sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006
Não há Direito
Um conhecido arquitecto da nossa praça tem, por motivos de conveniência mútua, um acordo com outro conhecido arquitecto da nossa praça que os faz trabalhar muito em conjunto. Este primeiro conhecido arquitecto da nossa praça tem muita encomenda, muito trabalho, diz-se (más línguas) que o seu atelier é dos que mais factura no nosso país. O segundo conhecido arquitecto da nossa praça merece uma maior aceitação, melhor, um mais sentido aplauso e reconhecimento da crítica, da nossa e de outras praças mais europeias. No entanto, o volume de pilim que entra nos cofres não é da mesma liga do outro conhecido arquitecto da nossa praça. Decorre desta situação que o (chamemos A ao primeiro, e B ao segundo) arquitecto B paga consideravelmente menos aos seus estagiários do que o arquitecto A. Paga? Pagava. Devido a esta permanente colaboração, os arquitectos (A e B) viram-se na necessidade de nivelar o salário (bom, chamar-lhe salário é uma piada, mas enfim) dos respectivos arquitectos estagiários. Vai daí, chama o arquitecto A os seus estagiários ao gabinete, de manhanzinha, e anuncia-lhes que, devido a uma revisão da política salarial do atelier (ou seja, aproveitando o pretexto da cooperação estratégica), verão a sua remuneração reduzida para 3/5 do que até aí gozavam. Ah, mas não se pense que este acto constituiu uma filha-da-putice: «aqueles que já pagam segurança social» ficaram isentos desta revisão. Como alguém me disse, era serem mulheres-a-dias que isto já não acontecia. Portugal, relembro.