A razão pela qual eu sou um liberal e não um conservador é que não pretendo estender a dúvida para o campo político. A dúvida está lá como modo de vida (fico três semanas para escolher uma cadeira, três meses para desenhar umas escadas, três anos a tentar perceber o que quero fazer na vida, três vidas para perceber se Deus existe), e a tão desejada ambiguidade é o que me move. Mas quando toca à política alto lá e para o baile. Gosto dos gráficos, das certezas, da arrogância que os liberais têm ao ensinarem-nos a maneira liberal de estrelar um ovo. Dá-me segurança, penso, acreditar nos gráficos. Causa consequência, análise económica, racionalização, essas coisas todas. Politicamente, gosto delas, porque acredito que se conseguem atingir resultados, e acredito que é desejável que se atinjam resultados. Talvez pense assim porque não quero ser político, não quero participar no jogo. Quero apenas que uns senhores de gravata me resolvam os problemas para que eu possa continuar a dedicar-me com conforto às dúvidas que valem a pena. Há cinco frases escrevi que me dá segurança acreditar nos gráficos. Não usei o verbo acreditar por acaso: sei que se trata de uma fé como outra qualquer. Apesar de ser uma ideia bonita pensar o contrário, acho que quando se fala de filosofias políticas se fala mais em política e menos em filosofia. Os livros e as prosas são inspiradores, mas quando toca a decisões as coisas surgem na Rua de S. Caetano ou no Largo do Rato, onde a elevação de espírito não me parece estar muito presente. Esta é talvez a minha costela conservadora: a descrença e o pessimismo, a falta de ideais salvíficos. Por isso é que eu recorro à brigada da equação: nos números e nas tabelas sobra pouco espaço para a retórica.
A dúvida existencial é demasiado bela para ser conspurcada pelos aparelhos partidários (ainda que eu não cometa a imprudência de considerar que a política se reduz aos caciques.) Ser liberal ou conservador é, afinal, apenas uma questão política, e isso não interessa assim tanto.