terça-feira, 7 de julho de 2009

Maionese: como é?

Se um dia calhar terem de perguntar a alguém como se faz maionese e essa pessoa começar com a frase «é muito simples», o meu primeiro conselho será: desconfiem. O segundo conselho, and I can't stress this enough, é: anotem bem a lista de ingredientes com especial atenção para as quantidades e confirmem, antes de dar início às hostilidades, que têm tudo em duplicado na despensa. O terceiro conselho é o mais importante: façam tudo com amor. O amor pode ser dispensável em muitas situações mas não na cozinha; na cozinha, o amor é tudo. Por isso dediquem a esta vossa maionese toda a atenção e carinho disponíveis. Demorem-se; falem com os ovos, com o óleo, com o sal, com a pimenta, com o limão, com a Mrs. Bridges Honey Mustard & Champagne. Perguntem-lhes como correu o dia; digam-lhes que estão bonitos. Ponham uma música a tocar, um instrumentalzinho, uma guitarra, o Pata Lenta do Norberto Lobo. Declarem-se!, informem o mundo de que vão fazer maionese. Depois, preparem-se para o pior. Quantas relações frutosas não tiveram que passar por momentos difíceis, momentos em que tudo foi posto em causa e o amor desafiado pelos acidentes próprios do caminho? Não é ao desânimo que se devem entregar; não, o desânimo é a opção dos fracos. O vosso caminho, a vossa glória, será resistir aos primeiros abalos e seguir com confiança na direcção certa. E, para vosso orgulho, sem a ajuda de ninguém. Seria tão fácil, meus irmãos, fazer tudo à primeira. Seria tão fácil se tudo corresse como queríamos logo na primeira tentativa. A vida seria demasiado fácil sem obstáculos que nos fizessem crescer. A glória não vem de nunca cair; a glória vem de sermos capazes de nos levantarmos a cada queda. Como disse uma vez Samuel Beckett sobre o processo de fabrico da maionese: «Ever Tried. Ever Failed. No Matter. Try Again. Fail Again. Fail Better.»

(Ora vamos lá ver então se aquilo já arrefeceu tudo.)