(Começa a crónica brilhante, bla bla, e ao quinto parágrafo:)
A primeira verdade é que tudo é muito complicado. A época é de simplicidades - Gosto / Não Gosto. Arte /Comércio. Vende / Não Vende. Alto / Baixo - mas a verdade é complicada. Para simplificar, as pessoas organizam tudo verticalmente, com Arte em cima e o Comércio em baixo, o Poeta acima da Sopeira, o Arquitecto acima do Carpinteiro, o filme acima da caricatura, et caetera.
O pior é que a verdade é horizontal. O que interessa não é o que a pessoa faz, mas o resultado do que faz. Em última análise, o mundo não se divide em «Superior» e «Inferior», nem em «Qualidade» e «Quantidade», nem em «Arte» e «Comércio». Em última análise, divide-se em «Bom» e «Mau». Quero eu dizer que um bom arquitecto é mais parecido com um bom carpinteiro do que com um mau arquitecto.
(imaginem mais 6 parágrafos brilhantes)
Temos, por exemplo, de reconhecer que há coisas boas de que não gostamos. Eu não gosto dos filmes de Manoel de Oliveira depois da Benilde, mas sei ver que são bons filmes. Também não gosto dos filmes de António Macedo, mas sei que não são bons. Porquê? Tanto me apetece ver o novo Oliveira como o novo Macedo. Isto é, nada. Mas no caso de Oliveira, a culpa é minha. No caso de Macedo, a culpa é dele.
(e são mais 12 parágrafos disto, que eu copiei criteriosamente mas que o blogger não mos aceita por, alega, «superar o nível médio de qualidade esperada para este blogue». Mas vão por mim, é muito bom.)
Miguel Esteves Cardoso, «A Aventura da Modernidade», Último Volume, pags. 173-177