas não de casa. Há gente gargalhando a bandeiras despregadas. Há gente com uma expressão obstipada. Clichés sobre a noiva como estava linda e como ela teve muita sorte porque o Rodrigo é uma jóia de moço tão diferente do Vasco que não valia mesmo nada e já anda com uma vadia e fez mesmo sofrer a Joaninha que é amorosa o Vasco tinha era uns olhos verdes muito giros lá isso benza-o Deus. (...)
Pedro Mexia, «As Bodas», Grande Reportagem 247